
J� faz mais de cinco anos que a atriz e escritora M�nica Martelli subiu ao palco para apresentar pela primeira vez “Minha vida em Marte”. Concebido como continua��o do sucesso “Os homens s�o de Marte… E � pra l� que eu vou”, o espet�culo avan�a na saga de Fernanda, protagonista vivida pela atriz, que precisa lidar com dilemas do relacionamento conjugal.
Se na primeira pe�a era a dificuldade de encontrar um marido e formar uma fam�lia antes de envelhecer que assombrava Fernanda, desta vez � a crise conjugal e a possibilidade de o relacionamento ruir a qualquer momento que apavora a personagem.
“A pe�a fala de crise”, comenta a atriz. “� uma mulher de 45 anos que est� lutando pelo casamento, procurando respostas para lidar com a crise conjugal.” M�nica assina o texto da montagem, que tem sess�es neste s�bado (20/8) e domingo, no Pal�cio das Artes.
Pandemia mudou a rotina de casais
Ela conta que, ao escrev�-lo, em 2017, partiu de hist�rias pessoais que ocorreram no passado e, precisamente por isso, quando planejou voltar com a montagem, concluiu que seria necess�rio fazer diversas modifica��es no texto, a fim de atualiz�-lo. Contudo, ao reler o que havia escrito, avaliou que o texto seguia atual e tinha at� se ressignificado durante a pandemia.
“A pandemia for�ou os casais a ficarem um de frente para o outro o tempo inteiro. Ent�o, muitos daqueles problemas que eram deixados de lado, jogados para baixo do tapete, vieram � tona agora. O reflexo disso foi o aumento do n�mero de div�rcios nesse per�odo”, afirma.
Ela assegura, entretanto, que n�o h� nada como a din�mica da vida real para manter saud�vel a rela��o. “Esse afastamento tempor�rio um do outro, como sair para trabalhar, fazer uma viagem tamb�m a trabalho, � bom para a rela��o. Isso acaba proporcionando momentos muito bacanas e assuntos para conversar com o parceiro”, aponta.
A atriz cita como exemplo a pr�pria vida. “Quando estou em cartaz, fa�o muitas viagens. A�, ao chegar em casa e encontrar meu namorado, tenho um monte de hist�rias para contar a ele, assim como ele tamb�m tem v�rias coisas para me contar.”
“Minha vida em Marte” almeja traduzir os dilemas de muitas mulheres e provocar a reflex�o sobre como garantir a sobreviv�ncia conjugal e, principalmente, at� que ponto manter determinados relacionamentos � algo saud�vel.
"As mulheres n�o devem suportar tudo para manter o relacionamento. N�s ainda vivemos numa realidade retr�grada. Ainda hoje, muitas mulheres agem apenas para agradar aos homens, refor�ando os estere�tipos de beleza e reafirmando aquela falsa ideia de que, quando a mulher passa dos 50, j� � uma vovozinha”, afirma.
'A pandemia for�ou os casais a ficarem um de frente para o outro o tempo inteiro. Ent�o, muitos daqueles problemas que eram deixados de lado, jogados para baixo do tapete, vieram � tona agora. O reflexo disso foi o aumento do n�mero de div�rcios nesse per�odo'
M�nica Martelli, atriz e escritora
O mon�logo tem dire��o de Susana Garcia, irm� de M�nica. Formada em medicina, ela se enveredou pelo meio art�stico h� alguns anos e firmou parceria com a irm� em 2014, quando codirigiu a adapta��o para o cinema de “Os homens s�o de Marte… E � pra l� que eu vou”, estrelada por M�nica e Paulo Gustavo, morto no ano passado em decorr�ncia da COVID-19.
Em seguida, assumiu a dire��o de “Minha vida em Marte” e sua adapta��o cinematogr�fica, tamb�m estrelada por M�nica e Paulo Gustavo. Agora, retoma a dire��o do espet�culo.
“N�o tem ningu�m melhor para dirigir essa pe�a do que a Susana. Ela conhece a Laura, minha personagem, como ningu�m. Ela sabe da ess�ncia da personagem, o que garante um resultado superbacana no palco”, diz a atriz.
Frio na barriga e adrenalina
Embora tenha estreado “Minha vida em Marte” em 2017, M�nica diz que ainda sente aquele “frio na barriga” antes de subir ao palco. “O teatro � ao vivo. E ele � vivo tamb�m. Tudo pode acontecer ali. Por isso, � uma adrenalina maravilhosa que ele proporciona para a gente”, conta.
Ela parte do princ�pio de que os espectadores que foram assistir � pe�a ainda n�o conhecem a hist�ria de Fernanda e que, por esse motivo, deve entregar a eles o seu melhor.
A g�nese de Fernanda, entretanto, data de 2005. Na �poca com 37 anos, M�nica expressou na personagem hesita��es que ela pr�pria enfrentava na �poca e que eram compartilhadas por muitas mulheres de sua gera��o.
Pensamentos machistas e completamente equivocados de que a mulher tem “prazo de validade” para se casar e ter filhos, ou ent�o que elas devem suportar todos os erros do companheiro, eram fantasmas que atormentavam a atriz.
Ao final de cada apresenta��o, M�nica costuma escutar de espectadoras que a personagem expressa seus medos, inseguran�as e desejos. “Hoje, n�s estamos vivendo um momento em que a discuss�o sobre o machismo est� posta. Estamos falando sobre o assunto e vivendo um per�odo de mudan�as. No entanto, esse � um problema que est� enraizado na sociedade brasileira”, afirma.
Machismo e Simone de Beauvoir
Ela ressalta que, mesmo nascida e criada em uma fam�lia progressista, cuja m�e lia Simone de Beauvoir para ela e os irm�os, o machismo chegou a influenciar seu comportamento.
“Por muito tempo, acreditei naquela ideia de que as mulheres devem ficar � espera de seus pr�ncipes encantados. Aquela coisa meio Cinderela mesmo, onde h� diversas mo�as e o homem escolhe uma. Eu alimentava essa ilus�o. Hoje, j� estou mais para Moana, que corre atr�s do que quer e garante a seguran�a do seu povo”, brinca, em refer�ncia � princesa empoderada da Disney.
A solu��o para a mudan�a de pensamento e de comportamento, de acordo com a atriz, est� na arte. M�nica n�o hesita em afirmar que o contato com a arte transforma as pessoas. “Por ela, � poss�vel conhecer outras culturas, outros lugares e at� mesmo nos conhecer. A arte � fundamental no processo de autoconhecimento. Eu n�o seria a mesma se n�o fosse a arte.”
“MINHA VIDA EM MARTE”
Texto: M�nica Martelli. Dire��o: Susana Garcia. Com M�nica Martelli. No Grande Teatro do Pal�cio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. 31-3236-7400). Neste s�bado (20/8), �s 21h, e domingo (21/8), �s 19h. Ingressos: R$ 130 (plateia 2/inteira) e R$ 100 (plateia superior/inteira). Meia-entrada na forma da lei. � venda na bilheteria do teatro e no site Eventim