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Estado de Minas NEGRITUDE NAS TELENOVELAS

Romantiza��o da escravid�o: 'Nos Tempos do Imperador' gera pol�mica

A produ��o recebe cr�ticas por retratar a escravid�o de forma romantizada e por apresentar ideia de racismo reverso


13/09/2021 18:59 - atualizado 14/09/2021 09:23

Personagem Pilar salva Samuel, alimentando as discussões sobre a ideia de branca heroína.
Personagem Pilar salva Samuel, alimentando as discuss�es sobre a ideia de branca hero�na. (foto: Globo/ Paulo Belote)
 

 

A telenovela Nos Tempos do Imperador marca como a primeira produ��o do g�nero na Rede Globo depois do in�cio da pandemia de COVID-19. O que seria a retomada de um dos principais produtos brasileiros tomou alguns caminhos pol�micos.  
 
Romantiza��o da escravid�o; a forma como o movimento abolucionista � apresentado, uma cena que sugeriu o racismo reverso s�o pontos do enredo que t�m desagradado n�o s� o Movimento Negro, como historiadores  e at� mesmo o cineasta Joel Zito Ara�jo, um dos principais pesquisadores da representa��o do negro nas telenovelas brasileiras, que dirigiu o document�rio "A nega��o do Brasil" (2000). 
 
Ambientada em 1856, o enredo principal traz o Segundo Reinado Brasileiro, governado por Dom Pedro II, com o pa�s ainda sendo escravocrata. Escrita por Alessandro Marson e Thereza Falc�o, a novela tem como um dos protagonistas Pilar (Gabriela Medvedovski), uma mulher branca que tem o sonho de se tornar m�dica, e que se apaixona por Samuel (Michel Gomes), homem negro que trocou sua identidade para fugir da escravid�o.

A principal pol�mica envolvendo a trama at� o momento � sobre uma cena que refor�a a ideia de racismo reverso. Na situa��o, Samuel fica indignado pela sociedade n�o aceitar que Pilar more na Pequena �frica, regi�o no Rio de Janeiro ocupada por negros livres, por ser uma mulher branca. Esse di�logo repercutiu e acabou gerando um pedido de desculpas da autora Thereza Falc�o, que lamentou o ocorrido.
 
O cineasta e pesquisador Joel Zito destaca a f�rmula j� ultrapassada de novelas de �poca como um dos principais problemas da trama, que n�o retrata os negros em rela��o de prest�gio. O cineasta e pesquisador Joel Zito Ara�jo, aponta como a telenovela � mais uma repeti��o de outras produ��es j� realizadas no pa�s.

“N�o h� nenhuma surpresa para mim no geral. A maior surpresa � a repeti��o desse padr�o, em d�cadas e mais d�cadas. Desde os anos 70 com a novela ‘A Escrava Izaura’, uma das inaugurais sobre os temas de escravid�o, eu n�o vejo nenhuma inova��o”, comenta Joel Zito, que tamb�m destaca como esse cen�rio cria consequ�ncias para o pa�s e para a sociedade negra, contribuindo para manter essa situa��o da popula��o branca no poder.

Juliana Pereira, historiadora, membra dos historiadorxs negrxs e idealizadora do podcast Atl�ntico Negro, menciona como que, inicialmente, a proposta da telenovela despertou seu interesse em acompanhar os cap�tulos. No entanto, destaca que houve uma tentativa de construir um cen�rio diferente e positivo sobre a popula��o negra, mas que muitos detalhes e situa��es foram deixadas de lado pela produ��o.
 
 “Eu pensei que essa representa��o t�pica de uma escravid�o, que geralmente acompanha as obras de fic��o, seria diferente. No in�cio, voc� n�o via os cativos � sombra dos her�is, ou simplesmente como cativos sem ter uma fala”, diz Juliana.


ROMANTIZA��O DA ESCRAVID�O

Juliana Pereira comenta como que os personagens negros s�o sempre vistos �s sombras dos brancos. A rela��o do casal Pilar e Samuel pode ser entendida dessa forma para Juliana, que v� nos dois a figura da hero�na branca e homem negro a ser salvo.  “Tenho achado muito problem�tico a forma como a rela��o entre dois personagens principais da novela acontece”, menciona.
 
Pilar e Samuel formam um casal público, o que também instigou espectadores e pesquisadores sobre a possibilidade das relações inter-raciais neste período.
Pilar e Samuel formam um casal p�blico, o que tamb�m instigou espectadores e pesquisadores sobre a possibilidade das rela��es inter-raciais neste per�odo. (foto: Globo/ Paulo Belote)
 
Para a historiadora, a rela��o do casal est� sendo muito romantizada. No per�odo retratado uma mulher branca da alta sociedade n�o poderia ter um relacionamento p�blico com um homem negro, sendo aceita e respeitada da forma como Nos Tempos do Imperador est� representado.

“Essas cenas acabam virando uma verdade absoluta em uma sociedade em que as pessoas ainda tem poucas informa��es sobre a escravid�o” destaca Juliana.

Outro ponto, destacado por Joel Zito, � sobre o movimento abolicionista. Para o cineasta, essa luta foi realizada e liderada pelo povo negro. Al�m disso, diversos personagens importantes da hist�ria n�o s�o sequer citados na trama da telenovela, dando espa�o principal para personagens negros retratados como submissos. 

“Naquele per�odo final da escravid�o j� tinha uma elite intelectual e econ�mica negra, como os Irm�os Rebou�as, por exemplo”, diz Joel, que critica este equ�voco de representa��o dos personagens negros.

POSS�VEIS CAMINHOS

Juliana Pereira traz que essa perspectiva negra positiva tem sim possibilidades de ser utilizada por produ��es televisivas, optando por investir em outras hist�rias, com personagens negros mais ativos, que tenham formas diversas de se expressaram e de se organizarem.

Para Joel Zito, as desigualdades sociais e econ�micas da popula��o negra s�o refor�adas por esses produtos midi�ticos que retratam o negro nessa situa��o. De acordo com o cineasta, ter um pensamento contempor�neo e mais atual � fundamental para romper com essa repeti��o e diminuir esses erros de representa��o da popula��o negra. Joel completa citando o trabalho realizado por plataformas de streaming, que abordam a diversidade racial em suas produ��es e equipes.


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