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Estado de Minas ESPIRITUALIDADE

Monja Coen lan�a o livro 'Que sementes voc� est� regando?'

Escritora budista trata do presente e da import�ncia de se fazer escolhas em seu novo projeto, fruto de reflex�es durante a pandemia


23/10/2022 04:00 - atualizado 22/10/2022 20:38

Monja Coen olha para a câmera com as mãos em prece
Monja Coen diz que as pessoas "s�o sementes de si mesmas" (foto: Andre Genzo Spinola e Castro/Divulga��o )

''Parece que a caixa de pandora da raiva, do �dio e da intoler�ncia foi aberta. De repente, ficou bonito mentir e ficar com cara de c�nico, ofender, ser preconceituoso, humilhar as pessoas. Mas n�s vamos sobreviver, como sobrevivemos �s guerras, �s pestes, ao regime militar, � Idade M�dia''

Monja Coen, escritora

Acostumada a viajar muito, divulgando os ensinamentos budistas, numa rotina que remonta aos �ltimos 30 anos, Monja Coen de repente se viu trancada em casa, por causa da pandemia. A suspens�o das atividades presenciais fez com que ela mergulhasse em leituras e na escrita de livros. Autora best-seller, ela j� vendeu mais de 300 mil exemplares, somente de t�tulos publicados pela Editora Planeta.

Ao longo dos �ltimos dois anos, foram mais sete obras produzidas. A mais recente delas, que acaba de vir � luz, � “Que sementes voc� est� regando?”, do selo Academia, pertencente � Editora Planeta. Com esse novo trabalho, intrinsecamente ligado ao momento presente, Monja Coen trata, fundamentalmente, de fazer escolhas.

Ela aponta que cada pessoa carrega em si todas as sementes, que se relacionam com a mem�ria ancestral, de milh�es de anos, guardando infinitas possibilidades de ser e estar no mundo.
 
“N�s � que regamos essas sementes, �s vezes inadvertidamente, �s vezes fazendo escolhas. Recebi uma provoca��o, fiquei com a semente da raiva, ent�o posso sair por a� quebrando tudo, brigando, ou posso regar a semente da plena aten��o, abra�ar a raiva e transformar isso numa resposta minha ao mundo”, diz.

Assim como toda sua bibliografia, o novo livro oferece ensinamentos ancorados nos preceitos do zen-budismo. Fundadora da Comunidade Zen-Budista Zendo do Brasil, criada em 2001, Monja Coen fez os votos mon�sticos no Zen Center de Los Angeles, nos Estados Unidos, em 1983. Residiu por oito anos no Mosteiro Feminino de Nagoya, no Jap�o, onde graduou-se como monja especial, habilitada a ministrar aulas de budismo para monges e leigos. Retornou ao Brasil em 1995, como mission�ria da tradi��o S�t� Zensh�.

Ideia de causalidade

O que ela prop�e no livro � que as pessoas s�o sementes de si mesmas, est�o sempre renascendo e por isso cont�m todo o passado e todo o futuro.
 
“Estamos sempre deixando sementes, n�o s� as que escolho plantar, porque eu mesma sou semente. Tem a ver com a ideia de causalidade, que � um ensinamento b�sico do budismo: tudo o que acontece tem uma causa, � uma trama de inter-relacionamento. Perceber isso � o que chamamos de ‘despertar’, e ‘despertar’ � o pr�prio Buda”, pontua.

Alcan�ar essa percep��o pode funcionar como ant�doto para este momento t�o conturbado que o Brasil e o mundo vivem, com as sequelas da pandemia e os cen�rios pol�tico e social atravessados por instabilidades e amea�as. Monja Coen observa que a pandemia tirou as pessoas do eixo e muitas delas ainda n�o conseguiram voltar.

O principal indicativo dessa constata��o � a ansiedade. “As pessoas est�o aflitas, como se precisassem recuperar um tempo perdido. Teve muito div�rcio, muita briga pelo excesso de conviv�ncia. E mesmo agora, com a volta das atividades presenciais, h� um estranhamento, uma condi��o de ansiedade, de impaci�ncia, de nervosismo”, observa.

Sociedade do cansa�o

A autora identifica tamb�m a cobran�a maior das pessoas para consigo mesmas – algo caracter�stico dos tempos atuais e que vem se amplificando de maneira temer�ria. “Estamos mais exigentes conosco e com os outros, o que � um perigo”, diz, evocando o fil�sofo sul-coreano Byung-Chul Han, autor do livro “A sociedade do cansa�o”.

“Exijo muito de mim, porque quero ser excelente, quero fazer o melhor e com isso me torno meu pr�prio algoz, sou meu julgador. Essa condi��o acaba levando � depress�o. Quero produzir, sou capaz de aceitar tudo, capaz de fazer tudo, s� que, de repente, vejo que n�o dou conta de ser aquilo que imaginei que seria, e a� vem a tristeza e a frustra��o”, aponta.

Ela identifica o sentimento de indigna��o social que as pessoas acabam por reproduzir numa esfera �ntima e, com isso, acabam n�o se achando suficientes, capazes de atender �s pr�prias expectativas.
 
“A gente precisa perceber isso e se dar um tempo, ter uma pausa, tirar um momento para n�o fazer nada e n�o se sentir culpado por n�o estar fazendo nada”, diz.

Vida atribulada

Do alto de seus 75 anos, Monja Coen admite que tem uma vida muito atribulada, que acumulou atividades ao longo do tempo, o que se relaciona com o desejo de atender �s pessoas e � dificuldade em dizer n�o.
 
A pausa for�ada pela pandemia lhe trouxe muitas reflex�es e agora ela tenta diminuir o ritmo. “Tenho procurado reduzir as atividades, mas a vida � movimento e transforma��o, n�o d� para ficar lutando contra”, considera.

A atribula��o parece soar contradit�ria com os preceitos do zen-budismo, de recolhimento e introspec��o. A pr�pria Monja Coen ressalta que a palavra zen quer dizer meditar e se relaciona com um processo de autoconhecimento. Ela pondera, no entanto, que esse processo n�o ocorre somente dentro de mosteiros ou em cavernas fechadas – ele est� presente na vida e tem que fazer parte do dia a dia.

“� muito importante a gente sair um pouco da rotina e entrar em processo de introspec��o, mas ningu�m pode ficar na pausa o tempo todo, a gente tem que viver. O processo de medita��o, de autoconhecimento, deve ser na vida di�ria. Eu me reconhe�o na rela��o com o outro, com a natureza. Qual � meu lugar no mundo? O despertar � isso, voc� perceber que n�o � parte do todo, mas o pr�prio todo manifesto; cada um de n�s � o todo manifesto”, destaca.
 

"Exijo muito de mim, porque quero ser excelente, quero fazer o melhor e com isso me torno meu pr�prio algoz, sou meu julgador. Essa condi��o acaba levando � depress�o''

Monja Coen, escritora

 

Passado no jornalismo

Muito do que aprendeu em sua forma��o mon�stica j� estava, de certa forma, indicado no jornalismo – profiss�o que exerceu, trabalhando no “Jornal da Tarde”, nos anos 1970, em S�o Paulo, antes de abra�ar o zen-budismo. Monja Coen se recorda de que n�o era f�cil, pois a timidez atrapalhava e ela se sentia envergonhada ao entrevistar as pessoas.

“At� o dia em que percebi que n�o era eu quem perguntava, era o p�blico que queria saber. Eu n�o era importante, s� tinha que entender o que estava acontecendo. Isso � uma coisa que se trabalha no zen, o ‘eu n�o-eu’. Existe a individualidade, ela � importante, mas est� conectada a tudo o mais. Um monge vietnamita sugere a palavra ‘interser’, porque ‘intersomos’, estamos relacionados a tudo e a todos. Comecei a ter essa percep��o como jornalista”, revela.

Outra li��o importante que levou do jornalismo para a pr�tica budista tem a ver com a investiga��o, com o olhar mais profundo. “N�o somos capazes de ver tudo e entender tudo, mas devemos pelo menos procurar. Isso � algo que se exige no zen e que o jornalismo me apontou como caminho. Tem que haver investiga��o – dos fatos no �mbito do jornalismo e dos nossos sentimentos e pensamentos no budismo”, comenta.

Redes sociais

Monja Coen avalia que o jornalismo cumpre um papel muito importante nos dias atuais, sobretudo no que diz respeito ao combate �s fake news. Ela entende que as redes sociais se constituem numa ferramenta preciosa – para o pr�prio tipo de atividade que desenvolve, por exemplo –, mas tamb�m podem ser usadas para fins perversos.

“Eu uso para dar aulas, para levar as pessoas a refletir, mas tem quem tente manipular a mente das pessoas. Essa linha, muito comum hoje em dia, � perigosa, porque nos afasta da verdade. Buda dizia que aquilo que levava � verdade era o bem, e o que afastava era o mal.” 

Ela diz que tentar afastar as pessoas da verdade � tentar apart�-las dos outros e de si mesmas. “A palavra ‘diabo’ tem sua origem em ‘dois’, o que � dual, o que separa, e o contr�rio disso � o uno, o que tem a ver com unidade. Tem gente agora distribuindo marmita na rua e gente jogando comida fora, porque n�o gostou, e n�o tem sequer a sensibilidade de oferecer para algu�m”, ressalta.

Lado sombrio

As redes sociais escancaram o lado sombrio dos seres humanos, segundo Monja Coen. Ela observa que, diante da profus�o de mensagens e de fake news, pessoas mais sens�veis ficam sujeitas � depress�o e � ansiedade. “Elas acabam deixando de sair na rua, por medo, e o medo � uma forma de controle das sociedades”, diz.

Ao comentar o atual cen�rio pol�tico e social do pa�s, emerge a “Monja Coen modo pistola”, nas palavras da pr�pria. Ela faz uma cr�tica contundente ao falso moralismo que grassa na extrema direita e entre seus seguidores. A condena��o do aborto, a intoler�ncia religiosa, o preconceito racial e contra a comunidade LGBTQIA+, o n�o entendimento da diversidade se alinham com um pensamento ditatorial, aponta.

“Parece que a caixa de pandora da raiva, do �dio e da intoler�ncia foi aberta. De repente, ficou bonito mentir e ficar com cara de c�nico, ofender, ser preconceituoso, humilhar as pessoas. Mas n�s vamos sobreviver, como sobrevivemos �s guerras, �s pestes, ao regime militar, � Idade M�dia, a tantas trag�dias. N�s sobrevivemos a isso tudo, e haver� sobreviventes, mas precisamos minimizar o sofrimento e tentar fazer com que a hist�ria n�o se repita”, diz.

Capa do livro 'Que sementes você está regando?' traz ilustração de flores
(foto: Reprodu��o)
"QUE SEMENTES VOC� EST� REGANDO" 

 Reflex�es zen para cultivar a vida plena 

• De Monja Coen
• Planeta
• 160 p�gs.
• R$ 36,80


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