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Estado de Minas ENTREVISTA

Maju de Ara�jo: a modelo com s�ndrome de Down que est� conquistando o mundo

Conversamos com Maju sobre sua trajet�ria e a import�ncia da representatividade no mundo da moda. Confira a entrevista


07/02/2022 10:15 - atualizado 07/02/2022 13:56

Maju, mulher ruiva usando vestido de lantejoulas douradas, em fundo bege claro
Maju de Ara�jo � modelo e luta pela inclus�o de pessoas com defici�ncia (foto: Luana Chaves)

O mundo da moda, que sempre foi reconhecido pelo dinheiro, glamour e fama, tamb�m pode se tornar um espa�o inclusivo de inspira��o para milhares de garotas pelo mundo. Foi seguindo seu sonho que Maju de Ara�jo se tornou a primeira modelo brasileira com s�ndrome de Down a desfilar na Brasil Fashion Week e na semana de moda de Mil�o, mostrando que a moda pode, sim, ser para todos.

Enfrentando os padr�es de beleza impostos pelo universo das passarelas, Maju com seu 1,49m de altura conquistou visibilidade por seu profissionalismo e paix�o pela profiss�o. Al�m do sucesso nos desfiles, a modelo de 19 anos tamb�m � a primeira mulher com s�ndrome de Down a ser embaixadora da marca de cosm�ticos L’Oreal, lan�ou uma cole��o de joias em collab com a marca Ahmi e entrou para a lista da Forbes under 30 ao lado de nomes como Gil do Vigor, Alan Chusid, Rebeca Andrade e Carlinhos Maia.

O sonho da carreira de modelo come�ou na inf�ncia. “Houve uma �poca em que uma pessoa com defici�ncia no mundo da moda era um desafio que n�o acredit�vamos ser poss�vel vencer. A primeira vez em que ela me falou diretamente foi em um momento de crise depressiva”, conta Adriana, m�e de Maju.

Mesmo assim, em 2018, Adriana foi atr�s da realiza��o da filha e a inscreveu em um processo seletivo, que precisou ser adiado quando Maju entrou em coma causado por meningite. Mostrando estar preparada para as adversidades, a modelo foi ao teste no dia seguinte que recebeu alta e conquistou seu primeiro trabalho.


Adriana aponta que n�o faz sentido apenas um tipo de corpo ser representado em algo t�o importante para a hist�ria e para a sociedade como a moda. “A beleza � diversa. N�o existe s� um tipo de mulher e s� um tipo de homem. Todas as cores, formas, tamanhos s�o lindas e n�o s� merecem como precisam ser representadas”, afirma Adriana, “Nossas marcas, cicatrizes, curvas, cabelos, olhares contam hist�ria e essa � a moda real!", completa.

Confira nossa entrevista com Maju:

Como surgiu o sonho de se tornar modelo?

Desde crian�a me sentia predestinada a viver a carreira que vivo hoje. N�o sei dizer exatamente como esse sonho come�ou porque a sensa��o que tenho � de que ele nasceu junto comigo. Quando eu ainda era pequena tinha o costume de pegar as roupas das bonecas em tamanho real que minhas irm�s tinham, vestia e pedia para algu�m da fam�lia me anunciar para eu poder entrar desfilando. Sempre pegava as maquiagens e tamb�m montava v�rios looks com tecidos, acess�rios e roupas que encontrava no caminho. No fundo eu me sentia feliz assim, sendo criativa, me aventurando e me divertindo com ou sem as c�meras e o desejo de viver assim s� iam crescendo.

Maju posando com roupas claras em Milão, na Itália
Maju diz que se sentiu Davi lutando contra Golias ao desfilar em Mil�o (foto: Reprodu��o: Instagram )

Como foi fazer o primeiro trabalho?
Antes mesmo de me formar eu j� tinha come�ado a trabalhar. Como modelo eu j� participava de desfiles n�o profissionais e n�o remunerados para adquirir experi�ncia. Muitas pessoas acham que j� comecei a carreira na Fashion Week mas a verdade � que percorremos um longo caminho at� aqui. Cada um desses trabalhos me proporcionou uma emo��o diferente assim como uma oportunidade de crescimento! Aprendi tanto! E quando pude desfilar na minha primeira Fashion Week n�o pude conter a minha felicidade!

J� como influenciadora, quando fiz minha primeira publi, foi emocionante demais. Poder ver anos de trabalho sendo valorizados e descobrir e entender finalmente o valor, em n�meros, do meu trabalho, foi muito gratificante e um passo muito importante para mim.



Quais as dificuldades que enfrentou, ou ainda enfrenta, na carreira de modelo?

Pessoas com defici�ncia precisam ser extraordin�rias para serem valorizadas. Mesmo estudando, me formando e provando meu valor profissional ainda preciso lidar com pessoas desmerecendo minhas conquistas devido a minha defici�ncia. Parece que para o capacitista � mais f�cil acreditar que a sociedade me fez um favor e me cedeu um lugar (o que est� muito longe de ser a realidade) do que acreditar que tenho capacidade e potencial para ocupar o lugar que ocupo como profissional.

Voc� � a primeira modelo brasileira com s�ndrome de Down a desfilar na Brasil Fashion Week e na semana de moda de Mil�o, al�m de ser a primeira mulher com s�ndrome de Down a ser embaixadora da L’Oreal. Qual a import�ncia de conquistar esses espa�os?

Ocupar esses espa�os � importante em v�rios n�veis. No pessoal minha vida se transformou. Me sinto realizada profissionalmente e ao mesmo tempo sinto coragem para sonhar cada vez mais: “se cheguei at� aqui posso ir ainda mais longe!”. Minha autoconfian�a mudou. Profissionalmente tenho crescido muito, venho descobrindo minha capacidade de ultrapassar fronteiras, de me desafiar e desafiar meu corpo.

Me apaixonei pela rotina corrida dos est�dios, sets de grava��o e bastidores das semanas de moda. Amo o que fa�o e me entrego totalmente. E poder, profissionalmente, me entregar sendo exatamente quem sou, com todos os meus potenciais e limita��es, � lindo, essa � a inclus�o genu�na. Abra�ar singularidades, cores, diversidade.

Maju deitada em uma cama de flores
Maju lan�ou sua cole��o %u201CAmor em toda forma%u201D, collab com a marca de joias Ahmi (foto: Jack Bones)


No caminho da busca pela inclus�o esses foram passos significativos para quem luta tanto na causa. Pudemos abrir caminhos para os sonhos de outras pessoas, n�o s� no mundo da moda. Poder receber mensagens e coment�rios de m�es, pais, jovens, adolescentes, crian�as, pessoas com ou sem defici�ncia, dizendo que se inspiram, que se encorajam. Vemos m�es dizendo que veem seus filhos e filhas conquistando os mesmos espa�os. � t�o gratificante que, sendo a mais improv�vel em todas as improbabilidades Deus tenha me levado t�o longe! Esse sempre foi e sempre ser� o nosso prop�sito: inspirar as pessoas.


Como se sente por estar na lista da Forbes under 30?
Essa foi uma surpresa t�o grande para fechar 2021 com chave de ouro! Tudo come�ou com uma mat�ria sobre minha cole��o de joias em collab com a marca Ahmi e quando vimos eu tinha recebido o convite para estar na lista e na capa. N�o conseguia conter a alegria que senti vendo a revista e vendo os gigantes com quem compartilhava a lista! Meu cora��o transborda gratid�o e sinto que ao lado do meu nome cabe o nome de muitas outras pessoas que caminharam comigo! Sou muito grata ao Camarotti por ter me selecionado!


O que voc� ainda quer conquistar como modelo?

Como eu disse antes, a cada conquista me encorajo a sonhar mais. Tenho o sonho de lan�ar uma marca pr�pria e tamb�m de desfilar nas semanas de moda internacionais New York Fashion Week, Paris Fashion Week, London Fashion Week.


Maju, com cabelos presos, segurando flores com a mão esquerda, encara a câmera
Maju luta pela inclus�o de pessoas com defici�ncia atrav�s de seu trabalho como modelo e influencer (foto: Jack Bones)


Qual a import�ncia da representatividade para as pessoas com s�ndrome de Down?
Imagine voc� crian�a. cheia de sonhos. Voc� come�a a assistir filmes, comerciais de TV, a ler livros, assistir s�ries e conhecer pessoas adultas. Voc� vai crescendo e questionamentos sobre seu futuro come�am a surgir. Voc� come�a a desejar ter um parceiro de vida, uma vida mais aut�noma, um emprego. E ent�o voc� come�a a reparar que n�o tem ningu�m como voc� nas revistas, comerciais de TV, revistas, livros, narrativas de filmes, nem adultos como voc� vivendo at� mesmo a vida real. Voc� aos poucos come�a a se perguntar se tem algo de errado com voc� ou se n�o existe um lugar para voc� no mundo.


A falta de representatividade, seja ela qual for, � nociva principalmente na vida das crian�as. � algo que come�a a te afetar cedo e chega um momento em que voc� come�a a se enxergar errado. Pessoas sem defici�ncia precisam da representatividade de pessoas com defici�ncia porque elas tamb�m precisam aprender o valor da diversidade.


Inclus�o n�o � um favor, mas uma necessidade urgente. As pessoas precisam estar habituadas a ver pessoas com defici�ncia em ambientes corporativos, em propagandas publicit�rias, em salas de aula, formando fam�lias. A representatividade � o caminho de naturalizar o que a sociedade n�o deveria estranhar.

Ou�a e acompanhe as edi��es do podcast DiversEM




* Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Rafael Alves


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