Ovo, Desvio, Boulanger e DoContra s�o os 'filhotes' da Filarm�nica de Minas
Integrantes da orquestra criam grupo que oferece oportunidades a jovens estudantes de m�sica e montam pequenas forma��es para atuar como solistas
Werner Silveira rege a Orquestra Ovo, formada por estudantes de baixa renda da UFMG e Uemg
(foto: Alexandre Rezende/divulga��o
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“Sou artista, preto e LGBTQIA+. Gosto sempre de dizer isso porque minha exist�ncia � um ato pol�tico.” Este � Clayton Silva, de 26 anos, o primeiro de sua fam�lia a estudar na faculdade – graduou-se em m�sica, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Seu instrumento � o violino. N�o conheceu o pai e foi criado pela m�e, que fez faxina, foi cobradora de �nibus e artes�.
A hist�ria de Clayton e de tantos jovens que, como ele, driblaram as estat�sticas s�o parte intr�nseca da Orquestra Ovo – Orquestra de Forma��o e Transforma��o. O projeto iniciado em 2019 por Werner Silveira, percussionista da Filarm�nica de Minas Gerais, promove neste domingo (20/11), �s 17h, o terceiro concerto de sua hist�ria, no Centro Cultural Unimed-BH Minas.
Quarenta jovens instrumentistas, sob a reg�ncia de Silveira, v�o executar as “Bachianas brasileiras nº 9”, de Heitor Villa-Lobos, e “O carnaval dos animais”, de Camille Saint-Sa�ns, com a participa��o dos pianistas convidados J�nia Canton e Heron Alvim.
Clayton Silva, um dos talentos da Ovo, tem orgulho de se dizer'm�sico preto e LGBTQIA+'
(foto: Alexandre Rezende/divulga��o)
Em 17 de dezembro, cerca de 60 musicistas realizar�o mais uma apresenta��o da Ovo, desta vez na Sala Minas Gerais. O “Concerto independ�ncia cultural brasileira: 100 anos”, com repert�rio dedicado a Carlos Gomes, Guerra-Peixe, Alberto Nepomuceno e Villa-Lobos, vai celebrar tr�s datas: o centen�rio da Semana de 1922, o bicenten�rio da Independ�ncia do Brasil e os tr�s anos da pr�pria orquestra.
WhatsApp com 150 nomes
Pois foi tamb�m em 17 de dezembro, e na mesma Sala Minas Gerais, que a Ovo fez sua estreia. Projeto nascido do esfor�o pessoal de Silveira com a colabora��o de v�rios colegas da Filarm�nica, � uma orquestra de forma��o. Os m�sicos trabalham por projeto. Os participantes s�o, em sua grande maioria, jovens de baixa renda que se graduaram ou est�o cursando m�sica na UFMG ou na Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg).
A cada concerto, Silveira entra em contato com interessados – seu grupo de WhatsApp tem 150 nomes. “Tudo � organizado com muita anteced�ncia. Mando o cronograma dos ensaios, anuncio cach�s e envio o repert�rio. E tem o processo de audi��o. Como � orquestra de forma��o, at� o processo de audi��o � uma oportunidade de crescimento.”
Os ensaios ocorrem na sede da Sinf�nica da Pol�cia Militar de Minas Gerais. Clayton, por exemplo, por fazer curso profissionalizante de teatro � noite, n�o est� participando da agenda da Ovo neste ano. Mas esteve ativamente com o grupo em 2021.
Durante a pandemia, foi criado o curso Ovo na Quarentena, s�rie de palestras e aulas on-line. O processo gerou o curta-metragem que ser� lan�ado em breve no YouTube. As hist�rias de Clayton e do fagotista Hudson Rosa, de 32, est�o no centro do document�rio.
Silveira comenta que os integrantes da Ovo t�m, geralmente, tr�s origens: “Eles v�m de fam�lias simples do interior de Minas e come�aram a tocar em corpora��es musicais; s�o da Grande BH e tiveram contato com m�sica por meio de projetos sociais da periferia; ou v�m de igrejas evang�licas, que t�m papel fundamental nessa forma��o.”
O percussionista que virou maestro
A hist�ria de Silveira se encontra com a dos m�sicos a partir de 2018, quando ele come�ou a dar aulas de percuss�o na Sinf�nica de Betim. “Me formei em percuss�o pela UFMG. A reg�ncia foi um sonho desde sempre, mas n�o achava que era capaz. Com 40 anos de idade, aconteceu. Conversando com o M�rcio Miranda (ent�o regente da orquestra), ele me deu a oportunidade de trabalhar (como maestro). Quando terminou o primeiro ensaio, pensei: por que n�o fiz isso antes.? Era para estar naquele lugar h� mais tempo.”
Silveira passou a estudar de forma autodidata. “Com a experi�ncia de m�sico de orquestra h� 20 anos (de 2001 a 2007, na Sinf�nica de Minas Gerais; desde 2008, na Filarm�nica), sempre tive contato com maestros incr�veis. Neste ano, comecei a estudar mais formalmente com o Jos� Soares (regente associado da Filarm�nica), principalmente na parte pr�tica do repert�rio do Ovo. Tem sido um b�lsamo, ele tem me ajudado muito.”
Em 2019, houve problema de patroc�nio e a Sinf�nica de Betim teria de encerrar as atividades. Muito envolvido com as aulas e os alunos, Silveira recebeu a mensagem do pai, dizendo que ele deveria criar uma orquestra.
“Achei que meu pai estava ficando doido, mas conversei com alguns meninos de Betim e eles toparam na hora. Com colegas (da Filarm�nica) tamb�m. Da� comecei a passar o chap�u em empresas para levantar o dinheiro e fazer o primeiro concerto.”
Doze colegas da Filarm�nica atuam como monitores: Tiago Ellwanger (violino), Luciano Gatelli e Mikhail Bugaev (viola), Eduardo Swerts (violoncelo), Rossini Parucci (contrabaixo), C�ssia Lima (flauta), Maria Fernanda Gon�alves (obo�), Marcus Julius Lander (clarinete), Catherine Carignan (fagote), Alma Maria Liebrecht (trompa), Marlon Humphreys (trompete) e Renato Lisboa (trombone e tuba).
Em 2021, Silveira criou o N�cleo de Educa��o Cidad�o, associa��o sem fins lucrativos. “A ideia � de que em longo prazo haja outros projetos educacionais associados � Ovo”, conclui.
CONCERTOS GERDAU
Com a Orquestra Ovo. • Neste domingo (20/11), �s 17h, no Centro Cultural Unimed-BH Minas. • Rua da Bahia, 2.244, Lourdes. • Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). � venda na bilheteria.
Orquestra gerou duo, quarteto e quinteto
. DESVIO
Mesmo tocando em diferentes orquestras e vivendo tamb�m em outras cidades, os percussionistas Rafael Alberto (chefe de naipe na Filarm�nica) e Leonardo Gorosito j� somam 12 anos � frente do Desvio. A �nfase � a percuss�o brasileira. O projeto, cujo nome vem da primeira e �ltima s�labas de “desconstru��o do �bvio”, lan�ou dois �lbuns: “Cancioneiro” (2016) e “Ritmos brasileiros” (2021, com Orquestra Ouro Preto). Atualmente, a dupla est� criando o quarteto Martelo Percussion Group, com Rub�n Z��iga e Danilo Valle.
Leonardo Gorosito e Rafael Alberto formam o duo Desvio, voltado para a percuss�o
(foto: Fernando Lara/divulga��o)
“Manter trabalhos de m�sica de c�mara em paralelo ao trabalho na orquestra � essencial para a manuten��o do artista que mora dentro do instrumentista. � fundamental ter em mente que, na orquestra, desempenhamos uma fun��o integrada ao coletivo, sob a lideran�a do regente, respons�vel pelas concep��es art�sticas e interpretativas das m�sicas. Nos grupos de c�mara, nos apropriamos dessa responsabilidade e assumimos o protagonismo”, comenta Rafael.
. QUARTETO BOULANGER
A violinista Jovana Trifunovic, a violoncelista Lina Radovanovic, a pianista Ayumi Shigeta e a violista Fl�via Motta se conheceram na Filarm�nica. H� cinco anos formaram o grupo de c�mara de m�sica contempor�nea que lan�ou dois �lbuns: “Folhagens” (2017) e “Entre brumas e f�rias” (2022). Esse �ltimo � dedicado a pe�as in�ditas das compositoras Marisa Rezende, Val�ria Bonaf�, Silvia De Lucca, Tatiana Catanzaro e Maria Helena Rosas Fernandes.
Quarteto Boulanger lan�ou dois discos (foto: Alexandre Rezende/divulga��o)
“Para o m�sico de orquestra, a import�ncia de manter o trabalho pessoal com m�sica de c�mara est� muito relacionada ao desenvolvimento t�cnico do instrumento e da performance. Na orquestra, nosso trabalho � realizado em naipes (grupos grandes de instrumentistas) e temos de tocar o mais parecido poss�vel com o colega ao lado. Com o Quarteto Boulanger, cada integrante �, de certa forma, solista. Isso exige outro tipo de intensidade sonora”, afirma Fl�via Motta.
. DOCONTRA
O nome remonta � primeira forma��o do grupo, um quinteto de contrabaixistas integrantes da Filarm�nica. Capitaneada por Neto Bellotto, chefe de naipe, a forma��o nasceu em 2015. O repert�rio � popular, com arranjos de Bellotto para o formato de c�mara. A partir do primeiro registro, um arranjo para “Nascente”, o grupo iniciou a parceria com Fl�vio Venturini que rendeu o �lbum “Para�so” (2019).
Com nova forma��o, todos da Filarm�nica – Gilberto Paganini (viola), Jovana Trifunovic e Valentina Gostilovitch (violinos), Lina Radovanovic (violoncelo) e Rossini Parucci (contrabaixo) –, e Bellotto no viol�o e voz, DoContra trabalha recentemente com repert�rio mineiro.
DoContra vai lan�ar projeto com L� Borges (foto: Jo�o Paulo Sofranz/divulga��o)
Em 21 e 22 de dezembro, o grupo se une � Filarm�nica e a L� Borges em duas apresenta��es na Sala Minas Gerais para celebrar os 50 anos do �lbum “Clube da Esquina” e os 70 de L�. Para 2023 est�o previstas outras datas com Venturini e L�, al�m de novo repert�rio – um dos projetos ser�voltado para a bossa nova.
“� importante existirem grupos com a possibilidade n�o s� de flertar com o que est� sendo produzido hoje, mas de valorizar a hist�ria da m�sica popular brasileira, o que temos feito”, diz Bellotto.
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