Agora sem a sombra da pandemia pairando no ar, a Feira Liter�ria de Tiradentes (Fliti) chega � sua terceira edi��o a partir desta quinta-feira (3/11), com uma vasta programa��o que se estende at� o pr�ximo domingo (6/11), na cidade hist�rica mineira. Criada em novembro de 2020 pela produtora carioca Cristina Figueiredo, a Fliti, que teve sua segunda edi��o em outubro do ano passado, vive a expectativa de um p�blico recorde.

Entre as atividades, est�o previstos lan�amentos de livros, com a presen�a de escritores, ilustradores, editoras e livrarias renomadas. Em diferentes espa�os montados na cidade para receber o evento, ser�o realizadas apresenta��es art�sticas e liter�rias, narra��o de hist�rias, espet�culos c�nicos e musicais e bate-papos com autores de Minas Gerais, Rio de Janeiro, S�o Paulo, Bahia, Bras�lia e Rio Grande do Sul.

A edi��o deste ano da Fliti homenageia o escritor, ilustrador e cartunista Ziraldo, que completou 90 anos no �ltimo dia 24. Com a sa�de debilitada, em raz�o de tr�s acidentes vasculares cerebrais sofridos de 2018 para c�, ele n�o comparecer� ao evento. Suas filhas, Daniela Thomas e Fabrizia Pinto; a esposa, M�rcia Martins; e a irm�, Santinha, marcam presen�a, assim como representantes do Instituto Ziraldo, criado em 2018, no Rio de Janeiro.

"Nossa ideia � que a Fliti tenha uma pegada bem l�dica, para tirar essa pecha que existe entre os jovens de que literatura � uma coisa chata, porque voc� � obrigado a ler os livros que o professor manda. Literatura � prazer, ent�o queremos que a feira seja algo estimulante"

Cristina Figueiredo, idealizadora e produtora da Fliti

As celebra��es em torno do artista gr�fico est�o concentradas no Centro Cultural Yves Alves, que abriga a exposi��o “Era uma vez um menino de 90 anos” e onde ser�o apresentadas sess�es de cinema com os longas de fic��o “O Menino Maluquinho – O filme” (1995), de Helv�cio Ratton, e “O Menino Maluquinho – A aventura” (1998), de Fabrizia Pinto e Fernando Meirelles, al�m do document�rio “Ziraldo, era uma vez um menino”, tamb�m dirigido por Fabrizia.

Em conson�ncia com a escolha do homenageado, a edi��o deste ano tem um direcionamento grande para o p�blico infantojuvenil, segundo Cristina Figueiredo. “Teremos um protagonismo das crian�as e adolescentes, s�o 1.140 alunos das escolas p�blicas de Tiradentes – nove municipais e uma estadual – envolvidos em diversas atividades”, diz a idealizadora da Fliti.

Ela destaca que, para esse grupo discente, a Feira j� come�ou. Desde o in�cio desta semana, turmas das institui��es de ensino da cidade t�m sido levadas para assistir aos filmes no audit�rio, com 120 lugares, do Centro Cultural Yves Alves. “Tiradentes � uma cidade de aproximadamente 8.300 habitantes que n�o tem nenhuma livraria e nenhum cinema, ent�o � um p�blico muito carente de acesso a esses bens culturais”, observa.

Por meio de uma a��o viabilizada pelas empresas patrocinadoras do evento, foram distribu�dos vouchers no valor de R$ 25 para todos os alunos da rede p�blica e de R$ 35 para o corpo docente, a fim de que possam comprar livros.

Sobre “Era uma vez um menino de 90 anos”, Cristina diz tratar-se de um recorte da mostra “Terra � vista e p� na lua”, que passou pelo Museu Hist�rico Nacional, no Rio de Janeiro, onde foi inaugurada em novembro do ano passado, com foco na trajet�ria de Ziraldo.

“� uma exposi��o muito l�dica, cheia de adesivos, que permite uma intera��o grande. S�o duas salas do Centro Cultural dedicadas �s hist�rias e personagens de Ziraldo, com destaque para Flicts e para o Menino Maluquinho. Ele � uma figura muito emblem�tica, conhecida no Brasil inteiro, e as comunidades carentes aqui da regi�o que n�o o conhecem ter�o essa oportunidade agora”, diz.

Mesmo diante das dificuldades impostas pela pandemia e pela debilidade das pol�ticas p�blicas voltadas para a cultura, a Fliti vem cumprindo uma trajet�ria de expans�o, conforme observa sua idealizadora. A primeira edi��o contou com um p�blico de 3,6 mil pessoas, que saltou para 8 mil na feira do ano passado. Agora, h� a expectativa de que 20 mil pessoas acompanhem a programa��o ao longo dos quatro dias de evento.

“Por conta da pandemia, nas duas edi��es anteriores t�nhamos os estandes fechados, com circula��o de p�blico limitada. Agora eles est�o abertos, para que a popula��o socialize, entre e saia quando bem entender”, pontua Cristina. Ela destaca, tamb�m, a cria��o de uma segunda arena liter�ria, com 60 lugares, que se soma � principal – ambas montadas no gramado do Sant�ssimo Resort, no Centro Hist�rico de Tiradentes.

No ano passado, foram ocupados 1.500 metros quadrados do gramado; este ano, ser�o 2.500. Nessa �rea, estar�o montados os estandes das 30 editoras convidadas – foram nove na primeira edi��o e 22 na segunda. “Em tr�s anos, triplicamos essa presen�a das editoras. Apesar do crescimento, a gente procura manter um certo car�ter intimista da feira, com a possibilidade do olho no olho”, pontua.

As duas arenas liter�rias v�o receber, al�m de palestras e rodas de conversas, diversas atividades art�sticas. “Nossa ideia � que a Fliti tenha uma pegada bem l�dica, para tirar essa pecha que existe entre os jovens de que literatura � uma coisa chata, porque voc� � obrigado a ler os livros que o professor manda. Literatura � prazer, ent�o queremos que a Feira seja algo estimulante”, aponta, enfatizando que toda a programa��o � gratuita.

Ela diz que, nesse sentido, outra a��o importante, realizada nas duas edi��es anteriores e mantida nesta, � o circuito do �nibus-biblioteca, que j� est� percorrendo as escolas p�blicas da cidade realizando o empr�stimo gratuito de livros.

“Esse � um projeto que j� realizo h� muitos anos no Rio de Janeiro e trouxe para c�, a partir da cria��o da Fliti. Na primeira edi��o, a gente emprestou 168 livros para a popula��o de Tiradentes. No ano passado, foram 428 empr�stimos. Estamos certos de que esses n�meros, que s�o reveladores do sucesso da iniciativa, v�o aumentar nesta terceira edi��o”, afirma.

Cristina considera que s�o v�rios os destaques da programa��o que a Fliti oferece ao p�blico a partir de amanh�. Ela aponta, por exemplo, a presen�a da atriz Beth Goulart, que promove, no s�bado, o lan�amento do livro “Viver � uma arte: Transformando a dor em palavras”, escrito em homenagem � m�e, a tamb�m atriz Nicette Bruno, que morreu em dezembro de 2020, v�tima da COVID-19.

No dia seguinte, o ator Cacau Hygino tamb�m lan�a, em bate-papo com o p�blico, um livro dedicado � atriz: “Nicette Bruno – M�e de todos”. Outro destaque que a idealizadora da feira aponta � o lan�amento do livro “A m�sica de Milton Nascimento”, escrito pelo instrumentista e compositor Chico Amaral, que conversa com o p�blico e apresenta pocket show ao lado de T�lio Mour�o, no s�bado.

Ao longo de todos os dias do evento, ocorrem, na arena liter�ria 2, mesas de debate em que os convidados falam sobre a vida e a obra de Ziraldo. Participam desses encontros Guto Lins, Roger Mello, Jos� Mauro Brant, Ant�nio Gois, Stella Maris Rezende, Ana Raquel e Daniela Thomas, entre outros.

Cristina aponta, ainda, as presen�as dos autores Luciana Savaget, L�o Cunha, Mary Del Priori e Olavo Romano. “Teremos tamb�m algumas palestras mais did�ticas, sobre temas contempor�neos, como a literatura afro-brasileira voltada para crian�as, com a Cidinha da Silva lan�ando o livro ‘A menina linda’. E vamos ter a Joana Penna, ilustradora da s�rie ‘Di�rio de Pilar’, que � muito popular, lan�ando o volume mais recente, ‘Pilar na �ndia’, e ministrando um workshop de ilustra��o para crian�as.”

Ela chama a aten��o, tamb�m, para as participa��es de F�bio Ferrari Porchat, que � pai do humorista F�bio Porchat, lan�ando os livros “A breve e longa vida de Joaquim Concei��o” e “Aurora em dia nublado”; e de Beto Silva, integrante da trupe do Casseta & Planeta, que conversa com o p�blico sobre o humor nos dias atuais e promove o lan�amento do livro “Est�o matando os humoristas”.

“Tamb�m h� muitas atra��es musicais interessantes. Al�m do pocket show de Chico Amaral e T�lio Mour�o, vamos ter uma apresenta��o da Banda Ramalho, celebrando seus 162 anos de tradi��o em Tiradentes, no encerramento da feira”, ressalta.

Com uma programa��o t�o ampla e diversificada, os novos talentos tamb�m encontram espa�o para mostrar seus trabalhos. Na edi��o deste ano, a Fliti lan�ou edital voltado para escritores locais e independentes, que est�o come�ando a carreira. De um total de 79 inscritos, 21 foram chamados para compor as mesas junto aos demais convidados e proporcionar debates em torno da literatura.

“S�o pessoas que n�o t�m editora, mas escrevem e, eventualmente, t�m muita coisa guardada. Elas v�o se conhecer e travar contato com autores renomados e editores, ent�o � uma oportunidade muito interessante de network. Esse edital foi uma a��o muito bacana, que est� sendo bastante elogiada”, diz.

Mesmo antes do in�cio desta terceira edi��o da Fliti, Cristina j� se diz muito satisfeita com a forma como o evento vem caminhando e como foi abra�ado pela cidade. Ela chama a aten��o para a enorme quantidade de hot�is, pousadas, restaurantes e caf�s que entraram como parceiros – praticamente todos da cidade.

“Essa rede de sustenta��o nos permite convidar cada vez mais autores e ilustradores para participarem da Fliti. Na primeira edi��o, foram 36; na segunda, 58, e agora estamos recebendo um total de 102 escritores e ilustradores. Entendo que a feira j� � parte importante do calend�rio cultural de Tiradentes”, diz.

A partir desta quinta-feira (3/11) at� o pr�ximo domingo (6/11), em diferentes espa�os da cidade, com programa��o di�ria e gratuita, das 10h �s 20h. Programa��o completa dispon�vel no site da Fliti