Atores Michael B. Jordan e Jonathan Majors se encaram em ringue de boxe em cena do filme Creed 3

Em "Creed 3", Michael B. Jordan (Adonis) e Jonathan Majors (Dame) protagonizam conto moral � moda americana

MGM/divulga��o

A s�rie “Creed” n�o � sobre boxe. Nunca foi. Nem mesmo sobre vencer. � sobre como tornar-se um homem. Da� nos dois primeiros filmes da franquia Rocky Balboa encher a cabe�a do jovem Adonis Creed de bons conselhos. Rocky era o pai substituto de Adonis, j� que o verdadeiro pai, outro lutador famoso, morreu antes que o menino tivesse nascido.

Bem, chegamos a “Creed 3”. Rocky sumiu do mapa; Adonis, vivido por Michael B. Jordan, encerrou a carreira, vive entre ternos, u�sques e uma mans�o em Los Angeles. N�o abandonou as lutas de todo, continua como empres�rio, ou dono de academia, ou ambos. O fato � que a vida de luxo e riqueza o amoleceu.
 

� ent�o que seu passado sombrio da inf�ncia num orfanato retorna, na pessoa de Damian, ou Dame, vivido por Jonathan Majors. Na juventude, Dame era quem aspirava � carreira como lutador e tamb�m quem protegia o jovem Adonis. Mas a� ele ficou preso durante 18 anos.

 

 


Reaparece como amigo, mas n�o t�o amigo assim. Dame carrega todo o ressentimento do mundo. Ele quer retomar a carreira de boxeador de onde parou, quer dizer, do quase nada, e disputar um t�tulo mundial. Abre-se, em suma, a clicheria da “velha amizade”.

De volta ao passado

� gra�as ao ressentido amigo de adolesc�ncia que Creed descobre ter em seu passado algo tenebroso, com o que precisa se entender de uma vez por todas. Apesar dos seus milh�es, ele n�o vai resolver seus problemas num div� de psicanalista. Sua m�e – e nova conselheira – n�o vai ajud�-lo, por mais de um motivo – entre eles o fato de morrer a horas tantas. A mulher tampouco lhe serve nessa hora.

Adonis Creed descobre ent�o que, apesar de toda luta, de todos os conselhos que recebeu, ainda n�o se conhece. Ainda n�o enfrentou o pior inimigo, seu passado. Para isso ter� de deixar a boa vida e o oba-oba de ex-campe�o e voltar � luta.

Como se v�, “Creed 3” � um conto moral � maneira de mais ou menos todo o cinema cl�ssico estadunidense. N�o por acaso, ali�s, num momento de al�vio ele vai urrar, sozinho. No plano seguinte vemos que est� diante do c�lebre letreiro alusivo a Hollywood. Nada muito original.
 

O que dizer a seu favor? As cenas de luta est�o bem. S� lhes falta a tens�o emocional dos bons filmes em que o boxe � o sujeito – como “Menina de ouro”, de Clint Eastwood, em que as sequ�ncias de luta s�o, por sinal, meio sum�rias. Jonathan Majors � um �timo tipo para fazer o for�udo e por vezes assustador Damian.

Por fim, B. Jordan tem o bom senso de n�o transformar “Creed 3” em uma par�bola da Guerra Fria 2.0 que ora op�e EUA � R�ssia (e � China), como Sylvester Stallone fez com seu “Rocky 3” e a Guerra Fria original. Vale dizer que, tirando o pessoal do Pent�gono, ningu�m mais aguenta esse papo.

Adonis, o sobrevivente

Se Rocky era um lutador, como dizia o t�tulo do filme original, Adonis Creed � um sobrevivente, algu�m que s� pode existir plenamente se superar os in�meros obst�culos que surgem � sua frente ou, como no caso deste terceiro exemplar, aparecem atr�s de si, irrompendo do passado.

Esse novo “gentleman” do ringue parece que, pela idade, ter� enfim sossegado o esp�rito e poder� desfrutar da boa vida. Se Deus quiser, ser� assim.

Mas, aten��o: sua jovem filha j� est� apaixonada pelos socos, pela briga, pelo ringue. Nada impede que um “Creed 4” venha a ser tamb�m um filme no feminino. E ent�o come�a tudo outra vez.

“CREED 3”

EUA, 2023. Dire��o de Michael B. Jordan. Com Michael B. Jordan, Jonathan Majors e Tessa Thompson. Ex-campe�o de boxe, Adonis Creed reencontra o amigo de inf�ncia Damian, rec�m-sa�do da pris�o, e se v� obrigado a acertar contas com o passado. Em cartaz nas redes Cinemark, Cineart e Cin�polis. Classifica��o: 12 anos.