
Um curso de capacita��o em gastronomia tem levado a pessoas trans de Belo Horizonte uma oportunidade de independ�ncia financeira por meio do empoderamento com base no desenvolvimento pessoal. Em sua segunda edi��o, o "Projeto Gororoba - Cozinha para todes" foi constru�do para acolher, em todas as etapas, as pessoas que participam e possibilitar afeto e uma chance no mercado de trabalho.
O Gororoba oferece aulas de diversas �reas da culin�ria, como massas, p�es, carnes, frutos do mar, entre outros, com dura��o de dois meses e aulas duas vezes por semana na cozinha do curso de gastronomia da Faculdade Arnaldo, no Bairro Funcion�rios. Aos selecionados para participar s�o fornecidos material did�tico e aventais, al�m de suporte financeiro para o transporte, como forma de evitar a evas�o.
Paola Manuela chegou ao Gororoba por meio de uma amiga, que participou da primeira edi��o. E, desde ent�o, quis fazer o curso, depois de ver um cartaz sobre o projeto na rep�blica onde mora. Depois de muitas portas fechadas ao longo da vida, foi uma das selecionadas para a turma de 2021, que come�ou em 19 de julho. Quando perguntada se o curso pode mudar sua vida, Paola afirma: "J� est� mudando. Desde o dia que fiz a inscri��o, eu senti aquela energia boa e falei: 'Eu vou conseguir'", comemora.

O chef Carlos Normando, um dos idealizadores do projeto, disse que a proposta inicial era criar um curso de gastronomia para adolescentes. Mas, ap�s uma mulher trans contar a ele que nos dias em que trabalhava na cozinha de um restaurante n�o precisava fazer programas � noite, Carlos Normando decidiu fazer algo para ajudar a comunidade trans.
Foi ent�o que ele e a produtora cultural Elo� Mata realizaram encontros com assistentes sociais, pessoas trans e integrantes do Centro de Refer�ncia LGBT, da Prefeitura de Belo Horizonte, para reescrever o projeto. A proposta foi selecionada pelo Fundo Municipal de Cultura e teve sua primeira edi��o em 2018, no Centro de Refer�ncia da Juventude, na Pra�a da Esta��o, com apoio do Centro Universit�rio Una e uma turma de 25 alunos. "O di�logo tem sido a for�a motriz do Gororoba", diz Carlos.
"Vim como aluna, hoje estou aqui como profissional"
Depois de participar da primeira turma do Gororoba, Paloma Nobre hoje � cozinheira do Fub�, restaurante do Mercado Novo, no Centro de BH, e retornou ao Gororoba nesta segunda edi��o como assistente de cozinha dos professores, como forma de gratid�o pela oportunidade que teve. "Vim como aluna, hoje estou aqui como profissional. Fui escolhida e pude escolher com quem iria trabalhar. Ent�o, o projeto d� certo sim, basta voc� querer e levar a s�rio", afirma Paloma, que pretende retornar em uma pr�xima edi��o como professora.
"Nossa ideia o tempo todo era levar essas pessoas para a universidade, para um outro espa�o, para alguma cozinha que fosse profissional, com professores, com chefs renomados, para terem essa experi�ncia mesmo, que eu acho super importante", diz Carlos. Segundo o chef, o espa�o na Faculdade Arnaldo tem sido fundamental, n�o apenas pela infraestrutura, mas tamb�m por a institui��o atuar ativamente em quest�es socioculturais, acolhendo a equipe e alunos. "N�o s� est�o cedendo o espa�o, eles nos acolheram", afirma.
Expans�o no card�pio
Em 2019, Elo� e Carlos inscreveram o projeto no edital do Ita� Unibanco e Mais Diversidade e, entre aproximadamente 600 inscri��es, foram um dos quinze selecionados para a segunda fase e aprovados pela banca avaliadora para serem realizados. Por�m, o projeto, que se realizaria em 2020, teve de ser adiado devido � pandemia de COVID-19."Para al�m do fato de a cozinha exigir ser presencial em si, o p�blico que a gente atende nem sempre tem acesso � internet, a gente atende muitas pessoas em situa��o de rua, que moram em abrigo, albergue", explica Elo�. A pr�pria divulga��o do curso � bastante pautada na distribui��o de cartazes em locais-chave da capital mineira, como o Centro de Refer�ncia LGBT e abrigos para pessoas trans.
Sobre Elo� e Carlos

Carlos aprendeu a cozinhar com a av�, aos 6 anos, mas resolveu seguir outro rumo e se formou em publicidade e propaganda. Fez licenciatura em artes visuais e trabalhou por quase cinco anos no Museu de Arte da Pampulha (MAP). Foi coordenador de artes visuais do Valores de Minas entre 2011 e 2015. Foi nesse projeto que reviveu a vontade de voltar �s cozinhas, cursou gastronomia e p�s-gradua��o em gastronomia funcional. Seu interesse foi juntar suas paix�es: a gastronomia e os projetos sociais.
*Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Rafael Alves