
O reencontro aconteceu no �ltimo s�bado (17), pela manh�. N�lida, 85, morreu horas depois, no final da tarde. "Foi uma despedida linda", conta Karla, 63. "Tinha que ver a cara dela quando viu as meninas em cima da cama, botando a patinha em cima do len�ol, fazendo festinha", diz, um pouco emocionada, direto da capital portuguesa, onde cuida do traslado do corpo da ex-presidente da Academia Brasileira de Letras ("Uma burocracia danada").
"As meninas" � como a fiel assistente e amiga da escritora se refere � pinscher Suzy, de 13 anos, e � chihuahua Pilara, de 3. A dupla que foi se despedir da escritora em seu leito de morte � tratada como gente pela fam�lia Pi�on — e n�o se trata de for�a de express�o. Longe disso.
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Antes de morrer, vitima de complica��es de uma cirurgia na ves�cula, N�lida fez constar em seu testamento que as duas s�o as donas dos quatro apartamentos que ela mant�m no mesmo pr�dio, um edif�cio de luxo � beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio.
"Eu que administro tudo mas elas � que s�o as herdeiras de fato", afirma Karla. "Tanto � que l� est� escrito que os apartamentos n�o podem ser vendidos enquanto as meninas estiverem vivas. � a casa delas, propriedade delas".
Filha �nica, sem filhos e sem parentes pr�ximos — exceto por alguns primos na Bahia e outros no Rio —, N�lida preocupou-se em garantir que o padr�o de vida de suas cachorrinhas n�o ir� cair ap�s a sua morte. As duas s�o registradas com o sobrenome da fam�lia — Suzy Pi�on e Pilara Pi�on, esta �ltima batizada em homenagem � bisav� da escritora —, e t�m passaporte europeu.
Fazem check-up completo a cada seis meses e t�m certa sofistica��o gastron�mica. "Elas adoram queijo manchego [espanhol], anchovas e foie gras", cita Karla. "Tudo delas � do bom e do melhor, e vai continuar sendo", garante ela, oficializada como a tutora das cachorras, e herdeira (entre os seres humanos) do patrim�nio e da obra de N�lida, de quem � amiga e assessora pessoal h� 25 anos.
Precavida, a escritora, traduzida em mais de 30 idiomas e com dois pr�mios Jabuti e um Pr�ncipe de Ast�rias de Las Letras na estante, atualizou seu testamento em 2018. Ainda baqueada com a morte de Gravetinho, um pinscher de 11 anos que sucumbiu � pneumonia e a deixou � beira de uma depress�o, N�lida fazia uma viagem de carro com Karla quando se tocou que Suzy, a vi�va do finado Gravetinho (Pilara ainda n�o existia), ficaria �rf� se as duas, toc, toc, toc, morressem juntas num acidente.
Era por isso que n�o viajavam no mesmo avi�o (reza a lenda que William Bonner e F�tima Bernardes agiam da mesma forma quando eram casados), mas s� ali caiu a ficha de que havia a possibilidade de que isso acontecesse numa viagem automobil�stica.
"Ela ent�o chamou o advogado e incluiu no testamento uma terceira pessoa, desde ent�o nomeada para ser a m�e das meninas quando n�s duas morrermos", conta Karla. Quem � essa pessoa, ela n�o diz. "Mas � algu�m que sabe o que a Suzy e a Pilara representavam para a N�lida."
Curiosidade: As cinzas de Gravetinho, guardadas at� hoje no escrit�rio da ex-presidente da ABL, no Rio, ser�o enterradas ao seu lado, no mausol�u da Academia, em data ainda a ser confirmada. Ser� o primeiro cachorro a ter tamanha defer�ncia.