
A escritora nasceu no Rio de Janeiro, em 1937, e morreu em Lisboa, Portugal. Ela era formada em jornalismo e ocupava a cadeira 30 da ABL.
Ruy Castro, um dos imortais da ABL, confirmou a morte de N�lida � "GloboNews". “Viveu em fun��o da literatura, viveu para a literatura, ela foi uma das primeiras mulheres a integrarem a academia e abriu portas para outras (mulheres). A delicadeza � uma marca dela e ainda transparece na obra dela”, disse Castro.
Entrevista com N�lida
No come�o de 2021, a rep�rter Nahima Maciel, do "Correio Braziliense", fez uma entrevista com N�lida. Na ocasi�o, a escritora lan�ava "Um dia chegarei a Sagres" (ap�s ficar 14 anos sem lan�ar um romance). O livro foi o �ltimo romance da escritora.
Na saga narrada por N�lida, Mateus � um homem pobre, filho bastardo criado pelo av� que vai em busca das origens do infante dom Henrique e se revela um apaixonado pelas figuras �picas de Portugal no s�culo 15. Um dia chegarei a Sagres se passa no s�culo 19 e, para encontrar a hist�ria e mergulhar na narrativa, a autora foi morar em Portugal durante um ano.
“Eu tenho uma sensibilidade muito apurada, entendo a analogia das coisas, a analogia enriquece a cria��o liter�ria. Fui em busca das paisagens, dos res�duos de uma l�ngua que eu precisava ouvir, que vinha do s�culo 15, a l�ngua de Cam�es, que foi se implantando no mundo e que ele, Mateus, vai amar no s�culo 19”, conta N�lida.
“Visitei as aldeias e tudo que enriquecia minha imagina��o. O imagin�rio � uma composi��o de todos os saberes. Isso foi extraordin�rio, eu tinha a impress�o que estava convivendo com o infante, que ele me ditava regras sobre seus poderes, da expans�o do imp�rio.”
Foram 14 anos sem um romance, mas N�lida n�o deixou de publicar durante esse tempo. Escreveu tr�s livros de mem�rias — O livro das horas, Una furtiva l�grima e Cora��o andarilho — e um de contos — A camisa do marido. Um dia chegarei a Sagres s� n�o saiu antes por duas raz�es: Gravetinho o c�ozinho da autora, n�o aguentaria a viagem a Portugal e ela estava comprometida com afazeres na ABL.
Quando Gravetinho morreu, em 2017, a escritora se organizou para uma temporada no pa�s de Cam�es. “Eu me preparei para passar um ano em Portugal. Sempre fui uma apaixonada pelos s�culos, sempre li muita hist�ria, ent�o intensifiquei meus estudos entre os s�culos 15 e 19, porque o romance ia se passar no 19 mas tinha uma simbologia intensa no 15, por causa do infante e dos navegantes”, conta.
Enquanto viaja ao encontro do passado, Mateus revela um presente particular: o Portugal rico das grandes descobertas e navega��es agora parecia empobrecido e triste, com aldeias famintas e um atraso em rela��o aos avan�os do resto da Europa. Mas Mateus se d� conta de que, apesar de parecer um miser�vel, � herdeiro de um pa�s povoado por figuras m�ticas, como o infante dom Henrique, quinto filho de dom Jo�o I, conhecido como o navegador, respons�vel por expedi��es que descobriram e povoaram ilhas do Atl�ntico como Madeira e A�ores.
� atr�s dessa ideia de um pa�s �pico e ut�pico que o personagem se aventura com a mesma devo��o destinada a Deus e aos animais, que ele tanto ama.
“Mateus nasceu na margem do rio Minho, entre Portugal e a Gal�cia, numa daquelas aldeias pobre, miser�veis, nas quais a lavoura � penosa, a terra � seca. Ele pensa que est� condenado � mis�ria, que n�o tem salva��o para os camponeses portugueses. E o menino vai se dando conta de que n�o � miser�vel porque nasceu numa terra que tinha her�is, que viveu a odisseia da navega��o, ent�o ele come�a a tecer uma hist�ria dentro dele como se revivesse o infante. A hist�ria toda � em torno disso”, avisa N�lida.