
Quando Zumbi dos Palmares foi assassinado por expedi��o portuguesa, em 20 de novembro de 1695, o ent�o governador da capitania de Pernambuco, onde se encontrava o Quilombo dos Palmares, entre os atuais estados de Alagoas e Pernambuco, mandou que a cabe�a do l�der negro fosse arrancada, salgada e exposta no centro do Recife.
“Determinei que pusessem sua cabe�a em um poste no lugar mais p�blico desta pra�a, para satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e atemorizar os negros que supersticiosamente julgavam Zumbi um imortal”, escreveu o governador Caetano de Melo Castro ao rei de Portugal, Pedro II.
A carta d� a dimens�o do que Zumbi dos Palmares representava em vida. Morto, ele se tornou o imortal que os brancos temiam, s�mbolo da luta dos escravizados brasileiros. Tanto � que a data de sua morte se transformou no Dia Nacional da Consci�ncia Negra, em detrimento do 13 de maio, quando a escravatura foi abolida no pa�s.
A data de hoje � uma forma de lembrar a d�vida hist�rica que o pa�s tem com os negros. Em tr�s s�culos e meio, o Brasil recebeu, sozinho, 40% dos 12,5 milh�es de escravizados mandados � for�a da �frica para a Am�rica, de acordo com dados da Slave Voyages.
Pintura e capoeira
Em Belo Horizonte, o Dia da Nacional da Consci�ncia Negra ser� celebrado por meio de v�rios eventos. O CCBB promove, neste domingo (20/11), a oficina de pintura “Resgatando a arte feminina africana”, ministrada pela artista pl�stica negra Bella N�a, e roda de capoeira com o Coletivo Cultural Angola de Ouro.
“A �frica � um continente, n�o um �nico pa�s”, ressalta Bella, lembrando que h� esta confus�o no senso comum, fazendo com que se ignorem as particularidades de cada pa�s africano.
“Quando penso em arte africana, primeiro estou pensando no corpo preto. Num corpo africano que se manifesta de diversas formas. Seja na dan�a – existem diversas dan�as em cada sociedade africana – quanto no canto e na pintura”, explica a artista.
Em muitas culturas africanas, as mulheres s�o as principais respons�veis pelo desenvolvimento da pintura, informa Bella N�a.
“Em algumas sociedades, quando h� nascimento de alguma crian�a ou morte dos mais velhos, as mulheres levam esses acontecimentos para a pintura. Produ��es muito vivas contam uma hist�ria e est�o conectadas com a comunidade inteira”, explica.

Neocolonialismo cultural
Bella, que estudou na Escola Guignard da Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg), n�o hesita em dizer que a mentalidade colonialista est� presente nos dias atuais. O neocolonialismo faz com que as pessoas considerem inferior tudo o que � origin�rio, afirma.
“Em minha trajet�ria como estudante, sempre me incomodei ao perceber que a arte � vista sob olhar muito euroc�ntrico (no ambiente acad�mico). Quando a gente fala em hist�ria da arte, estamos falando de uma hist�ria da trajet�ria dos pintores europeus”, ressalta.
“N�o que isso n�o seja importante para a hist�ria da arte como um todo. Mas a exclus�o da cria��o africana leva essa arte para o lugar de artesanato, e n�o de produ��o art�stica e cultural, o que, para mim, � uma grande manifesta��o racista.”
Buscando promover a “descoloniza��o”, centros culturais e entidades p�blicas e privadas oferecem programa��o especial neste Dia Nacional da Consci�ncia Negra.

Cortejo no Pal�cio da Liberdade
O projeto Afromineiridades: Diversidade e Cultura Negra em Minas Gerais oferece atividades em diversos espa�os do Circuito Cultural Pra�a da Liberdade, por iniciativa da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e do Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico (Iepha).
�s 9h, haver� oficina de percuss�o e ritmos afro com o grupo mineiro Filhos de Zambi, na sede do Iepha. �s 10h, no Pal�cio da Liberdade, haver� cortejo c�nico-musical comandado por Junia Bertolino e Cia. Baob�.
No BDMG Cultural, feira de artesanato afro-mineiro contar� com produ��es de criadores vindos de Berilo e Cara�, cidades do Vale do Jequitinhonha; de Sabar�, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte; e da Comunidade Quilombola e Apanhadora e Sempre-vivas Raiz, localizada na Serra do Espinha�o, ao Norte do estado.
Na fachada do Espa�o do Conhecimento UFMG, estar� em cartaz, a partir das 18h30, a mostra “Patrim�nio em festa: 200 anos da Festa do Ros�rio de Chapada do Norte”, que remete � tradicional celebra��o afro-brasileira realizada naquela cidade do Vale do Jequitinhonha.
A Secretaria Municipal de Cultura tamb�m preparou programa��o especial este domingo. �s 11h, o Museu Hist�rico Ab�lio Barreto oferece visitas mediadas especiais e a roda de conversa “A origem da cidade de Belo Horizonte e seu passado afrodescendente”.

Cinema em Santa Tereza
No MIS Cine Santa Tereza, haver�, �s 16h30 e �s 18h30, respectivamente, exibi��o dos document�rios “A luta das Auras” (2022), de Marina Ara�jo, sobre a viol�ncia a que mulheres negras, m�es e trabalhadoras pobres s�o submetidas por conta de sua condi��o social, e “Aboli��o” (1988), do diretor Z�zimo Bulbul (1937-2013), sobre a vida do negro no Brasil da d�cada de 1980.
�s 10h deste domingo, o painel “Como podemos contribuir para uma sociedade antirracista?”, com mesas-redondas, rodas de capoeira e blocos de carnaval, ser� promovido pela ONG Kolping Padre Teodoro da Vila Bel�m, localizada no Bairro S�o Salvador, na Regi�o Noroeste de BH.
“O Dia da Consci�ncia Negra � um movimento necess�rio, pois o racismo existe at� hoje. Caso n�o existisse, a gente n�o precisaria ter um dia da consci�ncia”, destaca a artista pl�stica Bella N�a.
Bella faz uma ressalva: “Muitas pessoas que trabalham com a cultura de matriz africana s� conseguem ser convidadas para fazer oficinas, apresentar dan�as e outros espet�culos no Dia da Consci�ncia Negra. Ou seja, em todo o resto do ano, n�o se tem este olhar para a produ��o art�stica de matriz africana. � extremamente importante cultuar a data. Mas por que n�o expandi-la para o restante do ano?”.
Outras atividades ser�o realizadas ao longo deste m�s em espa�os culturais da capital. A mobiliza��o se d� nos 14 centros culturais da cidade, Arquivo P�blico de Belo Horizonte, Centro de Refer�ncia da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado, Escola Livre de Artes Arena da Cultura, Teatro Mar�lia, Espa�o C�nico Yoshifumi Yagi/Teatro Raul Bel�m Machado, Museu Hist�rico Ab�lio Barreto e Museu da Moda de Belo Horizonte. A programa��o completa pode ser conferida nas redes sociais de cada espa�o.

PROGRAMA��O
CCBB
>> 14h – Oficina de pintura “Resgatando a arte feminina africana”, com Bella N�a
>> 17h – Roda de capoeira, com Coletivo Cultural Angola de Ouro
• Pra�a da Liberdade, 450, Funcion�rios
ESPA�O DO CONHECIMENTO UFMG
>> 18h30 – Exibi��o de “Patrim�nio em festa: 200 anos da Festa do Ros�rio da Chapada do Norte”
• Pra�a da Liberdade, 700, Funcion�rios
BDMG CULTURAL
>> 10h �s 15h – Feira de artesanato afro-mineiro
• Rua Bernardo Guimar�es, 1.600, Lourdes
SEDE DO IEPHA
>> 9h – Oficina de percuss�o, com Filhos de Zambi
• Pra�a da Liberdade, 470, Funcion�rios
PAL�CIO DA LIBERDADE
>> 10h – J�nia Bertolino e Cia. Baob�, apresenta��o e cortejo
• Pra�a da Liberdade, Funcion�rios
MUSEU HIST�RICO AB�LIO BARRETO
>> 11h – Roda de conversa “A origem da cidade de Belo Horizonte e seu passado afrodescendente” e visitas mediadas
• Avenida Prudente de Morais, 202, Cidade Jardim
MIS SANTA TEREZA
>> 16h30 – Document�rio “A luta das Auras”, de Marina Ara�jo
>> 18h30 – Filme “Aboli��o”, de Z�zimo Bulbul
• Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza
CENTRO CULTURAL LIBERALINO DE OLIVEIRA
>> 9h �s 22h – La�os da Ancestralidade. Encontro de terreiros, guardas, grupos de capoeira e de samba
• Av. Ant�nio Carlos, 821, dentro do Mercado da Lagoinha
CENTRO CULTURAL USINA DA CULTURA
10h �s 18h – Encontro de saberes de capoeira, com Mestre Niltinho
• Rua Dom Cabral, 765, Ipiranga
CENTRO DE REFER�NCIA LAGOA DO NADO
>> 13h30 �s 16h – Projeto Uai Soul Marquinho, com Marco Rosa
• Rua Ministro Hermenegildo de Barros, 904, Itapo�
KOLPING PADRE TOLEDO
>> 10h – Palestra “Educa��o antirracista – O que �? Como fazer?”, com Cristina Tadielo, Tatiana Pauline Fernandes e Zaira Jesus Pereira, da Casa das Pretas
>> 11h – Palestra “Antirracismo e fam�lias interraciais”, com Rafael Greg�rio e J�nia Soares da Silva
>> 12h – Palestra “Rimada”, com Tamara Franklin
>> 14h30 – Roda de capoeira, com Grupo de Cultura Mineira
>> 15h30 – Bloco Transborda
>> 16h30 – Bloco da L�ngua
• Rua Barbosa, 355, Bairro S�o Salvador