Beth�nia abre o cora��o no document�rio 'Maria - Ningu�m sabe quem sou eu'
Cantora fala de artistas que admira e da fam�lia no filme de Carlos Jardim, que tem sess�o de pr�-estreia hoje (30/8) e chega ao circuito na quinta (1/9)
Sozinha no palco, cantora � a estrela do document�rio "Maria - Ningu�m sabe quem sou eu" (foto: Arteplex/divulga��o
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''Est�vamos prontos para come�ar. Eu, nervoso, e ela muito carinhosa e educada, como sempre. Passou a grava��o olhando para mim, e aquele olhar da Beth�nia � muito expressivo, firme e forte. Levei uns bons minutos para me acalmar''
Carlos Jardim, jornalista e diretor
Aproximar-se de um �dolo nem sempre � f�cil. Al�m da quest�o do acesso, o f� tamb�m pode quebrar a cara – descobrir que, de perto, aquele que idealizou n�o � bem quem pensava. “Nunca tive receio, pois escolhi meu �dolo muito bem. Ela � de uma integridade absoluta, intelig�ncia rara, embora tenha fama de dif�cil, mas s� porque faz o que quer e gosta. Isso � o que faz dela uma pessoa leg�tima”, afirma o jornalista Carlos Jardim.
Ela � Maria Beth�nia. Ele, um f� como milhares de outros que a maior cantora brasileira em atividade vem semeando em 76 anos de vida e 57 de carreira. Antes de ser jornalista, Jardim � fan�tico por Maria Beth�nia. S�o 42 anos desde o primeiro show a que o ent�o garoto de 17 assistiu no finado Canec�o, no Rio de Janeiro (era o in�cio de 1980 e ela estreava a turn� do �lbum “Mel”).
Dupla miss�o
Jardim uniu o jornalista e o f� em dois projetos lan�ados simultaneamente. O primeiro � o document�rio “Maria – Ningu�m sabe quem sou eu”, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (1º/9). O longa-metragem, que marca a estreia dele na dire��o, ter� uma s�rie de pr�-estreias pelo pa�s. Nesta ter�a (30/8), ser� exibido �s 20h30 no UNA Cine Belas Artes, na capital mineira. O cinema de rua, vale lembrar, completa hoje seus 30 anos. At� amanh�, haver� 17 sess�es em todo o pa�s – dois mil ingressos j� foram vendidos.
O outro projeto, mais pessoal, � “Ningu�m sabe quem sou eu (a Beth�nia agora sabe!)”, lan�ado pela Editora M�quina de Livros. Em primeira pessoa – e com relatos com sabor de cr�nica bem-humorada –, o autor conta as loucuras que j� fez para se aproximar (e se fazer notar) pela cantora.
Jardim n�o tem a menor ideia de a quantos shows j� assistiu em quatro d�cadas de dedica��o – mas se lembra das in�meras vezes em que foi para a fila do teatro �s cinco da manh� para ser o primeiro a comprar ingressos. Detalhe: a bilheteria s� abria �s 14h.
A partir do mesmo t�tulo – tirado da letra de “Imita��o”, de Batatinha, sambista baiano muito gravado pela cantora –, que muda de sentido em cada um dos projetos, o autor tenta, ao mesmo tempo, decifrar Beth�nia e se aproximar dela.
No filme, Jardim � uma presen�a ausente, pois o document�rio traz a cantora falando de si e de sua trajet�ria por meio de uma entrevista que concedeu a ele. J� no livro, ele � o protagonista.
Devo��o do p�blico a Maria Beth�nia, em imagens raras, ganha destaque no filme de Carlos Jardim (foto: Arteplex/divulga��o)
Jardim encarou desafios
O projeto do longa veio primeiro. Chefe de reda��o da Globonews, Jardim havia assinado alguns projetos no canal pago sobre Beth�nia, o mais importante deles o especial sobre os 70 anos da int�rprete. J� com alguma proximidade com ela – e o aval da Globo Filmes para ir em frente –, conseguiu o OK da artista para o document�rio.
“Era um desafio muito grande, pois h� filmes muito bons sobre Beth�nia (como ‘Fevereiros’, de M�rcio Debellian, de 2017, e ‘Maria Beth�nia – M�sica � perfume’, de Georges Gachot, de 2005). Queria fazer diferente, um filme sem pessoas falando sobre ela, em que s� ela falasse. Seria Beth�nia por Beth�nia”, comenta Jardim.
At� chegar � entrevista, houve grande pesquisa de imagens. Toda a fala da cantora na atualidade � colorida por sequ�ncias de arquivo – a maior delas no palco, dos acervos da Globo e da TV Bahia, afiliada da emissora carioca. “Como conhe�o bem o acervo, orientei os pesquisadores a procurar por determinadas m�sicas e shows. Priorizei imagens de ensaios, pois s�o menos conhecidas.”
Jardim queria que o filme mostrasse a dimens�o que Beth�nia tem para os outros, e n�o somente para ele pr�prio. Selecionou cinco textos – de Caio Fernando Abreu, Ferreira Gullar, Nelson Motta, Reinaldo Jardim e Fauzi Arap –, que foram lidos por Fernanda Montenegro.
A entrevista foi gravada em 24 de novembro de 2021, no teatro do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. A equipe de Beth�nia havia sugerido um lugar com o mar ao fundo. Com o tempo inst�vel na �poca, Jardim escolheu o teatro do hist�rico hotel, que h� pouco havia sido reinaugurado.
Saudades de dona Can� deixam a filha emocionada (foto: Arteplex/divulga��o)
No palco, de sapatos
Durante duas horas, em cima do palco, ela fala sobre m�sica, sobre as pessoas importantes – os pais, dona Can� e seu Zeca Veloso, o irm�o Caetano, Chico Buarque, Nara Le�o, Fauzi Arap –, al�m de Fernando Pessoa, Santo Amaro da Purifica��o e da Bahia.
“Ela n�o chegou ali nada preparada. Elaborou as respostas, estava ali por inteiro”, relembra Jardim. Isso fica claro na maneira como a entrevista � conduzida. H� tempo para Beth�nia elaborar o pensamento, que surge de forma sempre coerente e tamb�m espont�nea. Ela se diz incomodada por estar em cima de um palco de sapatos – apresentar-se descal�a, marca registrada da cantora, � sinal de respeito por estar naquele lugar.
Beth�nia comenta que subir em um palco j� a faz se sentir diferente. Fala com a voz embargada da saudade que sente da m�e – coisas simples, como conversar com dona Can� sobre o que iria comer, lhe fazem falta. Tamb�m n�o v� sentido em se submeter a pl�sticas ou pintar o cabelo – gosta que o tempo se reflita sobre quem ela �.
Comenta a import�ncia que o diretor Fauzi Arap teve para sua carreira. Foi ele quem a levou a se apresentar em teatros, e n�o mais em casas de show. E lamenta n�o t�-lo escolhido para dirigir o espet�culo baseado em “A hora da estrela” (1984), inspirado no livro de Clarice Lispector, que hoje considera um trabalho problem�tico.
O filme traz � tona imagens raras, como os ensaios do show que ela e Chico Buarque fizeram em 1975. Ainda destaca o encontro com Caetano (“mestre do meu barco desde que nasci”) em show em 1978. H� tamb�m imagens atuais, de bastidores, realizadas pelo pr�prio Jardim na apresenta��o de dezembro do ano passado, no Teatro Castro Alves, em Salvador.
Como s�o projetos complementares, Jardim acabou revelando no livro o que passou para fazer o document�rio. Mesmo j� conhecendo Beth�nia – o convite para o filme foi cravado durante encontro na casa dela, em Salvador, em que os dois conversaram por quatro horas tomando cerveja –, Jardim ficou extremamente nervoso no dia da entrevista.
“Estava tudo ligado, est�vamos prontos para come�ar. Eu, nervoso, e ela muito carinhosa e educada, como sempre. Passou a grava��o olhando para mim, e aquele olhar da Beth�nia � muito expressivo, firme e forte. Levei uns bons minutos para me acalmar. Quando terminou, ela se virou para mim e perguntou: ‘Ficou bom, do jeito que voc� queria?’. Isso foi de uma grandeza... Ent�o, n�o tem como n�o amar Beth�nia”, finaliza Jardim.
“MARIA – NINGU�M SABE QUEM SOU EU”
(Brasil, 2022, 100min, de Carlos Jardim) – Nesta ter�a-feira (30/8), pr�-estreia �s 20h30 no UNA Cine Belas Artes. Ingressos: R$ 10. Na quinta-feira (1º/9), o filme estreia no circuito.
(foto: M�quina de livros/reprodu��o)
“NINGU�M SABE QUEM SOU EU (A BETH�NIA AGORA SABE!)”
.De Carlos Jardim
.M�quina de Livros
.128 p�ginas
.R$ 49 (livro)
.R$ 35 (e-book)
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