Isis Valverde, em cena do filme �ngela
J� o homem � Doca Street, apelido de Raul Fernando do Amaral Street, morto em 2020, aos 86 anos. No longa que chega aos cinemas nesta quinta, dia 7, ele � vivido por Gabriel Braga Nunes.
A dona da casa e da festa � a milion�ria Adelita Scarpa, prima de Chiquinho Scarpa, que � interpretada pela atriz Carolina M�nica na produ��o cinematogr�fica.
E a loca��o da festa � a casa onde Chiquinho Scarpa nasceu e sempre morou, uma mans�o que ocupa um quarteir�o inteiro no Jardim Europa, em S�o Paulo, com 1.500 metros quadrados de �rea constru�da e decorada com m�veis sofisticados, tape�arias do s�culo 18 e muitas obras de arte. A casa, ali�s, est� � venda, por R$ 63 milh�es.
"S� de estar naquela casa eu j� sabia como devia interpretar a Adelita. N�o a conheci, mas saber que ela passou a vida em casas como aquela em que filmamos, com paredes de madeira, pain�is de tape�aria, aquele monte de funcion�rios, j� me trouxe informa��es de como me portar, como falar, que gestos usar. Seu corpo assume uma postura diferente", conta Carolina M�nica.
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O primeiro podcast a se tornar um fen�meno de audi�ncia no Brasil, "Praia dos Ossos", realizado pela R�dio Novelo e lan�ado em setembro de 2020, contou essa mesma hist�ria, com um escopo bem mais amplo, em oito epis�dios de mais ou menos uma hora cada. Foi ouvido por pelo menos tr�s milh�es de pessoas.
O filme tem 104 minutos, ou seja, pouco mais de uma hora e meia. E se concentra nos quatro meses que durou o romance entre �ngela e Doca, desde agosto, quando ele foi expulso de casa por sua mulher e se mudou para B�zios com a amante, at� a trag�dia do dia 30 de dezembro.
"Comecei esse projeto em 2016, assim que terminaram as filmagens de ‘Elis’", conta o diretor Hugo Prata. "Nunca imaginei que o filme seria lan�ado na mesma �poca em que o Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional a tese de leg�tima defesa da honra", completa.
Leg�tima defesa da honra � um termo jur�dico que surgiu no Brasil no s�culo 19 e que foi muito usado para livrar da cadeia homens, quase sempre, que matavam ou agrediam mulheres, na maioria das vezes, que cometessem qualquer ato que os desagradasse.
Na legisla��o estava escrito "cal�nia, difama��o ou inj�ria". Mas ci�me, trai��o, beber demais numa festa, dan�ar com outro homem ou at� ter uma discuss�o mais inflamada podiam ser muito rapidamente renomeados como "cal�nia, difama��o ou inj�ria", no caso de o homem em quest�o optar por encerrar aquela hist�ria matando a mulher que lhe feria a honra.
Isso at� o �ltimo dia 1° de agosto, quando o STF decidiu por unanimidade proibir esse recurso.
"Fazer um filme � como lan�ar uma flecha, que voa por cinco anos e no dia em que ela cai no ch�o, precisa fazer sentido", diz Prata. Foi dele a decis�o de centrar a hist�ria do filme s� no romance do casal protagonista, dispensando at� elementos conhecidos da trama, como o fato de os dois usarem coca�na e terem rela��es com outras pessoas no per�odo em que estavam juntos.
"Esse crime come�a no dia em que os dois se conhecem. Acho muito injusto tentar justificar uma morte t�o violenta falando do que aconteceu na vida de ambos antes de eles se conhecerem. Descartamos essas teses conscientemente, militamos contra elas", afirma o diretor.
N�o � exatamente essa a impress�o de �sis Valverde, int�rprete de �ngela Diniz e mineira como sua personagem.
"Mineiro tem um jeito de ser, n�? A gente tem uma coisa saudosista quando sai de Minas e vai para outro canto. � um sentimento que persegue, e que tentei trazer para o filme", conta a atriz.
"A [roteirista] Duda de Almeida diz que a �ngela era uma mulher desejante. E uma mulher desejante � uma mulher perigosa", diz a atriz. "Ela fugia de todos os padr�es da �poca e era uma mulher incontrol�vel, independente financeiramente, desbocada. Ouvi de um amigo dela, nas minhas pesquisas, que, se n�o fosse o Doca, outro homem a mataria."
Duda de Almeida, roteirista da s�rie "Sintonia", da Netflix, conta que Hugo Prata a procurou com a proposta de fazer um filme quase teatral, que se passa quase todo num mesmo cen�rio, a casa de B�zios, e com os dois personagens centrais em quase todas as cenas.
"A gente tinha um filme que come�ava como uma hist�ria de amor e no final virava uma hist�ria de terror. Achei essa ideia muito desafiadora", diz.
"Eu n�o tinha muito em que me basear para escrever as cenas que acontecem entre os dois, ent�o precisei imaginar o cotidiano deles, aquela rela��o que tinha muita manipula��o, jogos emocionais e viol�ncia."
Para quem conhece a hist�ria, ou a hist�ria da hist�ria, seja por meio do podcast "Praia dos Ossos" ou pelo livro "Mea Culpa", escrito por Doca Street em 2006, vai estranhar que o nome do personagem no filme seja Raul, n�o Doca, como ele era chamado e como ficou conhecido quando a hist�ria tomou n�o s� as manchetes dos jornais, mas tamb�m deu o pontap� inicial do movimento feminista no Brasil.
O nome dele, de fato, era Raul Fernando do Amaral Street, mas era conhecido como Doca desde pequeno, e continuou sendo chamado de Doca at� sua morte. Duda conta que n�o tem nenhuma explica��o racional para essa mudan�a.
"Em algum momento eu e o Hugo come�amos organicamente a cham�-lo de Raul, talvez porque Doca seja um apelido muito carinhoso, e, em um determinado momento, decidimos deixar Raul", conta a roteirista.
O ator Gabriel Braga Nunes, que interpreta o "Raul" do filme, diz que n�o fez uma pesquisa muito extensa para viver o personagem porque acredita que a trama real seja quase uma inspira��o para contar uma hist�ria muito mais comum e frequente do que a gente costuma imaginar.
"Essa � uma hist�ria sobre mim, sobre voc�, sobre todos n�s", afirma o ator.
"Todo mundo pode se ver de repente num relacionamento t�xico, j� aconteceu comigo, j� deve ter acontecido com quase todo mundo. Por isso achei muito s�bia essa ideia de n�o ir muito atr�s dos personagens reais e fazer quase uma pe�a de teatro sobre relacionamentos t�xicos e sobre feminic�dio. Que, por sinal, aumentou horrivelmente desde 1976 para os dias de hoje."
�NGELA
Quando Estreia nesta quinta (7) nos cinemas
Classifica��o 18 anosElenco �sis Valverde, Gabriel Braga Nunes e Alice Carvalho
Dire��o Hugo Prata
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