S�rie revela a jornada de irm�s trans mineiras para mudar de sexo

“Sabia que existe uma cirurgia que tira o pipiu e coloca pepeca?” Mayla Phoebe, de 21 anos, tinha 10 quando ouviu a irm� mais velha fazer esse coment�rio. Estava dentro do carro, em Ouril�ndia do Norte, interior do Par�, voltando do culto da Congrega��o Crist� do Brasil com a fam�lia. Na mesma hora, ela lembra, o pai, um devoto, retrucou: “Mas n�o � de Deus”.

Mayla conta hoje essa hist�ria para mostrar como ela e a irm� g�mea, Sofia Albuquerck, descobriram que uma cirurgia poderia lhes dar o corpo com o qual sonhavam. Em fevereiro de 2021, as duas, ent�o com

19 anos, se tornaram as primeiras g�meas (e tamb�m as pessoas mais jovens do mundo) a realizarem juntas a cirurgia de redesigna��o sexual.

A jornada da dupla est� em “G�meas trans – Uma nova vida”, s�rie documental em seis epis�dios. Os tr�s primeiros est�o dispon�veis nas plataformas HBO Max e Discovery+. Os tr�s �ltimos estreiam na pr�xima quinta-feira (8/6).

 

 

Mayla e Sofia s�o mineiras de Tapira, pequena cidade de 4 mil habitantes distante 50 quil�metros de Arax�. De fam�lia humilde, desde muito pequenas tinham “os mesmos sentimentos perante o corpo”, conta Sofia. “A gente tentou at� cortar (o �rg�o sexual masculino) at� descobrir que precisaria daquilo para realizar nosso sonho”, acrescenta.

O primeiro epis�dio registra, de forma fragmentada, a jornada das irm�s at� a cirurgia realizada em Blumenau, Santa Catarina. A partir dali, a narrativa as acompanha ap�s a mudan�a – a adapta��o ao corpo, o relacionamento com a fam�lia e os amigos. Quando a s�rie foi rodada, as duas j� viviam separadamente: Sofia estuda engenharia em Franca, interior de S�o Paulo, e Mayla medicina em Buenos Aires.

A decis�o de aceitar fazer a s�rie veio depois da cirurgia – que, devidamente documentada, ganhou cobertura tanto da imprensa nacional quanto internacional.

“A gente poderia ter vivido uma vida an�nima. Mas quando as not�cias (sobre a cirurgia) sa�ram, percebi que era de suma import�ncia falar. N�o s� por servir de inspira��o para outras pessoas trans, mas tamb�m de ponto de partida para quem n�o tem conhecimento. � uma forma de mudar pensamentos”, acrescenta Sofia.

Embora documental, a s�rie bebe muito no estilo dos realities, com trilha sonora onipresente que acompanha as duas protagonistas e narrativa fragmentada carregando no suspense.

O primeiro epis�dio destaca a dupla na atualidade, vivendo cada qual em um pa�s. Depois, as duas v�o se encontrar em S�o Paulo.

Os trechos s�o intercalados com entrevistas em est�dio e flashbacks com trechos do pr� e p�s operat�rio. J� recuperadas, as duas voltam a Tapira, onde vive a fam�lia materna. O sonho � participar de um concurso de beleza. N�o ser� f�cil, pois elas v�o lidar com o preconceito.

Como o foco n�o � a cirurgia, todo esse processo, complicad�ssimo, � apresentado rapidamente na s�rie. A produ��o est� mais interessada em mostrar as rela��es pessoais das irm�s. No piloto, o destaque vai para a fam�lia. O espectador pode achar que foi tudo muito tranquilo (� a ideia que transparece depois de assistir ao epis�dio). Mas as duas afirmam que foi uma longa jornada.

“Aos 10 anos, comecei a pesquisar como poderia tirar o �rg�o. Meu pai (separado da m�e) era muito evang�lico. Quando falava disso no almo�o, ele dizia que respeitava, mas n�o aceitava na fam�lia. Foi um choque para ele. Tanto ele quanto minha m�e choraram muito”, conta Mayla.

A despeito do choque inicial, o apoio da fam�lia foi incondicional. O av� materno vendeu a casa para conseguir dinheiro. “Mesmo sendo de uma gera��o mais velha, ele aceitou mais f�cil do que meu pai”, acrescenta Mayla.

Sofia diz que o av� teve muito medo de que algo pudesse acontecer com elas na cirurgia. “Mas est�vamos cansadas de viver de forma indesejada”, finaliza Sofia.

•  S�rie documental em seis epis�dios. Os tr�s primeiros est�o dispon�veis na HBO Max e no Discovery . Os tr�s �ltimos estreiam nas duas plataformas na pr�xima quinta-feira (8/6)