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Estado de Minas CINEMA

Tempo e mem�ria s�o os elementos centrais do belo "Aftersun"

As recorda��es de uma viagem em que pai e filha passeiam pela Turquia nos anos 1990 s�o o mote central do filme de Charlotte Wells, em cartaz nos cinemas


05/12/2022 04:00 - atualizado 04/12/2022 19:52

Atores de Aftersun deitados à beira de piscina
As recorda��es de uma viagem em que pai e filha passeiam pela Turquia nos anos 1990 s�o o mote central de "Aftersun", em cartaz nos cinemas (foto: Mubi/Divulga��o)

Como qualquer arte, o cinema � um espa�o de mem�rias, mas h� algo particular na atual frequ�ncia de produ��es que lidam com esse tema. Dos filmes de nostalgia, como "Belfast", aos projetos crepusculares de diretores consagrados, como "O irland�s", o ato de investigar o pr�prio passado deixou de ser efemeridade para virar commodity.

"Aftersun", da estreante Charlotte Wells e premiado na �ltima Mostra de S�o Paulo, � mais um a contribuir com esse cen�rio, ainda que as condi��es se deem em termos distintos.

A come�ar pela frontalidade do exerc�cio. O primeiro plano do filme � a imagem de uma filmadora caseira, mas que se revela projetada em um televisor. Vemos, enfim, pelo reflexo da tela, que algu�m v� aquelas imagens, assim como o p�blico.

A narrativa segue em um formato mais ou menos tradicional, mas j� a� se exp�e o artif�cio da produ��o, que trata de investigar cenas t�o fraturadas quanto as cenas pixeladas na TV – uma continuidade poss�vel apenas no arcabou�o da mem�ria.


O centro das aten��es � a rela��o da pequena Sophie, papel de Frankie Coiro, com o pai, Calum, vivido por Paul Mescal, que em algum ponto dos anos 1990 se re�nem para f�rias em um hotel na regi�o da Turquia. Em certa altura, entendemos que a hist�ria � vista pela perspectiva de uma Sophie j� adulta, que remonta aos eventos da viagem a partir das grava��es e de suas pr�prias recorda��es.

N�o que algo bomb�stico aconte�a em "Aftersun", mas � justo a� que mora a gra�a do longa. � primeira vista, as f�rias de Sophie com Calum s�o corriqueiras como qualquer viagem em fam�lia, das brincadeiras aos atritos. Quem espera grandes acontecimentos pode se frustrar.

Mas como toda boa hist�ria, h� uma tens�o a ser resolvida, e sua identidade move tanto a trama quanto a investiga��o de Sophie. Confunde-se de prop�sito a narrativa com as vis�es da Sophie crian�a e adulta, que vivem momentos de passagem.

Por um lado, ela encara a chegada da adolesc�ncia, com todo o puxa e repuxa cl�ssico entre os novos interesses e a dedica��o ao pai. Por outro, passa por aquilo que seria a grande revela��o do longa, que reorganiza a vis�o do espectador na reta final.

A conjun��o das cenas em pel�cula com as grava��es digitais caseiras refor�a a fragmenta��o do relato feito pela protagonista ao espectador, e � nessa est�tica do desencontro que nasce de vez o longa. O eixo � Calum, e sua presen�a habita a luminosidade da inf�ncia e a melancolia da maturidade.

O mais interessante, por�m, � que o filme trabalha com um mist�rio a n�o ser resolvido. Se Wells preferiu at� o momento se resguardar do debate sobre o projeto ser ou n�o ver�dico, a narrativa revela sozinha que, em algum n�vel, a experi�ncia de Sophie em revisitar o passado espelha a da diretora, que come�ou a escrever o projeto na mesma idade da personagem quando adulta.

"Aftersun" lembra muito "A filha perdida", outro longa recente situado nas praias do Mediterr�neo e que tem na mem�ria um mist�rio. Os filmes existem em polos opostos de uma mesma esfera, mas a obra de Wells se sai melhor que a adapta��o de Elena Ferrante porque se permite � expansividade.

Os elencos denotam isso. Se o tri�ngulo materno organizado por Maggie Gyllenhaal se esvaziava no princ�pio de que Jessie Buckley era apenas a �ncora a explicar tudo por flashbacks, a dire��o de Wells permite a Mescal e Coiro uma intimidade que registra nos pequenos atos a dimens�o d�bia da imagem.

O ator � a melhor parte dessa narrativa de mem�ria. Sua facilidade em transmitir estados de esp�rito pelo corpo molda o personagem de Calum na narrativa, dando pot�ncia a experimentos mais arriscados da dire��o.

"Aftersun" n�o � perfeito. � not�vel o quanto a diretora se esfor�a para sobrecarregar de sentido a narrativa na reta final, buscando preencher o prop�sito vazio. Algumas alegorias tamb�m saem mais tortas que eficientes.

Mas � na passagem de bast�o simb�lica do desfecho que se percebe a for�a do aparato montado, e tudo retorna � primeira cena. "Eu estou fazendo 11 anos e voc� 31", diz Sophie ao pai, enquanto aponta a c�mera. O grande m�rito do filme, enfim, � situar essa verdadeira dist�ncia emocional de pai e filha, sem se render a solu��es de autoajuda. 

“AFTERSUN”
(Reino Unido, EUA, 2022, 102min) Dire��o: Charlotte Wells.Com Paul Mescal, Frankie Coiro e Celia Rowlson-Hall. Classifica��o 16 anos. Em cartaz no Cineart Ponteio (18h50, 21h10), UNA Cine Belas Artes (14h, 18h30) e Centro Cultural Unimed-BH Minas T�nis Clube (18h20).
 


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