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Estado de Minas CINEMA

Edi��o 2022 do Forumdoc.bh destaca produ��es ind�genas do Norte e do Sul

Festival come�a nesta quinta (10/11) e exibe 65 filmes. Sess�es presenciais ter�o debate com realizadores; 20 t�tulos nacionais estar�o dispon�veis on-line


08/11/2022 04:00 - atualizado 07/11/2022 23:15

Manifestação de pessoas em motocicleta em cena de mato seco em chamas
"Mato seco em chamas", de Adirley Queir�s e Joana Pimenta, � o filme de abertura do festival, em sess�o comentada pelos diretores e a montadora Cristina Amaral (foto: Forumdoc/Divulga��o)

Cada vez mais orientada por m�ltiplos olhares, a produ��o documental no Brasil e no mundo deu um salto ao longo das �ltimas duas d�cadas e meia. Nesse per�odo, o Forumdoc.bh – Festival do Filme Document�rio e Etnogr�fico, F�rum de Antropologia e Cinema, buscou acompanhar e ressaltar essa evolu��o.  Na pr�xima quinta-feira (10/11), o festival abre sua 26ª edi��o, com programa��o que segue at� o dia 20/11.

Passado o momento cr�tico da pandemia, o Forumdoc.bh retorna ao formato presencial, com sess�es no Cine Humberto Mauro e no Cine Santa Tereza. Uma sele��o de 20 filmes da Mostra Contempor�nea Brasileira – a que re�ne o maior n�mero de t�tulos do evento, 35 ao todo – estar� dispon�vel tamb�m no formato on-line.

A programa��o completa conta com a exibi��o de 65 filmes. Al�m da Mostra Contempor�nea Brasileira, as obras est�o divididas entre a Mostra Imagens Ind�genas do Sul e do Norte: Cinemas Yanomami-Inuit e as Sess�es Especiais.

A primeira � composta por 18 t�tulos que prop�em uma conflu�ncia entre os cinemas realizados pelos povos Yanomami, da Amaz�nia; e os Inuit, origin�rios do �rtico. A segunda apresenta 12 t�tulos selecionados por associarem a pesquisa em linguagem documental �s quest�es da atualidade, abordando tem�ticas como as retomadas ind�genas no audiovisual e filmes de car�ter etnogr�fico e pol�tico.

Al�m dessas tr�s mostras, o Forumdoc.br 2022 contempla, em sua programa��o, uma homenagem ao documentarista e cr�tico de cinema franc�s Jean-Louis Comolli – figura intrinsecamente ligada � hist�ria do festival, e a Jean-Luc Godard, diretor que revolucionou a linguagem do cinema e a rela��o entre document�rio e fic��o. Ambos morreram neste ano.

A abertura do Forumdoc.bh 2022, no Cine Humberto Mauro, ser� com a exibi��o comentada do filme “Mato seco em chamas”, coprodu��o entre Brasil e Portugal, dirigida por Adirley Queir�s e Joana Pimenta, com a presen�a dos diretores e da montadora Cristina Amaral.

Outras a��es

A programa��o abarca, ainda, a realiza��o do semin�rio “Imagens ind�genas do Sul e do Norte: cinemas Yanomami-Inuit”;  masterclass com os diretores Sylvain George, Adirley Queir�s e Joana Pimenta, sobre os processos de realiza��o de seus trabalhos mais recentes; e o lan�amento dos livros “Sob os tempos do equin�cio”, de Eduardo G�es Neves, e “O sorriso de Nanook – Ensaios de antropologia e cinema”, de Marcelo Ant�nio Gon�alves.

Organizadora e curadora do Forumdoc.bh, J�nia Torres destaca que a sele��o dos t�tulos que comp�em a programa��o deste ano, bem como a escolha de “Mato seco em chamas” para a sess�o de abertura, se relacionam precisamente com a revolu��o da linguagem cinematogr�fica documental a partir do final dos anos 1990.

“A gente percebe uma esp�cie de apropria��o, uma virada na autoria, com um deslocamento do protagonismo na realiza��o cinematogr�fica no Brasil e no mundo. Trata-se de acompanhar esses sujeitos que est�o produzindo fora dos grandes centros e que v�m se expressar por meio do cinema”, aponta.

Um dos curadores da Mostra Contempor�nea Brasileira, Paulo Maia refor�a que a diversifica��o do cinema documental produzido no pa�s ao longo dos �ltimos 25 anos sempre embasou o Forumdoc.bh e se mostra especialmente potente nesta edi��o.

“� algo que tem a ver com uma retomada dos movimentos sociais, sobretudo o ind�gena, o negro e o LGBTQIA+, que evidenciam que a sociedade brasileira � diversa. Durante muito tempo, a gente conviveu com o mito da democracia racial, que dissolvia essa diversidade – um cen�rio agravado pelo fato de as pol�ticas p�blicas serem voltadas s� para as elites”, afirma.
 

"Voc� construir sua pr�pria imagem � muito mais forte e significativo do que um grupo privilegiado achar que pode registrar e documentar toda a diversidade de um pa�s como o Brasil. A multiplica��o de olhares, de express�es e de formas f�lmicas � que resulta nesse atual cen�rio que o Forumdoc.br pretende mostrar"

J�nia Torres, organizadora do Forumdoc.bh

 

Olhares ind�genas

O curador observa que o cinema ind�gena, incipiente h� 20 anos, hoje est� consolidado, com produ��es inclu�das na programa��o de diversos festivais. Da mesma forma, houveumento expressivo de mostras dedicadas exclusivamente a obras de diretores negros e tamb�m daquelas com foco na diversidade sexual.
 
Maia, que � professor na UFMG, destaca que s�o pontos de vista que estiveram tradicionalmente alijados ao longo do s�culo passado.

“Assim como o Forumdoc.br, a pr�pria universidade espelha um pouco essa diversidade, o que decorre, por exemplo, da ado��o do sistema de cotas. Quando entrei na UFMG, era um ambiente estritamente branco, de classe m�dia. Estamos falando de um festival de filme document�rio e etnogr�fico, ent�o, desde o in�cio, a ideia da diversidade sempre foi central”, ressalta.

O cinema de Adirley Queir�s �, segundo J�nia Torres, exemplar dessa nova configura��o da produ��o de document�rios no Brasil. Ela diz que o Forumdoc.bh acompanha h� muito tempo o trabalho do diretor, cujas obras t�m a Ceil�ndia, 9ª regi�o administrativa do Distrito Federal, como palco principal.

“Mato seco em chamas” representa um outro salto na rela��o do document�rio com a fic��o, segundo a organizadora do Festival. “Ele extrapola e rompe todas essas fronteiras”, diz, destacando o fato de que o filme foi premiado nos principais festivais de cinema document�rio do mundo, como o Cin�ma du R�el, na Fran�a. Tamb�m integrou a programa��o de festivais como o de Berlim, na Alemanha, e o DocLisboa, em Portugal.

“Essas s�o algumas das raz�es que nos fizeram eleger ‘Mato seco em chamas’ como filme de abertura do Festival. Consideramos uma obra revolucion�ria, pela abordagem pol�tica direta, pela linguagem e por tudo o que ela traz de proposi��es”, diz.
 
 

A curadora credita a um conjunto de fatores a possibilidade de diversifica��o do cinema documental brasileiro, mas destaca especialmente as conquistas de grupos historicamente menos assistidos, gra�as a uma conjuntura pol�tica que vem desde a redemocratiza��o do pa�s, ap�s o regime militar. “Esses sujeitos foram criando seus espa�os na sociedade e, naturalmente, na esfera art�stica tamb�m.

J�nia chama a aten��o, ainda, para a quest�o tecnol�gica e material. “Realizadores representantes dos mais diversos grupos passaram a ter acesso aos meios de produ��o cinematogr�fica, de apropria��o de equipamentos, o que tem como resultado uma multiplicidade de formas de fazer. Cinema sempre foi um neg�cio muito caro, muito exclusivista”, observa.
 
esquimós em cena do filme Nanook of the north
''Nanook of the North'', de Robert Flaherty, registra a vida do povo inuit, esquim�s do Canad� (foto: Path� Exchange/reprodu��o)
 

Novas perspectivas

A abertura das universidades, que passaram a absorver um p�blico mais diversificado a partir dos primeiros anos do governo Lula, no in�cio dos anos 2000, tamb�m contribuiu para que uma s�rie de filmes, com novas perspectivas, pudessem ser realizados por estudantes de cinema e tamb�m de outras �reas, como a antropologia, conforme aponta a organizadora do Festival.

“A gente tem com isso um espectro maior de autorrepresenta��o. Voc� construir sua pr�pria imagem � muito mais forte e significativo do que um grupo privilegiado achar que pode registrar e documentar toda a diversidade de um pa�s como o Brasil. A multiplica��o de olhares, de express�es e de formas f�lmicas � que resulta nesse atual cen�rio que o Forumdoc.br pretende mostrar”, destaca.

Ela considera que, atualmente, h� uma revolu��o est�tica que n�o pode mais ser negada. “Hoje ningu�m mais pode se propor a fazer document�rio sem conhecer o cinema ind�gena ou o cinema negro que est� sendo produzido no Brasil. � uma revolu��o est�tica capitaneada pela heterogeneidade de pontos de vista. S�o novas perspectivas.”

A Mostra Imagens Ind�genas do Sul e do Norte: Cinemas Yanomami-Inuit � expressiva do que J�nia diz. Ela observa que os povos do Grande Norte (que n�o se limita ao Canad�) – personificados nos Inuit – e os povos do Sul – personificados nos Yanomami – t�m proposto outros modelos de criar e contar suas hist�rias, levando em conta a sua rela��o com os territ�rios, o fazer coletivo, as tradi��es e o mundo ocidental.

A programa��o inclui o centen�rio filme “Nanook of the North”, de Robert Flaherty, que documenta, justamente, o modo de vida dos Inuit. A obra, al�m de ser a primeira realizada no �rtico, � considerada o cl�ssico inaugural do cinema etnogr�fico.
 
“Agora, quando esse filme est� fazendo 100 anos, a gente v� os Inuit, retratados l� atr�s, fazendo seu pr�prio cinema”, diz, chamando a aten��o para o fato de que s�o superprodu��es, porque contam com financiamento estatal.

Ela diz que a rela��o que a Mostra Imagens Ind�genas do Sul e do Norte: Cinemas Yanomami-Inuit prop�e est� profundamente ligada a um contexto contempor�neo. “Trabalhamos, com essa mostra, as possibilidades de di�logo entre povos que s�o a floresta, que s�o o gelo, porque os modos de vida s�o totalmente relacionados ao ambiente, e que est�o passando por essa cat�strofe da crise clim�tica. A forma como isso atinge e afeta a vida dessas pessoas � documentada por elas mesmas”, sublinha.

Realizadores em BH

Paulo Maia aponta, como grande trunfo desta edi��o do Fordumdoc.bh, o fato de que a maioria dos realizadores das obras que ser�o exibidas vai estar presente. “Em praticamente todas as sess�es a gente procura separar um tempo ao final da proje��o para trocar ideias com os respectivos diretores. A grande expectativa est� em torno dessa retomada da presen�a.”

Ele destaca, tamb�m, que o cat�logo do 26º Forumdoc.bh, repleto de ensaios, ser� disponibilizado gratuitamente impresso e em formato digital, no site do festival. “Os cat�logos do Forumdoc.br s�o publica��es que viraram refer�ncia para o campo da antropologia. S�o fontes de consulta preciosa. Existem teses, disserta��es e monografias escritas a partir dessa mostra”, afirma.

26º FORUMDOC.BH 

Festival do Filme Document�rio e Etnogr�fico, F�rum de Antropologia e Cinema, a partir desta quinta-feira (10/11) at� o dia 20/11, no Cine Humberto Mauro, do Pal�cio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro), Cine Santa Tereza (rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza) e no site https://www.forumdoc.org.br/, onde toda a programa��o pode ser consultada


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