Baseado no livro hom�nimo e ambientado na Primeira Guerra Mundial, filme acompanha grupo de soldados alem�es que se alista sem saber da realidade do campo de batalha
Netflix/Divulga��o
H� filmes que convidam o espectador a assisti-los com um sorriso nos l�bios. E h� filmes que imp�em um n� na garganta. “Nada de novo no front” � desses �ltimos.
Produ��o alem� assinada pelo mineiro (nascido na Esc�cia) Daniel Dreifuss, indicada a nove Oscars e dispon�vel na Netflix, a hist�ria come�a quando a Alemanha j� est� sofrendo enormes baixas nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.
Longe dos campos de batalha, no entanto, o �nimo dos cidad�os � outro. Dispostos a “marchar sobre Paris” como se fossem empreender a grande aventura patri�tica de suas vidas, jovens estudantes alistam-se com entusiasmo e ansiedade pela partida.
Paul (Felix Kammerer) n�o quer ser deixado para tr�s e adultera os pap�is do alistamento para poder se juntar aos colegas nas fileiras de combatentes.
Demora muito pouco para que uma realidade em tudo diferente do que Paul e seus amigos imaginaram os alcance. O caminh�o que os transportaria at� o front � confiscado para socorrer os muitos feridos graves que o hospital de campanha n�o consegue atender.
A partir de seu percurso a p� em dire��o ao inimigo e ao longo de todo o tempo que permanecer�o na guerra, os protagonistas de “Nada de novo no front” perdem, progressivamente, a ingenuidade, a dignidade e a vida.
Exemplar da fartamente representada categoria cinematogr�fica dos dramas de guerra, o t�tulo dirigido por Edward Berger e baseado no livro hom�nimo de Erich Maria Remarque tem uma singularidade que o destaca entre as produ��es sobre o tema.
Desespero
O modo como o filme mergulha na experi�ncia dos jovens soldados, que passam rapidamente da euforia ao desespero, ao se verem presos numa situa��o da qual n�o conseguem mais escapar, d� ao espectador a chance de ter empatia com personagens que, vistos por outro �ngulo, poderiam suscitar restri��es.
Paul e seus amigos n�o s�o mocinhos, nem s�o vil�es. S�o jovens sonhadores que ca�ram numa armadilha de adultos e se descobriram fazendo o papel de pe�es de um jogo com engrenagens muito mais complexas do que poderiam supor.
Outra particularidade de “Nada de novo no front” � que ele n�o evita a fei�ra da guerra e o terror da morte violenta. Ao contr�rio. Desde a cena de abertura, a c�mera enquadra sem pudores corpos dilacerados. E os departamentos de maquiagem e efeitos visuais mostram por que foram amplamente merecidas suas indica��es a uma estatueta.
Submetidos ao frio, � fome e ao medo constantes, os soldados se desumanizam pouco a pouco, at� se sentirem nada mais que “um par de botas carregando um rifle”, como Kat (Albrecht Schuch) se define para Paul.
N�o escapa ao roteiro que o processo de desumaniza��o dos jovens alem�es envolve n�o enxergar os franceses como aquilo que s�o - majoritariamente jovens presos numa guerra, s� que lutando por outro pa�s.
A indiferen�a do Estado-Maior ao massacre das pr�prias tropas e o car�ter s�dico de certos comandantes s�o mostrados em cenas palacianas cercadas de pompa e fartura, num contraste obsceno com a priva��o dos soldados.
Daniel Br�hl (“Adeus, L�nin”, “Bastardos ingl�rios”) faz uma participa��o pequena mas eloquente como o negociador do armist�cio.
Da cumplicidade que se forja no campo de batalha entre o promissor e endinheirado estudante Paul e o sapateiro analfabeto Kat prov�m outra sutil afirma��o do filme - sair vivo de uma guerra n�o � o mesmo que sobreviver a ela.
Juntos na luta at� o �ltimo ano do conflito, Paul e Kat imaginam que ir�o manter-se pr�ximos depois que a paz for decretada e eles puderem novamente se entregar a tarefas do dia a dia. Ambos parecem intuir que j� n�o se encaixariam nas casas e nas fam�lias que deixaram, ou em qualquer outro ambiente cujos habitantes desconhecessem a face da brutalidade que eles viram t�o de perto.
No “front”, a morte chega por diversos caminhos. Pode vir inclusive pelas m�os de civis e at� de uma crian�a, criada e crescida no cultivo do rancor pelos invasores. Nesse aspecto,o filme faz seu alerta sobre o papel insidioso do �dio, como alimento de um ciclo incessante de agress�es que escalam at� se transformarem em conflitos locais e, por vezes, guerras planet�rias. Afinal, enquanto a destrui��o do outro � justificada por raz�es geopol�ticas, n�o h� nada de novo no front.
Com cenas de batalha constru�das para ressaltar o pavor dos combatentes, o longa teve indica��es nas categorias de Maquiagem e Efeitos Visuais
Netflix/Divulga��o
LUTA POR STATUS
“Nada de novo no front” foi indicado na �ltima ter�a-feira (24/1) a nove estatuetas: Melhor Filme, Filme Internacional, Cabelo e Maquiagem, M�sica original, Som, Efeitos Visuais, Roteiro Adaptado, Fotografia e Desenho de Produ��o. Depois de suas cartadas com “Roma” (2018), de Alfonso Cuar�n, que teve 10 indica��es e tr�s vit�rias (Dire��o, Fotografia e Filme Internacional), e “Ataque dos C�es” (2021), de Jane Campion, que teve 12 indica��es e uma vit�ria (Dire��o), esta � a nova chance de a Netflix se ver referendada pelo pr�mio que simboliza o �pice do status na ind�stria do cinema. N�o deixa de ser curioso que a batalha pelos pr�mios desta vez se desenrole no ano em que “Avatar - O caminho da �gua”, a ode de James Cameron ao consumo de filmes na sala escura, compare�a com quatro indica��es e sua avalanche de bilheteria. A cerim�nia de entrega das estatuetas est� marcada para 12 de mar�o e ter� o apresentador Jimmy Kimmel de volta � fun��o de mestre de cerim�nias.
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