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Estado de Minas MEM�RIA

Livro aborda hist�ria do Brasil por meio do que os mapas revelam e escondem

'Hist�ria do Brasil em 25 mapas' oferece enfoque in�dito sobre imigra��o, biodiversidade, rela��o com os EUA, Independ�ncia e demarca��o de fronteiras


17/10/2022 04:00 - atualizado 16/10/2022 23:33

reprodução de mapa antigo da provincia do Rio Grande, no Nordeste do país
Mapa buscou "traduzir" as riquezas naturais e a sociedade que se formava na capitania do Rio Grande, que abarcava Rio Grande do Norte e parte do Cear� e da Para�ba (foto: Companhia das Letras/reprodu��o)
Daniel Barbosa
Organizado pelas historiadoras Junia Furtado e Andr�a Dor�, o livro “Hist�ria do Brasil em 25 mapas” (Companhia das Letras), que ser� lan�ado nesta ter�a-feira (18/10), prop�e estudo in�dito sobre o pa�s por meio de registros cartogr�ficos, desde a chegada dos primeiros colonizadores at� os dias atuais.

De um planisf�rio de 1502 a softwares que acompanham via sat�lite o desmatamento na Amaz�nia no s�culo 21, o livro aborda Am�rica portuguesa, Brasil holand�s, Companhia de Jesus, contrabando, revoltas rurais, povos origin�rios, imigra��o, epidemias e ditadura, entre outros temas. Vinte quatro especialistas assinam os textos.

Al�m dos 25 mapas em destaque – ponto de partida para cada an�lise –, s�o recuperadas cartas, charges, desenhos e outros elementos que contribuem para o entendimento do assunto abordado.

Reprodução de mapa do Brasil com fauna e flora do pais criado pelo viajante Carl von Martius
"Tabula geographica Brasiliae", de Carl von Martius, j� mapeava, em 1858, a riqueza da fauna e da flora do pa�s (foto: Companhia das Letras/reprodu��o)

200 anos da Independ�ncia

Junia Furtado conta que foram duas as motiva��es para a obra. Uma delas � a efem�ride dos 200 anos da Independ�ncia. “Achamos o momento apropriado para reflex�es mais amplas sobre a hist�ria do pa�s a partir da quest�o da Independ�ncia, mas pensando desde o Brasil Col�nia”, diz.

A outra motiva��o foi o fato de a cartografia ser �rea de estudo que vem crescendo no pa�s ao longo das �ltimas d�cadas. “Passamos a ter massa cr�tica de pessoas trabalhando nessa �rea, que, no entanto, ainda conta com n�mero pequeno de publica��es. Quisemos dar visibilidade a autores brasileiros que t�m lidado com isso e se destacado no cen�rio internacional”, diz. Entre os convidados h� tamb�m estrangeiros que trabalham com a hist�ria do Brasil.

Para Andr�a Dor�, a cartografia � fonte de pesquisa hist�rica similar a qualquer outra, mas com a diferen�a de carregar certa aura de veracidade, mais dif�cil de desconstruir. “A gente olha um mapa e tem dificuldade de pensar que aquilo n�o � a imagem da realidade”, observa.

Todas as fontes hist�ricas passaram por momentos de questionamento e desconstru��o ao longo do s�culo 20, lembra Andr�a Dor�.

“Isso demorou para chegar na cartografia, essa abordagem tem in�cio somente a partir dos anos 1990. Os mapas se mantiveram como espelhos da realidade. A gente aprendeu a desconstruir muita coisa a partir da d�cada de 1920, a imprensa, a literatura, as charges. Os mapas chegaram mais tarde nesse processo de desconstru��o de fontes hist�ricas”, explica.

A ideia � estudar o mapa pensando no que ele apresenta e tamb�m no que ele esconde e distorce, afirma Junia Furtado, ressaltando que registros cartogr�ficos n�o falam s� sobre o que est� representado neles. Por vezes, dizem mais sobre o que calam – e sil�ncios se tornam eloquentes.

"Isca" para imigrantes

“Mapas n�o s�o neutros, nenhum documento produzido pelo homem � neutro, eles t�m uma linguagem, uma inten��o”, diz a historiadora. Na maioria dos textos, autores tratam n�o s� do que o mapa revela de uma regi�o, mas, antes, do que ele camufla. 
 
Exemplo claro disso � o cap�tulo 15, “Utopias, sil�ncios e ru�nas”, em que o historiador franc�s Laurent Vidal analisa mapa produzido para atrair colonos como imigrantes para o Brasil.

“O mapa apresenta um territ�rio da regi�o Sul, onde a col�nia iria se estabelecer, como �rea vazia, quando, na verdade, era uma terra j� ocupada por ind�genas e posseiros”, diz.

Outro exemplo est� no cap�tulo 19, “Povos que v�m de fora”, abordando a imigra��o entre o final do s�culo 19 e o in�cio do s�culo 20. A fonte de pesquisa � o desenho estampado na capa da revista O Immigrante.

“Ele apresenta lugares por onde os imigrantes chegariam ao Brasil, acentuando elementos que promoveriam a imigra��o: o porto, as estradas de ferro, as estradas de rodagem. Quer dizer, s� mostra o que tem a ver com a modernidade. Mapa � a miniaturiza��o do espa�o. Elementos da realidade s�o levados ali para dentro. Cabe ao cart�grafo a sele��o do que levar e n�o levar para o mapa”, pontua.

Ao comentar o fato de o objeto de estudo no cap�tulo 19 ser o desenho da capa de uma revista, Junia Furtado explica que a an�lise nem sempre � suscitada pelo mapa no sentido cl�ssico, com signos e indica��es. Exemplo disso � a imagem da introdu��o do livro, o desenho de Rugendas em que um grupo de homens est� diante de um mapa pregado na parede.

“N�o d� para ver o que este mapa mostra, mas a ilustra��o trata do momento da Independ�ncia do Brasil. Que vis�o daquele contexto essa imagem nos traz? � um registro pass�vel de abordagem cr�tica”, diz a historiadora.

Charge e imperialismo

No cap�tulo 17, “O Brasil para os norte-americanos”, a an�lise do ge�grafo alem�o J�rn Seemann parte de uma charge sobre a vinda ao Brasil de Theodore Roosevelt, ex-presidente dos EUA, para participar de expedi��o guiada por C�ndido Rondon, no in�cio do s�culo 20.

“A charge mostra Roosevelt apontando para um mapa do Brasil, demonstrando aparente desinteresse pela natureza, algo que esconde todos os interesses imperialistas em rela��o �s Am�ricas”, afirma Junia.

Ela destaca tamb�m que a fonte do estudo sobre a ditadura militar no cap�tulo 24, assinado pela historiadora Helo�sa Starling, � o “mapa mental”, tirado do site Brasil Escola, que conecta imagens e express�es com o per�odo estudado.

“A gente quis mostrar que a linguagem cartogr�fica � muito diversa. Ao longo dos textos, v�rios autores apontam como os mapas mentais podem se apresentar na forma de linguagem escrita ou oral que imprime formato cartogr�fico na cabe�a do receptor. Como, por exemplo, quando te dou indica��es de como chegar na minha casa”, explica.

Os cap�tulos t�m ordem cronol�gica, mas podem ser lidos fora de sequ�ncia, “assim como a hist�ria do Brasil n�o deve ser lida de forma linear”, afirma Junia Furtado. Ela ressalta que a escolha dos mapas e dos temas de cada cap�tulo se deu em via de m�o dupla: ora o mapa levava ao tema, ora o tema levou ao mapa.

O convite aos especialistas se baseou na identifica��o de cada um deles com a abordagem proposta. “Em alguns raros casos, deixamos que o autor indicasse o tema. De resto, a escolha de mapas e temas ficou 98% a nosso crit�rio”, diz.

No caso do messianismo, o tema veio antes do mapa. “Era algo que a gente tinha a ideia de trabalhar, ent�o fomos procurar mapas relativos �s guerras de Canudos e do Contestado.”

Mapa antigo do Brasil mostra as fronteiras do país durante o Brasil colonia
"Mapa dos confins do Brazil com as terras da Coroa de Espanha na America Meridional" antecipou as atuais fronteiras do pa�s (foto: Companhia das Letras/reprodu��o)

Von Martius e o meio ambiente

J� no cap�tulo 14, “Os viajantes e a paisagem natural do Brasil”, assinado pela historiadora Lorelai Kury, o mapa se imp�s. O texto � focado no viajante prussiano Carl von Martius, que veio ao Brasil no s�culo 19 e produziu registro cartogr�fico.

“Queria de qualquer jeito que este mapa entrasse no livro, porque ele permitiria que a gente trabalhasse dois temas importantes”, conta a organizadora.

“Foi o primeiro mapa a dividir o Brasil em biomas: a mata atl�ntica, a caatinga, a floresta tropical. Martius escreveu relatos de viagem em que estuda flora, fauna e costumes etnogr�ficos. A partir disso, a gente poderia refletir tanto sobre as passagens dos viajantes estrangeiros pelo pa�s quanto sobre quest�es ligadas ao meio ambiente”, ressalta.

Situa��o similar ocorre com o Mapa das Cortes, objeto de an�lise de Iris Kantor, no cap�tulo 10. “� o mapa apresentado pelos portugueses no Tratado de Madrid, assinado com os espanh�is em 1750, para propor novas fronteiras para o Brasil, que s�o muito pr�ximas das que o pa�s tem hoje. A forma��o do territ�rio � um aspecto importante que a gente queria tratar”, diz a organizadora.

Al�m da academia

“Hist�ria do Brasil em 25 mapas” foi feito com a preocupa��o de chegar � audi�ncia al�m da esfera acad�mica, afirma Andr�a Dor�. Ela pondera que � complexo encontrar equil�brio entre o p�blico mais amplo e outro, n�o estritamente acad�mico, ligado ao universo da educa��o.

“Ao fazer convites aos autores, orientamos com rela��o a alguns elementos pr�ticos, como evitar palavras que n�o sejam de uso corrente, buscando vocabul�rio mais acess�vel, trabalhar com frases e textos mais curtos. Quando fosse necess�rio usar um conceito espec�fico, que ele viesse acompanhado de explica��o”, explica a organizadora do livro.
 
O volume re�ne os especialistas Andr�a Dor�, Andr� Reyes Novaes, Artur Barcelos, Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno, Camila Loureiro Dias, Carmem M. Rodrigues, Carolina Mart�nez, Daniela MarzolaFialho, Daniel de Souza Le�o Vieira, Denise Moura, Edilene Toledo, Federico Ferretti, Heloisa Murgel Starling, Iris Kantor, Jacqueline Hermann, Jacques Leenhardt, J�rn Seemann, Junia Furtado, Laurent Vidal, Lorelai Kury, Maria de F�tima Costa, Maria do Carmo Andrade Gomes, Regina Horta Duarte e Tiago Bonato.

Capa do livro Historia do Brasil em 25 mapas
(foto: Companhia das Letras/reprodu��o)
“HIST�RIA DO BRASIL EM 25 MAPAS”

• Organiza��o: Andr�a Dor� e Junia Furtado
• Companhia das Letras
• 464 p�ginas
• R$ 169,90
• R$ 49,90 (e-book)


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