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As l�sbicas acusadas de transfobia por recusarem sexo com mulheres trans

Algumas l�sbicas relatam que foram chamadas de transf�bicas por n�o quererem sexo e relacionamentos com mulheres trans.


04/11/2021 15:11 - atualizado 05/11/2021 13:39


Casal caminha de mãos dadas na rua
Casal caminha de m�os dadas na rua (foto: Getty Images)

Uma l�sbica � transf�bica se ela n�o quer fazer sexo com mulheres trans? Algumas l�sbicas dizem que est�o sendo cada vez mais pressionadas e coagidas a aceitar mulheres trans como parceiras - depois rejeitadas e at� amea�adas por falarem abertamente sobre isso. V�rias falaram � BBC, junto com mulheres trans que tamb�m est�o preocupadas com o assunto.


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Short presentational grey line 1 (foto: BBC)

Aviso: a reportagem cont�m linguagem forte

"Ouvi uma pessoa dizer que preferia me matar do que (matar) Hitler", disse Jennie*, de 24 anos.

"Disse-me que me estrangularia com um cinto se estivesse em uma sala comigo e Hitler. Isso foi t�o bizarramente violento, s� porque eu n�o fa�o sexo com mulheres trans".

Jennie � uma mulher l�sbica. Ela diz que s� sente atra��o sexual por mulheres biologicamente femininas e com vaginas. Ela, portanto, diz que s� tem rela��es sexuais e relacionamentos com essas pessoas.

Jennie n�o acha que isso deveria ser controverso, mas nem todos concordam. Ela foi descrita como transf�bica, fetichista genital, pervertida e "terf" (feminista radical transexcludente).

"H� um argumento comum que tentam usar que diz: 'E se voc� conhecesse uma mulher em um bar e ela fosse muito bonita e voc� se desse muito bem e fosse para casa e descobrisse que ela tem um p�nis? Voc� simplesmente n�o estaria interessada?'", diz Jennie, que mora em Londres e trabalha com moda.

"Sim, porque mesmo que algu�m pare�a atraente no in�cio, voc� pode sair disso. Eu simplesmente n�o possuo a capacidade de ser sexualmente atra�da por pessoas que s�o biologicamente masculinas, independentemente de como elas se identifiquem."


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Short presentational grey line 1 (foto: BBC)

Eu me deparei com esse problema espec�fico depois de escrever um artigo sobre sexo, mentiras e consentimento legal.

V�rias pessoas entraram em contato comigo para dizer que havia um "grande problema" para as l�sbicas, que estavam sendo pressionadas a "aceitar a ideia de que um p�nis pode ser um �rg�o sexual feminino".

Eu sabia que esse seria um assunto extremamente pol�mico, mas queria descobrir qu�o difundido o assunto era.

No fim das contas, tem sido dif�cil determinar a verdadeira escala do problema porque h� poucas pesquisas sobre esse t�pico - apenas uma que eu conhe�a. No entanto, as pessoas afetadas me disseram que a press�o vem de uma minoria de mulheres trans, bem como de ativistas que n�o s�o necessariamente trans.

Elas descreveram ter sido assediadas e silenciadas quando tentaram discutir o assunto abertamente. Eu mesma recebi insultos online quando tentei encontrar entrevistados usando as redes sociais.


Tuíte escrito por uma mulher trans postado em apoio a lésbicas que se sentem pressionadas por ativistas trans compara a situação à pressão de homens héteros sobre lésbicas
Tu�te escrito por uma mulher trans postado em apoio a l�sbicas que se sentem pressionadas por ativistas trans compara a situa��o � press�o de homens h�teros sobre l�sbicas (foto: BBC)

Uma das l�sbicas com quem conversei, Amy *, de 24 anos, me disse que sofreu abuso verbal de sua pr�pria namorada, uma mulher bissexual que queria que elas fizessem um m�nage � trois com uma mulher trans.

Quando Amy explicou seus motivos para n�o querer, sua namorada ficou com raiva.

"A primeira coisa que ela me chamou foi de transf�bica", disse Amy. "Ela imediatamente pulou para me fazer sentir culpada por n�o querer dormir com algu�m."

Ela disse que a mulher trans em quest�o n�o havia passado por cirurgia genital, ent�o ainda tinha um p�nis.

"Sei que n�o h� possibilidade de me sentir atra�da por essa pessoa", disse Amy, que mora no sudoeste da Inglaterra e trabalha em um est�dio de impress�o e design.

"Eu posso ouvir suas cordas vocais masculinas. Eu posso ver suas mand�bulas masculinas. Eu sei, sob suas roupas, h� genit�lia masculina. Essas s�o realidades f�sicas que, como uma mulher que gosta de mulheres, voc� n�o pode simplesmente ignorar."

Amy disse que se sentiria assim mesmo se uma mulher trans tivesse se submetido a uma cirurgia genital - o que algumas optam por fazer e outras, n�o.

Logo depois, Amy e sua namorada terminaram.

"Lembro que ela ficou extremamente chocada e zangada e afirmou que minhas opini�es eram propaganda extremista e incita��o � viol�ncia contra a comunidade trans, al�m de me comparar a grupos de extrema direita", disse ela.

'Eu me senti muito mal por odiar cada momento'

Outra l�sbica, Chloe *, de 26 anos, disse que se sentiu t�o pressionada que acabou fazendo sexo com penetra��o com uma mulher trans na universidade depois de explicar repetidamente que n�o estava interessada.

Elas viviam pr�ximas uma da outra em resid�ncias universit�rias. Chloe estava bebendo �lcool e n�o considera que poderia ter dado o consentimento adequado.

"Eu me senti muito mal por odiar cada momento, porque a ideia � que somos atra�dos por g�nero em vez de sexo, e eu n�o senti isso, e me senti mal por me sentir assim", disse ela.

Envergonhada e constrangida, ela decidiu n�o contar a ningu�m.

"A linguagem na �poca era muito 'mulheres trans s�o mulheres, elas s�o sempre mulheres, l�sbicas deveriam namorar com elas'. E eu pensei, esse � o motivo de eu rejeitar essa pessoa. Isso me torna m�? Terei permiss�o para continuar na comunidade LGBT? Ou sofrerei consequ�ncias por isso?' Ent�o, eu realmente n�o contei a ningu�m."


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Short presentational grey line 1 (foto: BBC)

Ouvir sobre experi�ncias como essas levou uma ativista l�sbica a come�ar a pesquisar o assunto. Angela C. Wild � cofundadora do grupo Get The L Out, cujos membros defendem que os direitos das l�sbicas est�o sendo ignorados por grande parte do movimento LGBT atual.

Ela e seus colegas ativistas se manifestaram nas marchas no Reino Unido, onde enfrentaram oposi��o. O Orgulho (Pride) em Londres acusou o grupo de "intoler�ncia, ignor�ncia e �dio".

"As l�sbicas ainda t�m muito medo de falar porque acham que n�o v�o acreditar nelas, porque a ideologia trans est� silenciando em todos os lugares", disse ela.

Angela criou um question�rio para l�sbicas e o distribuiu nas redes sociais,depois publicou os resultados. Ela disse que, das 80 mulheres que responderam, 56% relataram ter sido pressionadas ou coagidas a aceitar uma mulher trans como parceira sexual.

Apesar de reconhecer que a amostra pode n�o ser representativa da comunidade l�sbica em geral, ela acredita que foi importante capturar seus "pontos de vista e hist�rias".

Al�m de sofrer press�o para namorar ou se envolver em atividades sexuais com mulheres trans, algumas das entrevistadas relataram ter sido persuadidas com sucesso a faz�-lo.

"Achei que seria chamada de transf�bica ou que seria errado recusar uma mulher trans que queria trocar fotos nuas", escreveu uma delas. "Mulheres jovens se sentem pressionadas a dormir com mulheres trans 'para provar que n�o sou uma terf'."

Uma mulher relatou ter sido alvo de um grupo online. "Disseram-me que a homossexualidade n�o existe e devo �s minhas irm�s trans desaprender minha 'confus�o genital' para que possa desfrutar de deix�-las me penetrar", escreveu ela.


Angela C. Wild com outras integrantes do Get The L Out
Angela C. Wild (embaixo � esquerda) publicou sua pesquisa em um relat�rio chamado Lesbians At Ground Zero (foto: Get The L Out)

Uma delas comparou sair em encontros com mulheres trans � chamada terapia de convers�o - a pr�tica controversa de tentar mudar a orienta��o sexual de algu�m.

"Eu sabia que n�o estava atra�da, mas internalizei a ideia de que era por causa da minha 'transmisoginia' e que se eu namorasse por tempo suficiente poderia come�ar a me sentir atra�da. Era uma terapia de convers�o DIY (sigla em ingl�s para fa�a voc� mesmo)", escreveu ela .

Outra relatou uma mulher trans for�ando-a fisicamente a fazer sexo depois de terem um encontro.

"Amea�ou me declarar como terf e arriscar meu emprego se eu me recusasse a dormir com ela", escreveu ela. "Eu era muito jovem para discutir e sofri uma lavagem cerebral pela teoria queer, ent�o (essa pessoa era) uma 'mulher', mesmo que cada fibra do meu ser estivesse gritando, ent�o concordei em ir para casa com essa pessoa. (Ela) usou a for�a f�sica quando mudei de ideia ao ver seu p�nis e me estuprou."

Embora bem recebido por alguns integrantes da comunidade LGBT, o relat�rio de Angela foi descrito como transf�bico por outros.

"(As pessoas disseram) que somos piores do que estupradores porque (supostamente) tentamos enquadrar todas as mulheres trans como estupradoras", disse Angela.

"A quest�o n�o � essa. A quest�o � que, se acontece, precisamos conversar sobre isso. Se acontece com uma mulher, � errado. Acontece que ocorre com mais de uma mulher."


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Short presentational grey line 1 (foto: BBC)

Rose of Dawn
A youtuber trans Rose of Dawn disse que algumas de suas amigas l�sbicas foram pressionadas a aceitar mulheres trans como parceiras sexuais (foto: Rose of Dawn)

A youtuber trans Rose of Dawn discutiu o problema em seu canalem um v�deo chamado "Is Not Dating Trans People 'Transphobic'?"(em tradu��o livre: � transf�bico n�o namorar pessoas trans?)

"Isso � algo que vi acontecer na vida real com amigas minhas. Isso estava acontecendo antes de eu realmente come�ar meu canal e foi uma das coisas que o impulsionou", disse Rose.

"O que est� acontecendo � que as mulheres que s�o atra�das por mulheres biol�gicas e �rg�os genitais femininos se encontram em posi��es muito estranhas, onde se, por exemplo, em um site de namoro uma mulher trans se aproxima delas e elas dizem 'desculpe, n�o gosto de mulheres trans', ent�o s�o rotuladas como transf�bicas."

Rose fez o v�deo em resposta a uma s�rie de tu�tes da atleta trans Veronica Ivy, ent�o conhecida como Rachel McKinnon,que escreveu sobre cen�rios hipot�ticosem que pessoas trans s�o rejeitadas e argumentou que as "prefer�ncias genitais" s�o transf�bicas.

Perguntei a Ver�nica Ivy se ela poderia falar comigo, mas ela n�o quis.


Tuíte de Veronica Ivy, no qual diz que 'preferências genitais' são transfóbicas
Tu�te de Veronica Ivy, no qual diz que "prefer�ncias genitais" s�o transf�bicas (foto: BBC)


Rachel McKinnon
A atleta trans Veronica Ivy, anteriormente conhecida como Rachel McKinnon, acredita que as "prefer�ncias genitais" s�o transf�bicas (foto: Getty Images)

Rose acredita que vis�es como essa s�o "incrivelmente t�xicas". Ela defende que a ideia de que as prefer�ncias de namoro s�o transf�bicas est� sendo impulsionada por ativistas trans radicais e seus "autoproclamados aliados", que t�m vis�es extremas que n�o refletem as vis�es das mulheres trans que ela conhece na vida real.

"Certamente, do meu pr�prio grupo de amigos, as mulheres trans de quem sou amiga, quase todas concordam que as l�sbicas s�o livres para excluir mulheres trans de seu pool de namoro", disse ela.

No entanto, ela acredita que mesmo as pessoas trans t�m medo de falar abertamente sobre isso por medo de abuso.

"Pessoas como eu recebem muitos insultos de ativistas trans e seus aliados", disse ela.

"O lado ativista trans � incrivelmente raivoso contra as pessoas que consideram que est�o saindo da linha."


Debbie Hayton
Debbie Hayton foi acusada de propagar discurso de �dio contra a comunidade trans, apesar de ela mesma ser trans (foto: Debbie Hayton)

Debbie Hayton, uma professora de ci�ncias que fez a transi��o em 2012 e escreve sobre quest�es trans, se preocupa que algumas pessoas fazem a transi��o sem perceber como ser� dif�cil formar relacionamentos.

Embora atualmente existam poucos dados sobre a orienta��o sexual de mulheres trans, ela diz que acredita que a maioria � atra�da por mulheres porque elas s�o biologicamente masculinas e a maioria dos homens � atra�da por mulheres.

"Ent�o, quando elas (mulheres trans) est�o tentando encontrar parceiras, quando as l�sbicas dizem 'queremos mulheres' e as mulheres heterossexuais dizem que querem um homem heterossexual, isso deixa as mulheres trans isoladas dos relacionamentos e, possivelmente, se sentindo muito decepcionadas com a sociedade, com raiva, chateadas e sentindo que o mundo n�o consegue compreend�-las", disse ela.

Debbie acha que est� tudo bem se uma mulher l�sbica n�o quiser namorar uma mulher trans, mas est� preocupada que algumas estejam sendo pressionadas a isso.

"A forma como o envergonhamento � usado � simplesmente horr�vel; � a manipula��o emocional e a guerra acontecendo", disse ela. "Essas mulheres que querem formar relacionamentos com outras mulheres biol�gicas est�o se sentindo mal com isso. Como chegamos aqui?"


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Short presentational grey line 1 (foto: BBC)

Pessoas apoiando Stonewall durante a parada de Londres em 27 de julho de 2015
O grupo Stonewall recusou pedido da BBC para uma entrevista e se pronunciou por meio de nota (foto: Getty Images)

Stonewall � a maior organiza��o LGBT do Reino Unido e da Europa. Perguntei � institui��o sobre essas quest�es, mas ela n�o conseguiu fornecer ningu�m para a entrevista sobre o tema. No entanto, em um comunicado, a executiva-chefe Nancy Kelley comparou n�o querer namorar pessoas trans a n�o querer namorar pessoas de cor, pessoas gordas ou deficientes.

Ela disse: "A sexualidade � pessoal e algo que � �nico para cada uma de n�s. N�o existe uma maneira 'certa' de ser l�sbica, e somente n�s podemos saber por quem nos sentimos atra�dos."

"Ningu�m deve ser pressionado a namorar ou a namorar pessoas pelas quais n�o se sente atra�do. Mas se voc� descobrir que, ao namorar, estar� descartando grupos inteiros de pessoas, como pessoas de cor, pessoas gordas, deficientes f�sicos ou pessoas trans pessoas, ent�o vale a pena considerar como os preconceitos da sociedade podem ter moldado suas atra��es."

"Sabemos que o preconceito ainda � comum na comunidade LGBT%2b e � importante que possamos falar sobre isso de forma aberta e honesta."


Gay Pride em Lodres em 1996
Stonewall foi fundado em 1989 (foto: Getty Images)

O Stonewall foi fundado em 1989 por pessoas que se opunham ao que ficou conhecido como Se��o 28 - legisla��o que impedia conselhos e escolas de "promover" a homossexualidade. A organiza��o originalmente focou em quest�es que afetam l�sbicas, gays e bissexuais e, em 2015, anunciou que faria campanha pela "igualdade trans".

Um novo grupo - LGB Alliance - foi formado em parte em resposta � mudan�a de foco do Stonewall, por pessoas que acreditam que os interesses das pessoas LGB est�o sendo deixados para tr�s.

"� justo dizer que eu n�o esperava ter que lutar por esses direitos novamente, os direitos das pessoas cuja orienta��o sexual � voltada para pessoas do mesmo sexo", disse o cofundadora Bev Jackson, que tamb�m fundou o UK Gay Liberation Front em 1970.

"N�s meio que pensamos que a batalha havia sido ganha e � bastante assustador e horr�vel termos que lutar essa batalha novamente."


Protesto pedia o fim da opressão de homossexuais pela sociedade em Londres, 13 de janeiro de 1971
Bev Jackson foi uma dos membros fundadores do Gay Liberation Front, formado em 1970 (foto: Getty Images)

A LGB Alliance diz que est� particularmente preocupada com l�sbicas mais jovens e, portanto, mais vulner�veis %u200B%u200Bserem pressionadas a se relacionar com mulheres trans.

"� muito preocupante encontrar pessoas dizendo 'Isso n�o acontece, ningu�m pressiona ningu�m para ir para a cama com ningu�m', mas sabemos que n�o � o caso", disse Jackson.

"Sabemos que uma minoria - mas ainda uma minoria consider�vel de mulheres trans - pressiona l�sbicas a sair com elas e fazer sexo com elas, e � um fen�meno muito perturbador."

Eu perguntei a Jackson como ela sabia que uma "minoria consider�vel" de mulheres trans que estava fazendo isso.

Ela respondeu: "N�o temos n�meros, mas frequentemente somos contatados por l�sbicas que relatam suas experi�ncias em grupos LGBT e em sites de namoro."

'Mulheres jovens mais t�midas'

Por que ela acha que houve t�o pouca pesquisa?

"Eu certamente acho que a pesquisa sobre este t�pico seria desencorajada, provavelmente porque seria caracterizada como um projeto deliberadamente discriminat�rio", disse ela.

"Mas tamb�m, as pr�prias meninas e mulheres jovens, uma vez que provavelmente s�o as mulheres mais t�midas e menos experientes que s�o v�timas de tais encontros, relutariam em discuti-los."

O LGB Alliance foi descrito como um grupo de �dio, anti-trans e transf�bico. Em resposta, Jackson insiste que o grupo n�o � nada disso e inclui pessoas trans entre seus apoiadores.

"Esta palavra, transfobia, foi colocada como um drag�o no caminho para interromper a discuss�o sobre quest�es realmente importantes", disse ela.

"� doloroso para nossos apoiadores trans, � doloroso para todos os nossos apoiadores ser chamado de grupo de �dio quando somos as pessoas menos odiosas que voc� pode encontrar."


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Short presentational grey line 1 (foto: BBC)

O termo "teto de algod�o" �s vezes � usado ao discutir essas quest�es, mas � controverso.

Tem origem no termo "teto de vidro", que se refere a uma barreira invis�vel que impede as mulheres de subirem ao topo da carreira. O algod�o � uma refer�ncia �s roupas �ntimas femininas, com a frase destinada a representar a dificuldade que algumas mulheres trans sentem que enfrentam quando procuram relacionamentos ou sexo. "Romper o teto de algod�o" significa poder fazer sexo com uma mulher.

Acredita-se que o termo foi usado pela primeira vez em 2012 por uma atriz porn� trans conhecida pelo nome Drew DeVeaux. Ela n�o trabalha mais na ind�stria e n�o consegui contat�-la.


Calcinhas
'Algod�o' na frase 'teto de algod�o' refere-se a roupas �ntimas femininas (foto: Getty Images)

No entanto, o conceito de "teto de algod�o" ganhou aten��o mais ampla quando foi usado em um workshop da organiza��o Planned Parenthood em Toronto, no Canad�.

O t�tulo do workshop foi: "Superando o teto de algod�o: derrubando as barreiras sexuais para mulheres trans queer", e a descri��o explicava como os participantes "trabalhariam juntos para identificar barreiras, criar estrat�gias para super�-las e construir uma comunidade".

Foi liderada por uma escritora e artista trans que mais tarde foi trabalhar para Stonewall (a organiza��o pediu � BBC que n�o a nomeasse por quest�es de seguran�a).

A mulher trans que liderou o workshop recusou-se a falar com a BBC, mas a Planned Parenthood Toronto manteve sua decis�o de realizar o workshop.

Em um comunicado enviado � BBC, a diretora executiva Sarah Hobbs disse que o workshop "nunca teve a inten��o de defender ou promover a supera��o das obje��es de qualquer mulher � atividade sexual". Em vez disso, ela disse que o workshop explorou "as maneiras pelas quais as ideologias da transfobia e da transmisoginia impactam o desejo sexual".

Quem mais foi procurado?

Al�m de Veronica Ivy, entrei em contato com v�rias outras mulheres trans famosas que escreveram ou falaram sobre sexo e relacionamentos. Nenhuma delas quis falar comigo, mas meus editores e eu sentimos que era importante refletir alguns de seus pontos de vista neste artigo.

Em um v�deo que agora foi exclu�do, a youtuber Riley J Dennis argumentou que as "prefer�ncias" de namoro s�o discriminat�rias.

Ela perguntou: "Voc� namoraria uma pessoa trans, honestamente? Pense nisso por um segundo. OK, obteve sua resposta? Bem, se voc� disse n�o, sinto muito, mas isso � bastante discriminat�rio."

Ela explicou: "Acho que a principal preocupa��o que as pessoas t�m em rela��o a namorar uma pessoa trans � que elas n�o ter�o os �rg�os genitais que esperam. Como associamos p�nis a homens e vaginas a mulheres, algumas pessoas pensam que nunca poderiam namorar um homem trans com vagina ou uma mulher trans com um p�nis."

"Mas acho que as pessoas s�o mais do que seus �rg�os genitais. Acho que voc� pode sentir atra��o por algu�m sem saber o que est� entre suas pernas. E se voc� dissesse que s� se sente atra�do por pessoas com vaginas ou p�nis, isso realmente soa como se voc� estivesse reduzindo as pessoas apenas aos �rg�os genitais."


Riley Dennis
Riley Dennis - que se recusou a falar com a BBC - argumentou em um de seus v�deos que 'prefer�ncias de namoro' s�o discriminat�rias (foto: Riley Dennis)

Outra youtuber, Danielle Piergallini, fez um v�deo intitulado "O teto de algod�o: transfobia, sexo e namoro (mas n�o com transexuais)".

Ela disse: "Quero falar sobre a ideia de que existem v�rias pessoas por a� que dizem que n�o se sentem atra�das por pessoas trans, e acho que isso � transf�bico, porque sempre que voc� est� fazendo uma declara��o ampla e generalizada sobre um grupo de pessoas, isso normalmente n�o vem de um bom lugar."

No entanto, ela acrescentou: "Se h� uma mulher trans que est� no pr�-operat�rio e algu�m n�o quer namor�-la porque n�o tem �rg�os genitais que correspondam � sua prefer�ncia, isso � obviamente compreens�vel."

A romancista e poeta Roz Kaveney escreveu um artigo intitulado "Alguns pensamentos sobre o teto de algod�o" e outro intitulado "Mais teto de algod�o".

"O que sempre est� acontecendo � a suposi��o de que a pessoa � o status atual de seus 'bits' e a hist�ria de seus 'bits'", escreveu ela no primeiro artigo. "Que � o modelo mais redutor de atra��o sexual que posso imaginar."

Embora esse debate j� tenha sido visto como uma quest�o secund�ria, a maioria dos entrevistados que falaram comigo disse que ele se tornou proeminente nos �ltimos anos por causa das m�dias sociais.

Ani O'Brien, porta-voz de um grupo da Nova Zel�ndia chamado Speak Up For Women, criouum v�deo TikTok voltado para l�sbicas mais jovens.

Ani, de 30 anos, disse � BBC que est� preocupada com a gera��o de l�sbicas que agora s�o adolescentes.

"O que estamos vendo � uma regress�o onde, mais uma vez, jovens l�sbicas ouvem 'Como voc� sabe que n�o gosta de pau se ainda n�o experimentou?'", disse ela.

"Dizem que devemos olhar al�m dos �rg�os genitais e aceitar que algu�m diga que � mulher, e isso n�o � o que � homossexualidade."

"Voc� n�o v� tantos homens trans interessados %u200B%u200Bem gays, ent�o eles n�o entendem tanto (a press�o), mas voc� v� muitas mulheres trans que se interessam por mulheres, ent�o somos desproporcionalmente afetadas por isso."

Ani acredita que esse tipo de mensagem � confuso para jovens l�sbicas.

"Lembro-me de ser uma adolescente no arm�rio e tentar desesperadamente ser h�tero, e isso foi dif�cil o suficiente", disse ela.

"Eu n�o posso imaginar como seria se eu finalmente aceitasse o fato de que era gay, para ent�o enfrentar a ideia de que alguns corpos masculinos n�o s�o masculinos ent�o s�o l�sbicas, e ter para lidar com isso tamb�m."


Mensagens no Twitter argumentam que preferências genitais são transfóbicas
Mensagens no Twitter argumentam que prefer�ncias genitais s�o transf�bicas (foto: BBC)

Ani diz que recebe mensagens pelo Twitter de jovens l�sbicas que n�o sabem como sair de um relacionamento com uma mulher trans.

"Elas tentaram fazer a coisa certa e deram-lhes uma chance, e perceberam que eram l�sbicas e n�o queriam estar com algu�m com corpo masculino, e o conceito de transfobia e intoler�ncia � usado como uma arma emocional, que voc� n�o pode sair porque do contr�rio voc� � transf�bica", disse ela.

Como outras pessoas que expressaram suas preocupa��es, Ani recebeu insultos online.

"Fui incitada a me matar, recebi amea�as de estupro", disse ela. No entanto, ela diz que est� determinada a continuar falando.

"Uma coisa realmente importante que devemos fazer � sermos capazes de conversar sobre essas coisas. Encerrar essas conversas e cham�-las de intoler�ncia � realmente in�til, e n�o deveria estar al�m de nossa capacidade ter conversas dif�ceis sobre algumas dessas coisas."

*A BBC alterou os nomes de algumas mulheres nesta reportagem para proteger suas identidades.

Esta reportagem foi alterada em 4 de novembro de 2021 para remover o depoimento de uma das entrevistadas por conta de coment�rios recentemente publicados por ela em um blog e que foram confirmados pela BBC.

Reconhecemos que uma admiss�o de comportamento impr�prio por essa mesma entrevistada deveria ter sido inclu�da na reportagem original.

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