Clipe de Luiza da Iola foi projetado na Igreja do Ros�rio, em Carm�polis de Minas (foto: Divulga��o)
A cantora afro-mineira Luiza da Iola demorou 14 anos para assumir um lugar de responsabilidade na tradi��o dos Reinados em Minas. Esse foi o tempo que levou desde a morte da m�e de cria��o, Elvira de Oliveira, a Dona I�la, Rainha Perp�tua do Ros�rio, ao momento em que Luiza recebeu a coroa herdada da matriarca. A morte de Dona I�la foi em 2004, mas a coroa��o de Luiza como Rainha Perp�tua de Nossa Senhora do Ros�rio foi realizada em 2018. No entanto, o tempo foi necess�rio.
Parte dessa hist�ria foi mostrada em uma proje��o na Capela do Ros�rio, em Carm�polis, no Centro-Oeste de Minas Gerais, quando a cantora apresentou, no domingo (20/6), o clipe da m�sica "Mas eu voltei", seu novo trabalho at�stico. As imagens de abertura nos conectam com Norberta Maria Justino, Ivonildes Martinha, a "Dona Dinica", e sua tatarav�, a matriarca e parteira Maria Cirilo, nascida em 1860. Elas s�o tr�s gera��es de parteiras que trouxeram centenas de crian�as ao mundo.
Os Reinados ficaram popularmente conhecidos em Minas como guardas de congado, uma das mais importantes manifesta��es culturais do estado. "O Reinado vem demarcar esse lugar de resist�ncia do povo africano no territ�rio brasileiro de recriarem reinos que foram destitu�dos em decorr�ncia da escraviza��o. Remontam, por meio de Reinados e Reizados, essa organiza��o social e pol�tica de resist�ncia dentro do territ�rio", diz a cantora.
"O Reinado vem demarcar esse lugar de resist�ncia do povo africano no territ�rio brasileiro de recriarem reinos que foram destitu�dos em decorr�ncia da escraviza��o. Remontam, por meio de Reinados e Reizados, essa organiza��o social e pol�tica de resist�ncia dentro do territ�rio"
Luiza da Iola - cantora
Nos Reinados, a tradi��o � passada de gera��o em gera��o, garantindo que parte importante da hist�ria negra em Minas seja preservada. As coroas maiores pertencentes aos Reis e Rainhas Congo e Reinados Perp�tuos, est�o relacionadas aos povos centro africanos primeiros grupo escravizado no Brasil.
A proje��o na Capela do Ros�rio em Carm�polis � um agradecimento. Quando crian�a, Luiza sofria com problemas na garganta, quando a m�e fez uma promessa pedindo a Nossa Senhora do Ros�rio a cura da menina. “Incrivelmente, eu n�o s� fui curada como eu passei a cantar. A primeira a��o, antes do clipe ganhar as redes, foi a proje��o na capela de Nossa Senhora do Ros�rio, em agradecimento, oferecendo trabalho � tradi��o e � ancestralidade”, revela.
"Demorei um tempo para assumir o legado"
A m�sica foi escrita tempos antes de Luiza receber a coroa da m�e, que estava guardada na pr�pria igreja do Ros�rio, desde quando a matriarca partiu. “O curioso que demorei um tempo para assumir o legado da minha m�e. A coroa � passada logo no encantamento do ancestral para quem vai dar continuidade ao legado, geralmente � algu�m da fam�lia. Quando minha m�e fez a passagem, n�o conhecia os fundamentos”, recorda-se.
A cantora afro-mineira Luiza da Iola demorou 14 anos para assumir um lugar de responsabilidade na tradi��o dos Reinados em Minas (foto: Divulga��o)
Luiza pensou que, n�o pode comparecer ao sepultamento, n�o imaginava que os capit�es haviam retirado o artefato e deixado guardado na Capela do Ros�rio. “Os capit�es levaram para a capela do Ros�rio e essa coroa ficou l�, salvaguardada pela pr�pria Nossa Senhora do Ros�rio. Essa coroa ficou no altar, aos p�s de Nossa Senhora do Ros�rio, de forma que ningu�m via. Ela ficou l� guardada por 14 anos”.
Um olhar de reconex�o
Composta em 2015, a can��o Mas eu voltei retrata o conceito sankofa que se refere � saga de sair de si, se perder para depois retomar o caminho. Luiza prop�e o olhar para dentro e para sua reconex�o com seu eu ancestral.
O clipe foi gravado na fazenda hist�rica da Montueira, onde nasceu L�cia Maria de Oliveira, a m�e biol�gica de Luiza. As mem�rias retomam lembran�as de Sebasti�o Jos� dos Santos, o av� materno, com imagens da frondosa paineira e o bambuzal plantados por "Basti�o Joana”.
Tamb�m h� imagens do terreiro da casa de Eunice de Oliveira, sua Tia Birica, mestra em cultivos e sabedora das ervas. Luiza tamb�m apresenta a casa onde viveram Norberta Maria Justino, Ivonildes Martinha "Dona Dinica" e sua tatarav�, a Matriarca e parteira Maria Cirilo nascida em 1860.