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Estado de Minas DIVERSIDADE

O que dizem os adeptos do 'poliamor solo'

Sem 'parceiro principal' e com potencial para diversos relacionamentos significativos, os adeptos do poliamor solo est�o abandonando a heteronormativo 'escada rolante do relacionamento'.


14/04/2022 23:51 - atualizado 14/04/2022 23:51

Casal sentado em banco de parque
(foto: Getty Images)
Depois que Chris, com 35 anos de idade, assumiu-se bissexual tr�s anos atr�s, ele decidiu que "n�o queria necessariamente viver uma vida heteronormativa".

 

"Eu queria poder namorar homens e mulheres simultaneamente por toda a minha vida", afirma Chris (seu sobrenome � omitido para manter sua privacidade). "Eu sentia que a monogamia me negaria parte de mim mesmo."

 

Durante a pandemia, Chris mudou-se para uma comunidade sexualmente positiva no Brooklyn, Nova York, nos Estados Unidos - um "espa�o seguro" onde ele poderia explorar ainda mais sua rela��o com o sexo e a sexualidade.

 

Por meio dessa comunidade, ele descobriu um curso chamado Open Smarter, que orientava seus alunos a explorar diversos tipos de relacionamentos eticamente n�o-monog�micos. Foi ali que ele ouviu pela primeira vez a express�o "poliamor solo" e percebeu rapidamente como ela se encaixava com seu estilo de vida amorosa.

 

Basicamente, o poliamor solo designa pessoas que est�o abertas a namorar ou dedicar-se a diversos relacionamentos significativos, sem que tenham um "parceiro principal" - uma pessoa com a qual eles se comprometem acima de todos os demais parceiros. Em vez disso, o adepto do poliamor solo poder� ver a si pr�prio como seu parceiro principal, evitando os objetivos t�picos dos relacionamentos, como reunir as finan�as ou morar junto com um parceiro, casar-se e ter filhos.

 

O poliamor solo representa uma pequena parcela dos adeptos do poliamor em geral. Muitos deles tendem a ter ou desejar ter um parceiro principal, segundo Liz Powell, terapeuta e educadora sexual da Filad�lfia, nos Estados Unidos. Por isso, � naturalmente dif�cil calcular qual percentual da popula��o em geral adota relacionamentos desta forma.

 

Mas estudos demonstram que as gera��es mais jovens s�o mais propensas a adotar algum tipo de relacionamento n�o-monog�mico que as gera��es mais velhas.

 

Segundo um estudo da empresa de pesquisas YouGov com 1.300 norte-americanos adultos, realizado em 2020, 43% dos millennials afirmaram que sua rela��o ideal seria n�o-monog�mica, embora apenas 30% das pessoas da gera��o X afirmem o mesmo. E, de forma geral, uma pesquisa de 2016 que sintetiza dois estudos norte-americanos diferentes demonstrou que 20% dos participantes tiveram, em algum momento, relacionamentos consensualmente n�o-monog�micos.

 

Mas esses estudos n�o detalham os n�meros para os tipos espec�ficos de relacionamentos n�o-monog�micos, de forma que � imposs�vel afirmar quantas das pessoas pesquisadas identificam-se com o poliamor solo.

 

Como os adeptos do poliamor solo s�o uma identidade minorit�ria, os conceitos err�neos sobre seus estilos de vida multiplicam-se - desde aqueles que comparam o poliamor solo com ter diversos namoros monog�micos at� encontrar "o escolhido", at� as pessoas que o consideram uma atitude ego�sta ou gananciosa, como querer "ter o melhor de dois mundos".

 

O fato � que existe a tend�ncia de ignorar a defini��o mais flex�vel da express�o, que acaba sendo reduzida a uma fuga da heteronormativa "escada rolante do relacionamento" por pessoas que optam por uma forma alternativa de envolver-se em relacionamentos amorosos e sexuais.

A 'escada rolante do relacionamento'

Duas mulheres na cama
Para muitos adeptos do poliamor solo, essa identidade permite explorar diferentes desejos e experi�ncias sexuais, sem restringir-se �s expectativas heteronormativas. (foto: Getty Images)

 

A express�o poliamor solo ganhou popularidade com o blog Solopolynet, escrito pela jornalista norte-americana Amy Gahran sob o pseud�nimo Aggie Sez.

 

Ela publicou sua primeira postagem, com o t�tulo Riding the relationship escalator (or not) ("Subindo pela escada rolante do relacionamento (ou n�o)", em tradu��o livre), em 2012. Cerca de cinco anos depois, ela escreveu um livro sobre o tema, Stepping Off the Relationship Escalator: Uncommon Love and Life ("Saindo da escada rolante do relacionamento: vida e amor incomuns", em tradu��o livre).

 

Gahran define a "escada rolante" como "o conjunto padr�o de costumes sociais para a conduta adequada nos relacionamentos �ntimos" - em outras palavras, relacionamentos que atingem, ou pretendem atingir, os momentos tradicionalmente marcantes da vida, como morar junto com um parceiro, reunir as finan�as, noivar, casar-se e ter filhos.

 

"Temos esses momentos marcantes ou sinais normalizados de que o relacionamento � s�rio", segundo Rachel Krantz, da Calif�rnia, nos Estados Unidos, autora do livro Open: An Uncensored Memoir of Love, Liberation and Non-Monogamy - A Polyamory Memoir ("Aberta: Mem�rias sem censura do amor, libera��o e da n�o-monogamia - mem�rias do poliamor", em tradu��o livre). "Os adeptos do poliamor solo tendem a evitar interligar sua vida com outras pessoas dessa forma."

 

Embora a defini��o possa parecer restrita, existem muitas formas de adotar o poliamor solo. Essas pessoas tendem a ser alossexuais, segundo Elisabeth Sheff, do Colorado, nos Estados Unidos, autora de livros que incluem The Polyamorists Next Door ("Os adeptos do poliamor � nossa volta", em tradu��o livre), o que significa que eles tendem a experimentar desejos sexuais - mas outros s�o assexuais e mant�m diversos relacionamentos n�o sexuais.

 

Eles tamb�m tendem a "valorizar sua independ�ncia", segundo Sheff, mas alguns t�m relacionamentos n�o amorosos muito importantes nas suas vidas, que colocam em primeiro lugar. "O pai ou m�e solteira que prioriza seus filhos sobre todos os demais relacionamentos pode ser adepto do poliamor solo", segundo Sheff, bem como algu�m que seja cuidador de uma pessoa portadora de defici�ncia.

 

O poliamor solo tamb�m n�o precisa durar para sempre. Algu�m poder� identificar-se com o poliamor solo hoje, mas ainda acabar entrando em um relacionamento mais tradicional, compartilhando sua casa ou finan�as no futuro - e n�o precisa ser uma identidade fixa para ser v�lido, segundo Zhana Vrangalova, consultora e pesquisadora sexual de Nova York, nos Estados Unidos.

 

Na verdade, Chris tem interesse em encontrar um parceiro principal algum dia, mas afirma que, enquanto isso, o poliamor solo "me permite namorar, ter experi�ncias com as pessoas, conhecer muitas pessoas diferentes e atende algumas das minhas necessidades". Ele acrescenta que � parecido com o tempo em que ele namorava de forma monog�mica, "exceto porque agora tenho um r�tulo para comunicar �s pessoas quais s�o as minhas inten��es".

 

Vrangalova � originariamente da Maced�nia do Norte e ministra o curso Open Smarter, do qual Chris participou em Nova York. Ela estima que cerca de dois ter�os da sua classe s�o de pessoas que possuem relacionamentos, dos quais pouco mais da metade s�o monog�micos. Mas essas pessoas est�o "tentando descobrir se algum tipo de relacionamento n�o-monog�mico seria ideal para elas".

 

Os demais alunos j� est�o explorando diversas formas de relacionamentos n�o-monog�micos e buscam mais conhecimentos para ajud�-los no processo, ou s�o solteiros em busca de relacionamentos.

 

O poliamor solo n�o � o ideal para todos. Vrangalova faz testes de personalidade com seus alunos para ajud�-los a definir um ou mais estados de relacionamento que possam funcionar melhor para eles.

 

Esses testes incluem perguntas como "o grau de aventura e novidade" de que os participantes precisam ou o quanto de seguran�a que eles exigem nos seus relacionamentos. Os adeptos do poliamor solo, segundo Vrangalova, "normalmente n�o precisam de muita seguran�a no relacionamento".

 

Mas s� porque algu�m que se identifica com o poliamor solo pode n�o precisar do mesmo grau de seguran�a de algu�m em uma parceria monog�mica de longo prazo, isso n�o quer dizer que eles n�o possam ou n�o venham a formar la�os profundos e duradouros com seus parceiros.

 

Para incentivar esses relacionamentos de confian�a, a educadora sexual Powell, que se identifica com o poliamor solo, afirma que eles s�o muito abertos com seus parceiros potenciais sobre seus desejos e necessidades.

 

"Eu n�o vou deixar de perguntar [o que eu quero em um relacionamento] s� porque estou preocupada porque voc� vai dizer n�o", dizem eles. "Se as pessoas dizem n�o, elas dizem n�o, e n�s decidimos para onde vamos a partir dali."

O ant�doto para o 'privil�gio dos casais'?

casal de homens
Mesmo as pessoas que se identificam com o poliamor solo podem formar relacionamentos significativos com parceiros. (foto: Getty Images)

 

Muitos estigmas em torno do poliamor solo v�m da falta de compreens�o geral do motivo pelo qual algumas pessoas n�o querem o chamado relacionamento tradicional "s�rio". Os estere�tipos dos adeptos do poliamor solo incluem "ego�smo, fuga ou confus�o de v�rias formas", segundo Vrangalova.

 

Al�m disso, o poliamor solo � marcado pela falta de ado��o dos marcos do relacionamento, como casamento e filhos - que tamb�m s�o considerados marcos da idade adulta.

 

"As pessoas que consideramos 'adultas' s�o casadas, t�m filhos, vivem juntas e compartilham as finan�as", afirma Powell. "J� os 'adultos inst�veis' como eu, que vivem sozinhos e n�o se casaram, s�o exemplos de tudo o que h� de errado na sociedade."

 

� claro que os adultos podem viver sozinhos com muito sucesso e ser autossuficientes. Para aqueles que se identificam com o "poliamor solo", isso tamb�m n�o significa que eles "n�o se importam com as pessoas", segundo Sheff. "Eles simplesmente n�o querem organizar sua vida de forma centralizada em torno de um parceiro amoroso."

 

Esses preconceitos acompanham outra for�a social conhecida como o "privil�gio dos casais". O significado dessa express�o � amplo e inclui tanto as vantagens que os casais t�m na sociedade com rela��o aos solteiros (como os benef�cios financeiros do casamento e da uni�o est�vel) e a postura de que, em um relacionamento poliamoroso, por exemplo, o sucesso do casal prim�rio deve ser priorizado e todas as demais a��es dos parceiros devem ser tomadas considerando a preserva��o daquele relacionamento prim�rio.

 

Esses estigmas e expectativas sociais podem representar bloqueios para que as pessoas se identifiquem com o poliamor solo. Quando Powell estava em um relacionamento poliamoroso em Savannah, no Estado da Ge�rgia (Estados Unidos), por volta de 2014, eles tentaram encontrar um terapeuta favor�vel � n�o-monogamia, sem sucesso. Isso os levou a preencher a lacuna e Powell abriu seu pr�prio consult�rio particular dirigido a pessoas que se identificam como n�o-monog�micas, queer, kinky e/ou trans.

 

Mesmo nos c�rculos da psicologia, persiste a falta de conhecimento sobre o poliamor, que dir� sobre o poliamor solo. Sheff � parte da Divis�o 44, um subgrupo da Associa��o Norte-Americana de Psicologia que desenvolve materiais educativos sobre o poliamor para conselheiros e terapeutas.

Mais do que apenas namorar por a�

Em �ltima an�lise, o poliamor solo � muito mais do que uma forma de namorar diversos parceiros vivendo sozinho. � uma rejei��o dos padr�es de relacionamento heteronormativos.

 

"Para mim, grande parte do poliamor solo envolve descobrir formas de concentrar-me na minha pr�pria autonomia, na autonomia dos outros e questionar sinceramente o que eu quero em um relacionamento, em vez de considerar que todo relacionamento segue a f�rmula da escada rolante", segundo Powell.

 

Da mesma forma, Chris foi atra�do pelo r�tulo de poliamor solo por permitir que ele pensasse sobre os relacionamentos e os abordasse de forma diferente. Ele conta que as formas de relacionamento que acompanharam seu desenvolvimento n�o faziam sentido para ele. Antes da legaliza��o do casamento gay nos Estados Unidos, ele tinha relacionamentos sexuais com pessoas que ele sabia que nunca poderiam se casar.

 

Hoje, Chris afirma que n�o eliminaria totalmente a perspectiva de casamento, mas n�o � exatamente um admirador dessa institui��o. "Como pessoa queer, bissexual, n�o gosto da estrutura heteronormativa do casamento", afirma ele. "Quero me rebelar contra isso."

 

Leia a �ntegra desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Worklife.

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