Personagens Rémi (Gustav De Waele) e Léo (Eden Dambrine) em cena numa plantação de flores do filme  'Close'

Hist�ria de R�mi (Gustav De Waele) e L�o (Eden Dambrine) disputa o Oscar de melhor filme internacional

Mubi/divulga��o

"Close" pode ser chamado de muitas coisas, menos de propaganda enganosa. O longa leva o t�tulo ao p� da letra, filmando os personagens de uma dist�ncia pr�xima. Essa posi��o da c�mera, na linguagem cinematogr�fica, � definida como close.

A decis�o n�o � um mero capricho, ainda que a produ��o pratique isso em excesso. O filme foca na amizade de duas crian�as, L�o e R�mi, que passam os dias brincando nas planta��es onde os pais trabalham. 

A intimidade dos dois, que chegam a dividir a cama, instiga a narrativa a se manter colada em seus rostos, mesmo que a regi�o rural da B�lgica tenha l� sua cota de belas paisagens.

Mas � a forma como esses planos levam a vis�o de mundo daqueles garotos que parece chamar a aten��o do diretor Lukas Dhont. O universo ao qual o espectador tem acesso � apenas aquele que eles conhecem, da mesa na casa dos pais, onde brincam com o almo�o, aos esconderijos do campo, tornados em espa�os de fantasia e confid�ncias.

Escola: o inferno

� uma proposta que vai ficando interessante conforme a hist�ria avan�a. De volta �s aulas, os dois garotos de repente se veem motivo de piada entre os colegas de classe, justamente por suas demonstra��es de carinho.

A situa��o n�o � bem resolvida por eles, que processam o estranhamento da turma de maneiras diferentes. Enquanto R�mi, mais fr�gil, busca dist�ncia do bullying; L�o tenta se enturmar, e rejeita o amigo no ambiente escolar.

O desconforto passa do col�gio para outros ambientes e, em determinado momento, L�o decide que n�o quer mais dormir na mesma cama que R�mi. Os amigos n�o tardam a brigar, inclusive, fisicamente.
 
 

O encaminhamento da trama, escrita por Dhont e Angelo Tijssens, lembra muito o de "Girl", longa anterior da dupla. 

Os dois filmes prezam pela manifesta��o de um cotidiano sufocante, mesmo quando situado em um cen�rio de boas condi��es econ�micas. S�o hist�rias de jovens, condenados a uma l�gica de mundo que os questiona pela normatividade social.

Em "Girl', uma garota trans sonha em ser bailarina.O filme, por�m, n�o soube abordar a disforia de g�nero da personagem e parecia estar em uma luta constante.

"Close", por sua vez, est� livre para tratar da suposta malignidade dos ritos sociais. 

No lugar do corpo como analogia, aproxima o p�blico do personagem, e o desconforto crescente � melhor colocado.
 
Nesse sentido, o novo trabalho pode ser um avan�o a Dhont, bem mais confort�vel para trabalhar esse tema a partir de L�o e de sua rela��o com R�mi.

Mas esse racioc�nio estanca no est�gio do promissor. L� pela metade do filme, a hist�ria passa por uma trag�dia envolvendo as crian�as, e a dor deixa de ser subjetiva. Descobrimos L�o como verdadeiro protagonista, e a trama do fim da rela��o busca novo sentido.
 

Clich�s e sucesso

A troca de marcha faz muito mal ao filme. � como se ele desistisse de todos os valores e aderisse a um livro de clich�s que fazem sucesso nos principais festivais. A c�mera fica ainda mais solta, imitando o cinema celebrado dos irm�os Dardenne, e o sofrimento ganha corpo em temas acomodados, nas dores do luto e da solid�o.

Dhont n�o est� errado em apelar. "Close" n�o s� recebeu o Grande Pr�mio do J�ri de Cannes, como acabou indicado ao Oscar de filme internacional. S�o duas m�tricas de grande sucesso para o circuito, que j� havia agraciado o diretor com a C�mera de Ouro de Cannes por "Girl".

Mas o sufocamento deixa de ser a proposta para virar condi��o do filme e o jogo de sutilezas � sacrificado. A sensa��o final � de se dar voltas eternas na hist�ria, sem chegar a lugar algum.
 
Resta a d�vida da primeira parte, que sugere uma natureza amb�gua � rela��o de L�o e R�mi. 
Seria uma paix�o ou uma amizade, afinal? O diretor n�o responde isso, seja no pr�prio filme ou nas entrevistas.

� uma decis�o boa – o mist�rio d� ao longa um significado maior, mesmo que ele n�o o tenha.

Um dos poucos m�ritos de "Close" est� nessa falta da solu��o. A trag�dia n�o � vis�vel, como Dhont quer, e o p�blico entendeu isso depois de duas horas encostado nos personagens. 

“CLOSE”

B�lgica/Holanda, 2022. Dire��o de Lukas Dhont. Com Eden Dambrine, Gustav De Waele, �milie Dequenne , L�a Drucker. Em cartaz no Ponteio Lar Shopping (Rodovia BR 356, 2.500), sala 4. �s 19h10.