
Levantamento realizado pela reportagem aponta que os novos governos dos 26 estados e do Distrito Federal ter�o, em m�dia, 28% dos cargos de primeiro escal�o ocupados por mulheres.
Os dados incluem secretarias, secretarias extraordin�rias, Casa Civil, Casa Militar, Controladoria e Procuradoria-Geral do Estado. N�o foram contabilizadas autarquias, empresas p�blicas, secretarias-executivas ou �rg�os que sejam subordinados a uma pasta estadual.
Dentre as 27 unidades da Federa��o, Alagoas, Cear�, Pernambuco e Amap� s�o os �nicos que ter�o equival�ncia no n�mero de homens e mulheres em cargos de primeiro escal�o.
Dentre eles est�o os dois �nicos estados que elegeram mulheres em 2022: Pernambuco, governado por Raquel Lyra (PSDB), e o Rio Grande do Norte, comandado por F�tima Bezerra (PT).
A nova gest�o de Pernambuco tem uma equipe de 27 secret�rios estaduais, sendo 14 homens e 13 mulheres. Contando com Raquel Lyra e a vice-governadora, Priscila Krause (Cidadania), ser� uma equipe majoritariamente feminina no comando do estado.
A governadora afirmou � Folha que, ao montar uma equipe com paridade, pretende trazer uma vis�o feminina para o governo, participa��o que considera fundamental para conceber de pol�ticas p�blicas que atendam a popula��o como um todo.
Em Alagoas, o governador Paulo Dantas (MDB) tem maioria feminina em sua equipe, com 14 secretarias lideradas por mulheres e 13 comandadas por homens.
Mulheres est�o no comando de pastas como Gabinete Civil, Desenvolvimento Econ�mico, Planejamento, Turismo e Agricultura. A secretaria Extraordin�ria da Primeira Inf�ncia � ocupada por Paula Dantas, filha do governador.
Dantas diz querer que a presen�a feminina seja uma marca de sua gest�o: "Tenho um desejo que meu estado, sempre conhecido por ser terra de cabra macho, passe a ser lembrado nacionalmente por ser terra de mulheres brilhantes."
O Cear� � outro estado com equidade de g�nero: o governador Elmano de Freitas (PT) tem 16 secret�rios homens e 16 mulheres. A conta do governo inclui a presid�ncia do Conselho Estadual de Educa��o, que tem status de secretaria no estado.
No Amap�, o governador Cl�cio Lu�s (Solidariedade) formou sua equipe com 31 secret�rios, sendo 15 mulheres. A presen�a feminina no primeiro escal�o inclui as pastas de Educa��o e Sa�de, ambas com or�amento robusto.
Por outro lado, 16 estados ter�o um patamar inferior a 30% de mulheres no comando de secretarias estaduais. Todos eles s�o governados por homens.
O Par� � o estado que, proporcionalmente, ter� menor presen�a feminina. O governador Helder Barbalho (MDB) iniciou seu segundo mandato com 25 secret�rios, sendo 3 mulheres.
Procurado, o Governo do Par� destacou que ainda tem mulheres no comando da Junta Comercial, de um �rg�o ambiental, de uma funda��o, um hospital, dentre outros cargos.
O Paran� tem cen�rio semelhante com 3 mulheres entre os 26 secret�rios nomeados pelo governador Ratinho J�nior (PSD). O n�mero era ainda menor neste in�cio de ano, quando at� a Secretaria das Mulheres e Igualdade Racial chegou a ser ocupada interinamente por um homem.
Ap�s press�o de entidades da sociedade civil, caso do movimento suprapartid�rio Vote Nelas, o governador nomeou deputada federal Leandre Dal Ponte para o cargo.
Em nota, o Governo do Paran� informou que foi a atual gest�o que criou a Secretaria da Mulher e Igualdade Racial e disse que vai fortalecer iniciativas de valoriza��o das mulheres. Tamb�m destacou que o governo tem mulheres nomeadas em cargos de chefia em superintend�ncias e diretorias.
A despeito do crescimento da participa��o feminina em compara��o a gest�es anteriores, ainda s�o poucas as mulheres ocupando pastas que tradicionalmente s�o comandadas por homens.
Na Seguran�a P�blica ou �rg�os correlatos, por exemplo, h� apenas uma secret�ria mulher: a delegada Carla Patr�cia Cunha, secret�ria de Defesa Social de Pernambuco.
O cen�rio � semelhante em pastas que cuidam da gest�o dos pres�dios. H� apenas uma mulher no comando de uma secretaria de Administra��o Penitenci�ria: a policial penal Maria Rosa Lo Duca Nebel, do Rio de Janeiro.
No comando das secretarias estaduais da Fazenda ou Economia s�o apenas tr�s mulheres: Cristiane Schmidt (Goi�s), Priscila Santana (Rio Grande do Sul) e Sarah Andreozzi (Sergipe).
Por outro lado, as mulheres s�o maioria em pastas ligadas � quest�o social. S�o 19 mulheres e 8 homens no comando desta �rea nos estados. Em dois casos –Rond�nia e Sergipe– a pasta � ocupada pela primeira-dama do estado.
Na avalia��o de Gisele Agnelli, cofundadora do Vote Nelas, a nomea��o de mulheres para o primeiro escal�o dos governos reproduz a l�gica de uma divis�o sexual do trabalho: "Em geral, as mulheres s�o colocadas em caixinhas e acabam sendo nomeadas para �reas como a social", avalia.
Movimentos como o "Elas no Or�amento" tem tentado subverter essa l�gica, intensificando a press�o por mais mulheres em �reas que tradicionalmente s�o comandadas por homens.
O sistema de presidencialismo de coaliz�o, que se replica nos estados, � outro ponto que dificulta uma maior participa��o feminina. Isso porque os comandos dos partidos s�o majoritariamente formados por homens que acabam indicando outros homens para cargos de primeiro escal�o.
Na Bahia, por exemplo, o governador Jer�nimo Rodrigues (PT) fez pedidos p�blicos aos aliados para que indicassem mulheres para o primeiro escal�o. No desenho final do secretariado, os partidos da base indicaram 9 secret�rios estaduais, sendo 3 mulheres.
Neste cen�rio, avalia Gisele Agnelli, uma poss�vel maior participa��o feminina depende de indica��es da cota pessoal do governador e do partido a que ele pertence.
Raquel Lyra, governadora de Pernambuco, destaca a import�ncia de ocupar os espa�os de poder e de estimular que outras mulheres fa�am o mesmo.
"Quando era mais jovem, eu s� tinha refer�ncias masculinas na pol�tica. No final da campanha, em uma caminhada na rua, vi umas meninas brincando de fazer debate. Elas v�o crescer com essa refer�ncia e, se quiserem, v�o poder ocupar esse espa�o quando crescerem. Ele � nosso."