Ilustração mostra mãos masculinos segurando claquete

Metade dos contemplados por edital est�o na regi�o Sudeste

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Os �ltimos resultados de editais da Ancine, a Ag�ncia Nacional do Cinema, t�m causado mal-estar em parte do mercado audiovisual brasileiro, num momento em que o �rg�o volta a refor�ar an�ncios de fomento ao setor depois de anos em marcha lenta no governo Jair Bolsonaro.

De abril at� agora, a ag�ncia divulgou projetos escolhidos em tr�s editais lan�ados em 2022, com foco em produ��es televisivas. Nos bastidores, proponentes que n�o foram selecionados t�m protestado pelo que veem como falta de transpar�ncia da Ancine no processo.

Um dos motivos s�o as justificativas da comiss�o de sele��o ao atribuir notas a cada projeto. Ao todo, as propostas s�o avaliadas segundo quatro crit�rios, que v�o das qualidades narrativas � capacidade de retorno comercial. Em cada um desses pontos, � atribu�da uma nota que vai de um a cinco – e, com a soma delas, os projetos s�o classificados.

Mas as justificativas das notas s�o feitas com textos padr�o, como "o projeto n�o atende ao crit�rio, a proposta n�o apresenta solidez e coes�o narrativa".

Diretrizes

Questionada, a Ancine afirma que todas as chamadas p�blicas partem de diretrizes do Comit� Gestor do FSA, o Fundo Setorial do Audiovisual, e que os crit�rios s�o objetivos. A ag�ncia tamb�m diz que essas chamadas p�blicas foram tema de debates com entidades do audiovisual.

J� a produtora Vanessa de Ara�jo Souza, que ajudou a organizar uma peti��o sugerindo melhorias no processo seletivo, diz que gostaria de mais clareza sobre como a comiss�o de sele��o funcionou.

"Nos textos publicados pela Ancine, falam que foram seis pareceristas. Mas n�o sei se meu projeto foi lido por dois, quatro ou pelos seis", diz ela, acrescentando que, com os textos padronizados em cada nota, alguns proponentes tiveram dificuldade de entender o motivo da avalia��o.

"Antigamente, o parecer era em cima do projeto. Dizia que tal projeto era fraco em determinado item e explicava por qu�. Hoje � uma coisa totalmente subjetiva."
 

Texto padr�o

Em editais do passado, at� houve queixas de textos que se repetiam em pareceres. Mas Souza argumenta que � a primeira vez que a resposta padr�o foi oficializada: "Antes voc� podia reclamar, porque n�o era oficial."

Outro ponto de celeuma veio com os recursos que pediam uma reavalia��o � ag�ncia: a Ancine tamb�m respondeu com textos padronizados, sem contestar objetivamente os argumentos dos autores dos projetos.

Em uns, o �rg�o disse j� ter levado em conta os argumentos e que isso n�o mudou a nota; em outros, falou ter usado crit�rios do Comit� Gestor do FSA. A reportagem questionou a ag�ncia sobre esse ponto, mas n�o teve resposta.

Um balan�o que acaba de ser publicado mostra que o �rg�o disponibilizou R$ 200 milh�es nos quatro editais voltados para produ��o de televis�o e v�deo sob demanda, selecionando 122 projetos.

A maioria dos contemplados est� na regi�o Sudeste (54,1%), sobretudo no Rio de Janeiro e em S�o Paulo. Em seguida, v�m Nordeste (22,1%), Sul (13,9%), Norte (5,7%) e Centro-Oeste (4,1%).

Chamadas p�blicas

A insatisfa��o com o resultado dos editais tem levado agentes do setor a defender que a Ancine volte a adotar as chamadas p�blicas de fluxo cont�nuo, que acabaram em 2018.

Por esse sistema, em vez de a Ancine abrir a todo momento novos editais, ela publica apenas um, que vai selecionando projetos conforme os recursos para financiamento fiquem dispon�veis. Quem defende essa ideia argumenta que o FSA � abastecido de forma cont�nua pela Condecine, um tributo pago pelo setor audiovisual.

Esse � um dos principais pedidos de produtores independentes em uma peti��o entregue � Ancine por Vanessa de Ara�jo Souza e cerca de 300 signat�rios. Eles sugerem ainda que a ag�ncia injete mais recursos, para financiar projetos que ficaram de fora.

A diretoria da Ancine � hoje ocupada por tr�s indicados no governo Jair Bolsonaro – e o atual diretor-presidente, Alex Braga Muniz, tem mandato at� 2026.

Em maio, Lula indicou um nome para a quarta cadeira no colegiado que comanda a ag�ncia: Paulo Alcoforado, ex-secret�rio de Pol�ticas de Financiamento do �rg�o. Mas o escolhido ainda precisa ser sabatinado pelo Senado e receber a chancela dos parlamentares.
 
Desde o come�o do ano, a ag�ncia j� anunciou que pretende fazer mais de R$ 1 bilh�o em investimentos em 2023. No momento, o �rg�o tem dois editais de produ��o de cinema na rua. A expectativa no mercado � que as arestas possam ser aparadas.