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Estado de Minas ARTES VISUAIS

Escultor do 'Monumento � paz' segue querendo fazer um contraponto � guerra

Autor de diversas outras obras identificadas com espa�os p�blicos em BH, Ricardo Carv�o comemora em 2022 seus 50 anos pesquisa e produ��o nas artes


07/11/2022 04:00 - atualizado 06/11/2022 21:56

De camisa branca e óculos de aros pretos, Ricardo Carvão enquadra o rosto em escultura triangular
Nascido no Par�, Ricardo Carv�o se mudou com a fam�lia para a capital mineira aos 15 anos e fez uma promessa a si mesmo de deixar uma contribui��o perene para a cidade (foto: Luiz Maia/Divulga��o)

"Um colecionador de formas inusitadas, que eu mesmo crio." Assim se define o artista Ricardo Carv�o Levy. Nascido em 1949, em Bel�m (PA), ele se mudou com a fam�lia para a capital mineira, em 1964. Aqui come�ou a desenvolver o que seria uma trajet�ria expressiva, com um trabalho singular de esculturas de grandes propor��es, no qual emprega diferentes materiais. 

Em 2022, Ricardo comemora 50 anos de dedica��o a pesquisas tridimensionais e 40 anos da instala��o de sua primeira obra p�blica, o “Monumento � paz”, na Pra�a do Papa, em BH. Um de seus trabalhos mais celebrados, o monumento � comemorativo da visita do papa Jo�o Paulo II � cidade, ocorrida em 1980. 

N�o � meramente uma composi��o de desenhos geom�tricos. Com dois tri�ngulos e um paralelogramo central, a escultura em a�o, de 24 metros de altura e 92 toneladas, � carregada de significados. 

"Os tri�ngulos formam duas setas. A que se direciona para o c�u � a energia terrena, a f�, e a virada para a terra � a energia celestial, a b�n��o divina. O paralelogramo � a somat�ria das duas energias – entre as setas, ele surge. Com o elo entre f� e b�n��o, nasce a paz", explica. 

� como se a obra, feita por encomenda depois de sele��o em um concurso, do qual participaram Amilcar de Castro, Franz Weissmann e Bruno Giorgi, devolvesse � Serra do Curral e � natureza parte do min�rio dali extra�do. O trabalho � hoje um dos grandes s�mbolos da cidade.

Ap�s visita t�cnica � Pra�a do Papa e conversa entre o artista e a secret�ria de Cultura de Belo Horizonte, Eliane Parreiras, ficou decidido recentemente o in�cio de um projeto de restaura��o do “Monumento � paz”, assim como interven��es para revitaliza��o geral da pra�a.

Na Pra�a da Liberdade, o monumento “Liberdade”, de 1991, � outro marco. Sobre uma base em rocha hematita, o min�rio em estado bruto, se incrusta a escultura em min�rio trabalhado industrial e artisticamente.

A obra foi instalada no espa�o tamb�m depois de vencer um concurso. “Voo”, no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, de 1984, “Monumento do mil�nio”, no Belvedere, 2000, e o “Monumento � vis�o”, no Mirante da Cidade, no Mangabeiras, de 2017, s�o mais exemplos.

Para 2022, as celebra��es da trajet�ria de Ricardo Carv�o Levy na arte ser�o marcadas ainda com a instala��o de sua obra mais atual, o “Monumento � vida”, no Hangar – Centro de Conven��es da Amaz�nia, em sua terra natal, como um presente do governo do Par� � cidade. 

A escultura Monumento à paz, na Praça do Papa
A escultura Monumento � paz, na Pra�a do Papa (foto: Marcelo Sant'Anna/EM/D.A PRESS)

Imers�o

O artista realizou sua primeira exposi��o individual em 1979, apontada pela cr�tica como a melhor exposi��o daquele ano, mas essa hist�ria come�a um pouco antes, no in�cio da d�cada de 1970, quando, durante sete anos, viveu um tempo de imers�o na elabora��o de sua produ��o art�stica que seria, depois, levada a p�blico. 

"Vivemos em um mundo conturbado, somos bombardeados todos os dias por not�cias pesadas, de corrup��o, viol�ncia, guerra. Procurei construir uma obra que fosse um b�lsamo para tudo isso. Que propiciasse momentos de deleite, de paz, de boas energias e contempla��o", diz.

O artista cita sua atra��o pela arquitetura e conta que, antes de prestar vestibular, resolveu conhecer outras culturas. Em 1972, viajou ao M�xico, onde teve contato com a arte pr�-colombiana, pela qual foi profundamente tocado. 

"Quando visitei o Museu Nacional de Antropologia, ficava ali da hora em que abria at� fechar. Chegava perto de uma obra e arrepiava at� as canelas. Comecei a refletir sobre isso. Decidi n�o mais ir para o ambiente acad�mico. Escolhi o aprendizado sobre a forma, mas n�o de maneira convencional, e sim como alimento para o esp�rito." 

Admirado com as cria��es dos astecas, maias e de outros povos das Am�ricas do Norte e Central, nesse ponto, sentiu que seu caminho profissional seria dedicado ao tridimensional, iniciando, ao retornar ao Brasil, um estudo autodidata. Ele acredita que foi a partir dessa incurs�o que decidiu se dedicar de verdade � arte.

Os tri�ngulos formam duas setas. A que se direciona para o c�u � a energia terrena, a f�, e a virada para a terra � a energia celestial, a b�n��o divina. O paralelogramo � a somat�ria das duas energias - entre as setas, ele surge. Com o elo entre f� e b�n��o, nasce a paz

Ricardo Carv�o, escultor


Possibilidades

"Nos anos 1970, quando se pensava em escultura, vinha logo a liga��o com metal, pedra e madeira, os materiais mais usados. Procurei abrir o leque de possibilidades." Por sete anos, se debru�ou em um rigoroso recolhimento sobre a geometria e a matem�tica, concebendo in�meros trabalhos utilizando a sola de couro, procurando valorizar o material inapto e in�spito. 

Chegou a fazer 600 esculturas em couro, entre pe�as de at� 1,2 metro de altura. Realizou ent�o sua primeira exposi��o individual na Grande Galeria do Pal�cio das Artes, em 1979, apresentando 147 cria��es desse conjunto.

Mesmo com o pendor para a originalidade, a partir de um olhar diferenciado para trabalhar o couro, Ricardo percebeu que essas obras se restringiam a ambientes internos, j� que n�o eram resistentes a intemp�ries. 

"Tinha o desejo de ver minhas pe�as ao ar livre, em pra�as, parques, jardins. Que pudessem ser apreciadas por qualquer pessoa, independentemente de classe social ou n�vel cultural. Em museus e galerias, a arte fica restrita", diz. � a� que, ainda em 1979, Ricardo Carv�o encerra o ciclo do couro e d� in�cio aos trabalhos com diversas mat�rias-primas, incluindo a que se tornou a principal at� hoje: o a�o.

Cer�mica

Da inf�ncia, Ricardo Carv�o lembra momentos bons e uma vida saud�vel. Sempre em proximidade com a criatividade t�pica do Norte do Brasil, conviveu com variadas express�es artesanais, perpassando etnias como a marajoara, a tapaj�nica e outras mais – tudo o que podia observar pela cidade, em museus, no in�cio encontrando muito a cer�mica, de geometria sens�vel, como as refer�ncias zoomorfas e antropomorfas. Al�m de releituras de tartarugas, do contato com amuletos, como o sapo muiraquit�, recorda-se tamb�m de uma rica oferta de utens�lios e brinquedos em miriti, uma madeira macia e leve.

Quando chegou a Belo Horizonte, aos 15 anos, foi impactado pela imagem de Aar�o Reis, engenheiro que chefiou a constru��o da capital e que foi seu conterr�neo. Diante do busto colocado na Pra�a Sete, jurou que deixaria algo de importante para o lugar que �quele instante o acolhia.

Na d�cada de 1960, por um tempo procurando ter autonomia, passou a fazer artesanato, o que acabou mais tarde contribuindo para o caminho at� a escultura. Certa vez, recebeu um pedido para produzir uma caixa para ser porta-joias. Quando a entregou para o cliente, ele apontou uma �nica falha: "N�o tem sua assinatura". Em sua opini�o, n�o se tratava de um simples objeto, e sim uma obra de arte.

Desafios

Em outra ocasi�o, enquanto estava em uma livraria em Belo Horizonte, teve um encontro inusitado com Inim� de Paula, que logo se aproximou. “‘Onde voc� comprou essa pe�a?’ me perguntou. Referia-se � minha jaqueta de couro. Disse que eu mesmo havia feito, que era artes�o. Inim� franziu a testa, meio que em ar de reprova��o, e retrucou: essa � uma escultura que se veste”, lembra.

"Gosto muito de desafios, de quebrar regras estabelecidas at� por mim mesmo. Procuro diversificar, n�o me prender a r�tulos ou a um determinado segmento. N�o fazer nada que seja cristalizado", afirma. 

Atualmente, Ricardo Carv�o assina monumentos espalhados pelos quatro cantos, entre pra�as, galerias e museus, e perdeu as contas de quantas pe�as j� fez, entre obras maiores e de dimens�es mais reduzidas. O ponto de partida � enaltecer a energia do material atrav�s da forma.

Ele elabora um trabalho de cunho construtivista, com valoriza��o das formas geom�tricas, submetendo-as a recortes e dobraduras. O acervo surpreende tanto em quantidade como em diversidade. Ricardo Carv�o se considera um artista que diversifica material e/ou estilo e/ou t�cnica.

"Ora utilizo m�quinas sofisticadas, corte a laser, ora o trabalho � rudimentar, sem energia el�trica, com alicate, form�o, tesoura... Muitas vezes, atuo com a�o, alum�nio, cobre, e em outros momentos passo para materiais reutiliz�veis, como uma lata amassada, um recipiente pl�stico, um tubo de PVC, restos de metalurgia, etc.”, cita. 

“Em rela��o a estilos, exploro o abstrato com formas geom�tricas simplesmente, minimalistas, com apenas duas dobras, at� pe�as cheias de detalhes, figurativas, com muitas soldas, muitos cortes. Estudiosos que conheceram meu trabalho j� disseram que parece 12 artistas em um s�.”

Acervo

Estima-se que Ricardo Carv�o seja um dos artistas brasileiros com o maior acervo conservado consigo mesmo. Boa parte das pe�as est� reunida na resid�ncia do artista, em Belo Horizonte. Ali, o espa�o, que carinhosamente chama Ninho, � uma atra��o em particular. 
    
 O artista deposita, dia ap�s dia, nas paredes, no teto, no ch�o, nos m�veis, nos jardins um caleidosc�pio de possibilidades, formas, pesquisas, muitas vezes feitas com objetos cotidianos, como um simples ralador ou uma escova de dentes. "Eu me considero um colecionador de esculturas – as minhas." 

Ricardo Carv�o demonstra gratid�o pelo que conseguiu concretizar e a satisfa��o de ver suas obras espalhadas por v�rios locais da cidade e fora dela. "Tudo fruto de um grande sonho, muita dedica��o e perseveran�a. Para mim, a arte significa vida. � amor."


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