(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas NO RIO DE JANEIRO

Spike Lee celebra vit�ria de Lula e chama Bolsonaro de 'g�ngster'

O diretor esteve no evento Rio Innovation Week, no Rio de Janeiro, e aproveitou a deixa para enaltecer o presidente eleito do pa�s, Luiz In�cio Lula da Silva


13/11/2022 11:40 - atualizado 13/11/2022 11:47

Spike Lee e Lula - montagem
Spike Lee enalteceu a vit�ria de Luiz In�cio Lula da Silva (PT) (foto: REUTERS/Fred Prouser)
A vinda supresa de Spike Lee ao Brasil trovejou no Rio de Janeiro em um dia de sol forte dessa sexta-feira. Ele veio como uma das principais estrelas do evento Rio Innovation Week que, em sua segunda edi��o, procura reunir um n�mero massivo de palestrantes de todo o mundo, de �reas como a biomedicina e a rob�tica, de especialistas em metaverso a artistas pl�sticos.

Ele aproveitou para enaltecer a vit�ria de Lula (PT) nas elei��es deste ano e criticar o atual presidente do pa�s, Jair Bolsonaro (PL). Confira na entrevista mais abaixo.


Mas o que Spike Lee, desejado por todos os festivais de cinema, veio fazer em uma feira onde o tema � mais inova��o que cinema?


No momento ocupado com o relan�amento do seu filme "Malcom X", que completa 30 anos e � restaurada, Spike �, na vida real, um corpo em alta velocidade. N�o perde um segundo com nada. Se n�o est� falando, est� pensando e, invariavelmente, puxando todos em volta para o seu ritmo "sem tempo a perder". O resultado � o segredo deste ser um dos criadores mais inventivos das �ltimas d�cadas.

 

 


Durante sua estada no Rio, o cineasta americano n�o parou um minuto. Fosse na disposi��o para subir em 15 minutos os mais de 700 degraus da comunidade de Santa Marta para reecontrar, 26 anos depois, a est�tua de Michael Jackson instalada onde os dois filmaram parte do videoclipe "They Don't Care About Us" ou em um emocionante encontro com cem jovens alunos negros, cariocas, perif�ricos que fizeram este ano um curso gratuito sobre a obra inteira do do autor.


Jovens f�s choravam e tremeram por fotos e aut�grafos, atendidos com do�ura por Spike, quando ele percebeu ao entender, desta vez ele supreso, o tamanho da refer�ncia que ele � para jovens negros brasileiros —especialmente os que est�o iniciando sua carreira no audiovisual.


Um dos nomes cotados para esse Rio Innovation Week foi o diretor James Cameron, que lan�ar� "Avatar: O Caminho da �gua" em dezembro —mas a curadoria achou mais ousada tentar a presen�a de Lee.


"Al�m de ser uma pessoa dific�lima de trazer para festivais —� a primeira palestra de fato que ele veio fazer no Brasil—, o diretor � uma pessoa mais identificada com a pot�ncia inovadora que pa�ses como o nosso possuem", disse o curador Andr� Weller.


Passamos o dia correndo com Spike Lee pela cidade. O resultado � essa entrevista onde falamos sobre tudo, menos de raios e trov�es em c�us abertos.

 

Bem-vindo de volta ao Brasil.

Um novo Brasil, livre do g�ngster do Bolsonaro e que escolheu Lula, escolheu o amor. Estou muito feliz com isso, principalmente pela quest�o da Amaz�nia, que afeta o planeta inteiro.

 

O senhor vinha realizando, quase dez anos atr�s, um document�rio � respeito do Brasil enquanto pot�ncia, havia entrevistado v�rias personalidades, desde artistas, como Seu Jorge, a pol�ticos como o pr�prio Luiz In�cio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Que fim levou o projeto?

O document�rio se chama "Go, Brazil! Go!" e est� pronto h� anos. Por�m, por problemas jur�dicos dos quais infelizmente n�o posso mencionar, o filme est� engavetado. � uma pena.

 

O Senhor ainda v� o Brasil como pot�ncia?

Olha, o Brasil foi �ltimo pa�s do mundo a abolir a escravid�o. Como nos Estados Unidos, n�o � poss�vel o avan�o de uma sociedade sem que ela encare radicalmente de frente o racismo —problema que estruturou nosso mundo.

Eu ainda fico assustado quando venho ao Brasil, ligo a TV e vejo an�ncios nas revistas onde a maioria das modelos s�o brancas de olhos azuis. Isso se reflete tamb�m na impress�o que tenho sobre o cinema brasileiro, que vem tendo mais representatividade, eu sei, mas ainda me parece pouco, ainda � um est�gio inicial.

 

Aqui no Brasil estamos come�ando a superar a quest�o de filmes e s�ries s� associarem personagens negros � viol�ncia. Nosso filme que vai tentar uma vaga no Oscar, "Marte Um", de Gabriel Martins, � um filme que retrata uma fam�lia preta de classe m�dia baixa por�m com forte la�os afetivos, que lembra o seu filme "Crooklyn", de 1994, escrito por voc� e seus irm�os, uma autobiografia de sua inf�ncia no Brooklyn.

� um de meus filmes favoritos.

 

Quais s�o os outros?

Dif�cil dizer, mas gosto de "Febre da Selva", de 1991, especialmente por conta de uma sequ�ncia onde o personagem do Wesley Snipes entra em uma cracol�ndia de Nova York, � procura do irm�o, ao som de Stevie Wonder. A melhor sequ�ncia de m�sica sincronizada com filmes que j� fiz.

 

O senhor veio ao Brasil para ser um dos principais palestrantes de um evento sobre inova��o. De fato, tudo em sua obra, independente dos eventuais altos e baixos, tem seu grau de inven��o. Desde �ngulos novos, tomadas com duplo dolly, e at� mesmo interfer�ncia gr�fica em todos os cr�ditos dos filmes. O que � inova��o para o senhor?

Inova��o n�o � sin�nimo de atividades feitas com novas tecnologias. Essas podem ser, nas m�os erradas, armas de desinforma��o. Nos EUA, as redes sociais foram usadas pelos perdedores da elei��o para contestar o resultado nas urnas. Aqui no Brasil a mesma coisa tamb�m est� come�ando a acontecer. N�o pode. Dois anos atr�s, Trump usava as redes sociais para negar a Covid-19 e sugerir que as pessoas bebessem desinfetante de pia para se curarem. Inova��o em 2022 � estar atento � informa��o que voc� consome. Inova��o hoje � n�o ser uma pessoa est�pida.

 

Em "Infiltrado na Klan", o senhor ganhou finalmente seu primeiro Oscar. � um filme que, em �ltima inst�ncia, sugere que negros e brancos podem e devem trabalhar juntos na luta antirracista. Voc� homenageia uma jovem branca que na vida real foi morta por radicais de direita americana durante uma passeata antirracista da qual ela participava.

Sem d�vida. Eles querem, eles precisam nos dividir para nos conquistar. Precisam que estejamos separados para que eles prevale�am. Minha convic��o � a contr�ria a isso. Devemos nos unir a qualquer custo.

 

Seu filme mais famoso ainda � "Fa�a a Coisa Certa" (1989), considerado pela cr�tica, hoje, um dos filmes mais importantes da hist�ria do cinema. O que era, naquele filme, afinal, fazer a coisa certa?

A quest�o nunca foi "o que � fazer a coisa certa" e sim "qual personagem fez a coisa certa neste filme". O que procurei foi desenvolver personagens que tomam escolhas diferentes e colocar no colo do espectador a escolha de decidir quem fez a coisa certa. A pol�cia? Quem incendiou a pizzaria? Ao final do filme h� uma frase de Malcom X defendendo a viol�ncia como autodefesa e outra de Martin Luther King, que rejeita a viol�ncia como resposta ao racismo sofrido. Qual dos dois est� fazendo a coisa certa? A escolha tem que ser do espectador. Sen�o n�o h� real transforma��o interna nele.

 

Uma das grandes lendas do mundo do cinema � sobre como o diretor alem�o Wim Wenders se recusou a premiar "Fa�a a Coisa Certa" no Festival de Cannes daquele ano, alegando que o filme era muito perigoso e que poderia incitar viol�ncia popular. Como � sua rela��o com isso hoje?

Isso foi uma quest�o muito simples de racismo e ponto final. Meu amigo, j� morto, Hector Babenco, era parte do j�ri e me confessou que ele e a atriz Sally Field, tamb�m jurada, brigaram muito para que meu filme fosse o escolhido. Mas o alem�o bateu o p� de forma para mim nada suspeita.

 

E como foi a experi�ncia de presidir o j�ri do festival em 2018? O seu j�ri premiou o controverso "Titane", o que te chamou mais aten��o no filme da jovem diretora Julia Ducournau?

Coragem e bravura. Hoje, essas s�o as qualidades que mais admiro em uma pessoa que cria cinema. E quando voc� faz o filme onde uma mulher engravida de um velho cadilac, � sinal que voc� � a pessoa mais corajosa do peda�o.

 

O senhor tamb�m � um dos mais disputados professores de cinema, e h� 20 anos leciona na gradua��o da Universidade de Nova York. � famosa na internet uma lista que o senhor elaborou de filmes obrigat�rios que seus alunos devem ver. A lista surpreende praticamente por ter apenas cl�ssicos do cinema americano.

Essa lista n�o vale h� muito tempo j�. Eu tenho que atualiz�-la. Ainda assim, manter uma boa parte de cl�ssicos nela � fundamental. � preciso conhecer tudo o que foi feito em cinema, as inova��es de formato e linguagem que ocorreram em cada �poca. Nem que seja para depois negar tudo o que se viu e ir por outro caminho.


Em sala de aula o senhor fala um pouco sobre o seu processo criativo? Como ele funciona?

De v�rias maneiras. Em "Fa�a a Coisa Certa", primeiro eu s� tive o t�tulo. Depois, s� sabia que gostaria que o filme se passasse em apenas um dia. Em seguida, decidi que seria no dia mais quente do ano. E assim foi indo.

� algo que vem da inspira��o. Mas isso n�o significa que n�o haja trabalho duro. Uma ideia n�o surge do nada. Ensino que � obrigat�rio exercitar a imagina��o o tempo todo. A cabe�a criando, com disciplina, o tempo inteiro. Costumo comparar com o sinal de wi-fi. Em lugar que n�o pega wi-fi e as antenas est�o quebradas, a imagina��o n�o chega. Ent�o, a cabe�a tem que estar equipada. N�o estou falando de nada novo n�o. John Coltrane em "A Love Supreme", j� dizia isso com seu jazz. Stevie Wonder, Milton Nascimento e Gilberto Gil fazem isso em suas can��es.

 

O senhor � o �nico cineasta do mundo que intitula seus filmes de "joint", um trocadilho com bagulho. Isso se tornou mais uma marca registrada, sua. Mas afinal, como surgiu essa ideia?

"Joint" � uma g�ria para um lugar onde pessoas que querem fazer uma coisa boa se juntarem. � um lugar f�sico, mas tamb�m um lugar metaf�sico. Mas � um lugar. Um universo onde se re�ne um grupo de amigos profissionais que se admiram para fazer um filme. Onde se re�ne uma fam�lia.

 

O senhor tem uma fam�lia e � pai de dois filhos jovens adultos. Lembra da lista de filmes que disse que era necess�ria, nem que seja para neg�-la?

Sei que � controverso, mas � necess�rio enfatizar —� preciso negar o que os pais querem para n�s enquanto carreira de trabalho, especialmente pais pretos. Eles querem o nosso bem, o nosso melhor, mas eles sofreram muito pelo caminho. Esse sofrimento eles, inconscientemente, acham que n�s temos que passar tamb�m. N�o somos mais escravizados. Somos bisnetos de escravizados. Ao mesmo tempo, toda a minha for�a criativa vem dos meus ancestrais, que s�o de Camar�es, na �frica. A minha manifesta��o � a manifesta��o deles.

 

No livro "Black People Invented Everything", ou pessoas pretas inventaram tudo, o jovem historiador Sujan Kumar Dass, diz que povos negros inventaram n�o s� a roda, mas a matem�tica, filosofia, arquitetura, medicina, f�sica. N�o aprendemos isso nas escolas. O que fazer para reestabelecer esse erro que ocorre no mundo inteiro?

As pessoas, at� hoje, preferem acreditar que alien�genas fizeram as pir�mides do Egito, e n�o arquitetos negros. Mas acreditam que a muralha da China, ou qualquer outro grande monumento, tenha sido feito por seres humanos. � preciso n�o ter medo de nomear esta estupidez seletiva pelo que � —racismo. Parece que neste s�culo h� uma disposi��o maior para que este entendimento aconte�a. Para isso acontecer precisamos continuar produzindo, de novos acad�micos a novos artistas. "Pantera Negra: Wakanda para Sempre", do meu amigo Ryan Coogler acabou de estrear e � um lindo filme. "N�o! N�o Olhe!", de meu amigo Jordan Peele, � um dos grandes filmes do ano. � preciso produzir e dar o exemplo.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)