(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas PRECONCEITO

'Pensavam que eu era branco por ser fluente em ingl�s e franc�s': como o racismo dificulta que negros brasileiros avancem nos estudos e na carreira

Brasil tem uma das maiores popula��es negras do mundo, mas apenas 6% ocupam cargos de ger�ncia no mercado de trabalho


14/05/2022 10:45 - atualizado 14/05/2022 11:05


Luana Genot
Luana Genot se sentiu reprimida por causa da cor de sua pele (foto: Jorge Bispo)

"Sentia que minha carreira estava sendo limitada pelo meu tom de pele. Ouvia que n�o combinava com o perfil. Ou que n�o seria algu�m que eles promoveriam", lembra Luana Genot.

Luana conta n�o ter as melhores lembran�as quando buscava um emprego na �rea de comunica��o. Mas, em vez de simplesmente ficar com raiva, decidiu fazer algo a respeito: agora � diretora-executiva do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), uma ONG que ajuda as empresas a mudar sua cultura em torno de funcion�rios negros.

No entanto, o in�cio profissional na vida de Luana foi muito diferente. Ela come�ou a modelar quando ainda era adolescente e morava no Rio, e sua carreira na moda a levou por todo o mundo, de Londres a Paris, passando pela �frica do Sul.

O trabalho pode parecer glamoroso � primeira vista, mas ela conta que se sentiu exclu�da por causa da cor de sua pele, j� que os clientes muitas vezes n�o conseguiam imaginar algu�m como ela representando suas marcas.

Quando parou de modelar e voltou para casa, encontrou os mesmos obst�culos.

'Falsa democracia racial'

Mais de 50% dos brasileiros se definem como pretos ou pardos, segundo o Censo.

No entanto, dados de 2016 mostram que os negros ocupam apenas cerca de 6% dos cargos gerenciais e recebem em m�dia 44% menos no geral.

"Aqui existe esse mito da democracia racial em que todos, independentemente do tom de pele, podem ser bem-vindos. E isso � falso", diz Luana. "A mensagem para mim foi que este para�so n�o existe. Precisamos constru�-lo."

� exatamente isso que ela est� tentando fazer com seu instituto — ajudar as empresas brasileiras a serem mais "antirracistas ativamente", em suas pr�prias palavras.

Ela v� o quanto empresas se beneficiam em atrair e manter talentos negros que n�o conseguiriam ingressar no mercado corporativo de outra forma.

"Isso n�o � um favor para os negros. As empresas precisam desses negros para pensar em produtos e servi�os que atendem a maioria brasileira."

Mudan�a no topo

As coisas come�aram a mudar nos �ltimos anos. A a��o afirmativa encontrou terreno f�rtil no Brasil. Institui��es estatais e universidades p�blicas estabeleceram cotas para trabalhadores e estudantes negros.

Mas para algumas pessoas, as cotas n�o s�o suficientes para fazer a diferen�a. H� pouco mais de um ano, Luiza Trajano, propriet�ria do Magazine Luiza, maior varejista do Brasil, decidiu abrir seu cobi�ado programa de trainee de gest�o apenas para candidatos negros.


Luiza Trajano
Luiza Trajano instituiu um trainee s� para candidatos negros (foto: Magazine Luiza)

Trajano, que � branca, come�ou a trabalhar na pequena loja de presentes de sua fam�lia em Franca, no interior de S�o Paulo, inaugurada em 1957. Ela assumiu as r�deas do neg�cio em 1991 e o transformou em um gigante do varejo, vendendo de tudo, de hidratantes a MacBooks. Ela diz que as preocupa��es com seu pr�prio vi�s inconsciente sobre o racismo motivaram-na a implementar a��es afirmativas em sua empresa.

A empres�ria lembra que em suas festas de anivers�rio ou em sua casa nunca havia mulheres negras presentes. E sentiu que precisava fazer algo sobre isso.

Trajano descobriu que 52% das pessoas que trabalhavam para o Magazine Luiza eram negras, mas no n�vel gerencial esse n�mero se limitava a 16%.

Todos os anos, o Magazine Luiza reservava algumas vagas no programa de trainee de gest�o para negros, mas ningu�m se candidatava.

Tudo mudou quando a empresa decidiu abrir uma convocat�ria exclusivamente para negros. O resultado foi surpreendente: 21 mil se candidataram a 20 vagas. A empresa tamb�m garantiu que os novos trainees recebessem os mesmos sal�rios que seus colegas brancos.

"Agora quando voc� olha os corredores da empresa, v� muito mais funcion�rios negros do que antes. Me parece que eles sentem que pertencem a esse lugar, independentemente do cargo", diz Trajano � BBC.

Falta de representa��o

As tentativas de melhorar o recrutamento e a promo��o de funcion�rios negros s�o apenas um lado da moeda. O acesso � educa��o pode ser dif�cil para muitos jovens negros.


Alabe Nujara na sua formatura em 2013
Alabe Nujara foi o primeiro de sua fam�lia a frequentar a universidade (foto: Arquivo pessoal/Alabe Nujara)

Alabe Nujara, que hoje trabalha para a ONG Instituto Guetto, em S�o Paulo, foi um dos respons�veis pela bem-sucedida campanha de implanta��o de cotas para alunos carentes em institui��es federais. Quando, em 2009, se tornou o primeiro da fam�lia a entrar na universidade, n�o viu ningu�m l� que se parecesse com ele.

Mas, apesar de ser um estudante e ativista de sucesso, Nujara achou muito desafiador ser um homem negro tentando seguir uma carreira em rela��es p�blicas. Sua impress�o � que os negros t�m muito mais chances em empresas internacionais com sede no pa�s.

Quando finalmente obteve um emprego em uma companhia francesa, ele conta que as pessoas ficavam constantemente surpresas por ele ser negro ao conhec�-lo. A ideia em telefonemas e e-mails era que algu�m em sua posi��o, fluente em franc�s e ingl�s, deveria ser branco.


Nujara
Nujara diz que � mais f�cil trabalhar para empresas estrangeiras (foto: Arquivo pessoal/Alabe Nujara)

E essa evid�ncia aned�tica � ecoada na pesquisa feita por Graziella Moraes Silva, professora brasileira de sociologia e antropologia que atualmente trabalha no "Graduate Institute", na Su��a.

De volta ao seu pa�s de origem, ela pesquisou as experi�ncias de profissionais negros no Brasil.

Moraes Silva descobriu que, para muitos, a primeira vez que se sentiram bem por serem negros em suas carreiras foi nos Estados Unidos.

"O que, eu acho, diz algo sobre o tipo de reconhecimento que essas pessoas n�o estavam recebendo no Brasil", diz ela.

A professora assinala que o Brasil — o �ltimo pa�s das Am�ricas a abolir a escravid�o em 1888 — procurou projetar a imagem de um pa�s de ascend�ncia mesti�a, onde a cor da pele de uma pessoa n�o importa.

Para Luana Genot, h� uma cren�a genu�na de que o tipo de mudan�a pela qual ela est� trabalhando � alcan��vel em sua vida.

"Trabalho para n�o existir mais", diz ela em tom de brincadeira.

"Em 50 anos, quero andar pelas empresas e ver mais profissionais negros como gerentes, como diretores. N�o quero mais que essa luta seja necess�ria."

Ou�a mais sobre as dificuldades de profissionais negros no mercado de trabalho brasileiro para se sentirem aceitos e receberem promo��es, ou�a a reportagem de Ivana Davidovic no programa di�rio de neg�cios da BBC World.

Sabia que a BBC est� tamb�m no Telegram? Inscreva-se no canal.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)