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Estado de Minas PRECONCEITO AMARELO

Ex-BBB Juliette se desculpa nas redes por usar termo 'japinhas'

Palavra � considerada pejorativa pela comunidade amarela, mas internautas dividem opini�es


26/04/2022 17:25 - atualizado 26/04/2022 18:07

Tuíte de Juliette com os dizeres: 'Quero pedir perdão por ter usado o termo 'japinhas' durante o space de hoje. Entendi, logo em seguida, que essa expressão que machuca pessoas. Isso não acontecerá jamais. Perdão'
Juliette se desculpa por ter utilizado o termo "japinhas": "Quero pedir perd�o" (foto: Twitter/Reprodu��o)

Em uma live de �udio no Twitter realizada nesta segunda-feira (25/4) pela ex-BBB Juliette Freire, a sister utilizou o termo "japinhas" para se referir a um grupo de cantoras coreanas. Ao ser comunicada que a palavra possui um teor pejorativo para a comunidade amarela, Juliette publicou em seu perfil que isso n�o acontecer� mais, pedindo desculpas.

Com a retrata��o, muitos internautas apareceram para comentar sobre a situa��o. Alguns deles, elogiando a atitude da artista em reconhecer o erro e outros, se posicionando contra uma milit�ncia excessiva que problematiza pautas que consideram irrelevantes.



Usu�rios pertencentes � comunidade amarela tamb�m divergem quanto ao uso do termo, mas muitos n�o aprovam e o consideram pejorativo, relacionando o conformismo de alguns com a necessidade de aceita��o pelos n�o-racializados.


Al�m do pedido de desculpas, a ex-BBB compartilhou o link de uma reportagem da revista Trip sobre preconceito amarelo, que explica sobre como estere�tipos s�o prejudiciais a essa parcela da popula��o e sobre a crescente onda de racismo anti-amarelo ap�s o in�cio da pandemia do novo coronav�rus.

Termo depreciativo

Os termos "japa", ou "japinha", como utilizado por Juliette em sua live do �ltimo dia 25, t�m rela��o com a palavra "jap" que, apesar de ter sido muito usado durante a Segunda Guerra Mundial, j� foi registrada em a��es racistas anti-amarelas ainda nos anos 1920 nos EUA. A palavra se refere aos japoneses e ao Jap�o Imperial e ganhou for�a num momento de receio dos estadunidenses em rela��o ao Perigo Amarelo, movimento de medo existencial para com pa�ses leste-asi�ticos relacionados ao racismo e � xenofobia.

Mulher branca aponta para uma placa com os dizeres 'Japs keep moving, this is a white man's neighourhood', traduzido para 'Japs, continuem se mudando, este é um bairro de homens brancos'
Medo do Perigo Amarelo despertou sentimentos racistas e xenof�bicos para com a popula��o amarela, principalmente japonesa, nos EUA (foto: L.A. Public Library/Reprodu��o)

Os crimes de guerra e as atrocidades cometidas pelo Jap�o Imperial foram respons�veis por um sentimento racista e xenof�bico com imigrantes e descendentes de japoneses nos EUA, que se intensificou logo ap�s o ataque japon�s � base naval estadunidense Pearl Harbor em dezembro de 1941. O termo, ent�o, passou a ser considerado, al�m de uma ofensa, depreciativo.

No contexto brasileiro, "japa", al�m de refletir uma conota��o negativa, tamb�m � utilizado para despersonalizar indiv�duos da comunidade amarela, que possuem ascend�ncias e hist�rias pr�prias. Reduzidas a uma palavra que generaliza diversas etnias, ainda s�o cercadas pelo fetichismo e pelo preconceito anti-amarelo.

Campos de concentra��o para japoneses

Como resposta ao ataque a Pearl Harbor, o ent�o presidente estadunidense, Franklin D. Roosevelt, assinou uma ordem executiva autorizando a cria��o de 10 campos de concentra��o no Oeste dos EUA direcionados aos nipo-americanos em 1942.

Sob o argumento de que poderiam ser "simpatizantes do inimigo", o governo obrigou imigrantes e descendentes de japoneses a se desfazerem de suas posses. Estima-se que cerca de 120 mil pessoas foram enviadas a esses campos, onde eram separadas e identificadas por n�meros.

Homem branco parado em frente a um campo ao lado de uma placa com os dizeres 'No japs allowed to reside in Kane County', traduzido para 'Japs proibidos de residir no Condado de Kane'
Sob o argumento de que poderiam ser "simpatizantes do inimigo", imigrantes e descendentes japoneses foram obrigados a se desfazerem de suas posses (foto: J. Willard Marriott Library/Universidade de Utah/Reprodu��o)

"Assim como na Alemanha nazista, fomos colocados em campos de concentra��o", relatou a nipo-americana Joyce Nakamura Okazaki � ag�ncia de not�cia Reuters. Ela tinha sete anos quando sua fam�lia foi for�ada a deixar sua casa, em Los Angeles, para morar em um dos campos, e conta que n�o chegou a testemunhar pris�es e torturas, mas que "fic�vamos sob constante amea�a se cheg�ssemos perto das cercas de arame farpado", completou.

Sobre o tema, popularizou-se nos �ltimos anos a HQ "Eles nos Chamavam de Inimigo", uma autobiografia do autor George Takei, distribu�da no Brasil pela editora Devir.

Capa e contra capa do livro 'Eles nos Chamavam de Inimigo'. A capa mostra uma ilustração de um menino nipo-americano olhando para trás enquanto está num fila vigiada por um guarda. Ao final da fila, está o campo de concentração. A contra capa possui a ilustração da família do menino com a representação da bandeira imperial japonesa ao fundo.
O livro "Eles nos Chamavam de Inimigo" se popularizou nos �ltimos anos (foto: Editora Devir/Reprodu��o)

Reflexos no Brasil

No Brasil, tamb�m h� registros de campos de concentra��o para japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, logo ap�s a decis�o do pa�s em romper rela��es com os pa�ses do Eixo. Um dos maiores ficava na cidade de Tom�-A�u (AM), que ainda preserva muito da cultura japonesa e que ainda abriga cerca de mil descendentes.

"� uma sociedade cuja cultura local permeia-se por tra�os fortemente marcados pela cultura japonesa", diz Elton Sousa, professor e pesquisador da Universidade Federal do Par� (UFPA) e coautor do livro e document�rio Por terra, c�u e mar: hist�rias e mem�rias da Segunda Guerra Mundial na Amaz�nia em entrevista � BBC News.

Negativo mostra o trapiche municipal de Tomé-Açu
Trapiche municipal de Tom�-A�u, cujo �nico acesso � regi�o era via barco (foto: Museu da Imigra��o Japonesa/Reprodu��o)

Apesar de n�o se comparar aos campos de exterm�nio da Alemanha nazista, o campo brasileiro era marcado por priva��es extremas. Bens dos imigrantes eram confiscados, correspond�ncias eram censuradas nas ag�ncias de correio de Bel�m e reuni�es com outros habitantes eram proibidas.

"As pessoas eram vigiadas diariamente pelas for�as policiais locais para n�o se comunicarem umas com as outras. Caso fossem pegas com tal pr�tica, seriam penalizadas", explica Sousa.

"Se houvesse tr�s ou quatro japoneses juntos, conversando, a pol�cia levava embora, presos. N�o tinha liberdade", conta Hajime Yamada, morador de Tom�-A�u que vivenciou parte dessa hist�ria. "Eles pensavam que estiv�ssemos planejando neg�cios de guerra, mas n�o tinha nada disso", completa.

Em 2011, a Assembleia Legislativa do Amazonas fez um pedido oficial de desculpas a imigrantes japoneses pelos abusos cometidos durante a Segunda Guerra.


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