
O m�s de setembro � conhecido pela Campanha de Preven��o ao Suic�dio, Setembro Amarelo, e � uma iniciativa que partiu da Associa��o Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2014 e passou a incluir o apoio do Centro de Valoriza��o da Vida (CVV) em 2015. No Brasil, cerca de 12 mil pessoas tiram a pr�pria vida e, dentre elas, jovens pretos s�o o maior n�mero, segundo pesquisa da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS).
O risco de suic�dio entre jovens negros do sexo masculino entre 10 e 29 anos � 45% maior do que entre jovens brancos da mesma faixa et�ria. Os dados s�o de pesquisa realizada pelo Minist�rio da Sa�de e pela Universidade de Bras�lia (UnB), publicada em 2018, e revelam a influ�ncia do racismo e da exclus�o social no incentivo � pr�tica por esse grupo.
De acordo com dados publicados pelo F�rum Brasileiro de Seguran�a P�blica em 2021, 76,2% das pessoas assassinadas em 2020 eram negras e a chance de um negro ser vi%u0301tima de homici%u0301dio no Brasil e%u0301 2,6 vezes maior do que a de uma pessoa n�o-negra. Entre os anos de 2009 e 2019, o nu%u0301mero de negros mortos subiu 1,6% enquanto o nu%u0301mero de na%u0303o negros mortos caiu 33%.
Racismo e exclus�o social
Para entender como o racismo e a exclus�o social operam como potencializadores de tentativas de suic�dio entre jovens pretos no Brasil, � preciso retomar dados hist�ricos da �poca em que o Brasil passou a ser colonizado e pessoas negras, escravizadas. � o que explica Jeanne Saskya Campos Tavares, psic�loga, mestre em Sa�de Comunit�ria, doutora em Sa�de P�blica e docente na Universidade Federal do Rec�ncavo Baiano (UFRB).
“No passado, por diferentes meios, pessoas negras davam fim �s suas pr�prias vidas e de seus filhos para que n�o fossem submetidos aos horrores da escraviza��o. Atualmente, o racismo continua diretamente ligado � idea��o e comportamento suicida, pois n�o se trata de um problema individual, mas sim de um processo coletivo e se relaciona com a necessidade do jovem negro de cessar um intenso sofrimento atrav�s da morte”, afirma ela.
Bruno Mota, mestre em Psicologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), pesquisador do Laborat�rio de Psicologia e Informa��es Afro-Descendentes (LAPSIAFRO) e docente universit�rio, tamb�m afirma que a quest�o n�o � apenas de sa�de p�blica, mas tamb�m de problemas hist�ricos. Para ele, os n�meros das pesquisas sobre o tema s�o um reflexo do racismo no pa�s, cujos efeitos s�o capazes de moldar como pessoas negras se enxergam e s�o vistas na sociedade.
"A popula��o negra vive uma esp�cie de estresse p�s-traum�tico cont�nuo. Cada experi�ncia de discrimina��o vai ativar esse estilha�o traum�tico e causar adoecimentos. Al�m disso, a maneira como o Estado e a m�dia colocam as juventudes negras como potenciais criminosos sustenta um imagin�rio prejudicial � sa�de", diz ele.
Para Jeanne, � importante relacionar os dados das pesquisas referentes ao suic�dio com o racismo, uma vez que este � considerado um grande fator de vulnerabilidade, principalmente para jovens negros, que lidam com diferentes quest�es sociais, viol�ncia no ambiente escolar desde a inf�ncia e baixa auto-estima.
“Ele impede o acesso aos direitos de cidadania e exp�e as pessoas negras a m�ltiplas viol�ncias cotidianas, que envolvem desde situa��es continuadas de humilha��o p�blica at� a possibilidade de encarceramento ou sua pr�pria morte. Essas experi�ncias comprometem significativamente a sa�de mental da maioria das pessoas negras, pois se relacionam com a baixa qualidade de vida e com a impossibilidade de receber apoio social em diferentes contextos”, explica.
Alguns outros fatores menos �bvios, que incentivam o suic�dio entre a popula��o negra, s�o derivados do racismo estrutural, a exemplo da viol�ncia dom�stica – que acomete mais mulheres negras –, diferen�a salarial e de cargos entre negros e brancos e inseguran�a alimentar. Durante os anos de 2020 e 2021, a pandemia tamb�m impactou diretamente a sa�de mental de jovens negros.
“Eles foram expostos a uma maior inseguran�a do que j� viviam. N�o era apenas o risco de contamina��o pelo v�rus, pois muitos continuaram desenvolvendo atividades laborais, geralmente informais, junto com suas fam�lias, mas tamb�m tiveram que lidar com a morte e adoecimento dos seus familiares e conhecidos que, em sua maioria, n�o puderam estar em trabalho remoto”, afirma Jeanne.
A psic�loga tamb�m explica que, durante a pandemia, os jovens tiveram que experienciar dificuldades relacionadas � perda de emprego e ao empobrecimento coletivo, al�m da paralisa��o das atividades escolares, respons�vel por um ambiente reconhecido como protetor que d� acesso � alimenta��o e ao contato social di�rio, ainda que com suas limita��es. Ela afirma que pol�ticas afirmativas e de redistribui��o de renda tamb�m fazem parte da preven��o.
“� importante salientar que a sa�de mental da popula��o negra est� diretamente associada � nossa qualidade de vida, por isso todas as pol�ticas que nos permitam viver numa sociedade equ�nime, com acesso � alimenta��o, �gua, justi�a, paz, trabalho, moradia, liberdade de tr�nsito nas cidades, sa�de, educa��o, descanso, dentre tantos outros direitos humanos, s�o tamb�m produtoras de sa�de mental e nos protegem em rela��o ao suic�dio”, ressalta ela.
CVV e CAPS
Centro de Valoriza��o da Vida - Caso voc� esteja pensando em cometer suic�dio, procure ajuda especializada como o CVV (Centro de Valoriza��o da Vida) e os CAPS (Centros de Aten��o Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e tamb�m atende por e-mail, chat e pessoalmente. S�o mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.
Sob a orienta��o de M�rcia Maria Cruz
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