
Um estudo feito pelo Servi�o Brasileiro de Apoio �s Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Minas em parceria com o Data Favela/Instituto Locomotiva mostrou o perfil dos empreendedores e neg�cios das comunidades mineiras. A pesquisa “Empreendedorismo nas favelas de Minas Gerais” foi feita entre setembro e novembro de 2022 com 1.004 empreendedores de comunidades da Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, de Ara�ua�, Montes Claros, Araguari e Congonhas.
De acordo com o relat�rio, entre os empreendedores das favelas mineiras, 87% s�o de baixa renda (classes CDE), 73% s�o negros e 53% cursaram at� o ensino fundamental. Para uma grande parcela deles, os neg�cios come�aram por necessidade e s�o essenciais para compor a renda domiciliar. Boa parte dos empreendedores s�o informais e, entre os formalizados, a maioria � microempreendedor individual (MEI).
Grande parte dos empreendedores atuam sozinhos – apenas 11% t�m funcion�rios e, desses, 93% possuem apenas um funcion�rio; 88% empregam pessoas da pr�pria comunidade; e 46% contratam informalmente.
Os morros e os empreendimentos
Em Minas Gerais, 3% dos domic�lios do estado est�o localizados em favelas, correspondendo a mais de 231 mil moradias na capital e em cidades do interior. Em Belo Horizonte, mais de 12% das habita��es est�o nessas localidades, de acordo com o Intituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).
O estudo “Empreendedorismo nas favelas de Minas Gerais” foi realizado nas comunidades de Belo Horizonte (Aglomerado da Serra, Alto Vera Cruz, Conjunto Taquaril, Morro Alto e Nova Contagem), Ara�ua� (Calhauzinho), Montes Claros (Bairro Cidade Confer�ncia Cristo Rei), Araguari (Bela Su��a – I, II e II, Independ�ncia, S�o Sebasti�o, Monte Moria e Vieno) e Congonhas (Residencial Gualter Monteiro).
O perfil dos empreendedores das favelas mineiras �, majoritariamente, maior de 30 anos (83%), masculino (72%), negro (73%), chefe de fam�lia (61%) e apenas com ensino fundamental completo (58%). Grande parte dos entrevistados (91%) t�m empreendimentos na pr�pria comunidade onde residem, sendo 41% deles funcionando em um ponto comercial; 26% na pr�pria resid�ncia; e 18% na rua.
Sobre pr�s e contras de empreender e n�o ter a carteira assinada, 46% dos entrevistados afirmam que ser seu pr�prio chefe � a principal vantagem de empreender e 35% dizem que a flexibilidade de hor�rio tamb�m � interessante. No entanto, entre os pontos desfavor�veis est�o n�o poder ter um sal�rio fixo (44%) e n�o ter acesso a benef�cios como vale refei��o/alimenta��o, transporte e plano de sa�de.
O estudo tamb�m aponta que metade dos empreendedores das comunidades mineiras come�ou a empreender por necessidade, e 45% abriram o neg�cio por enxergar uma oportunidade no mercado. Para 90% deles, seus neg�cios s�o essenciais para compor a renda domiciliar e o faturamento representa ao menos metade da renda da casa.
Apesar da import�ncia do neg�cio para a renda em casa, 69% dos empreendedores das comunidades s�o informais. Entre os 31% dos formalizados, a maioria (79%) s�o microempreendedores individuais (MEI). Para o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, Marcelo Souza e Silva, quanto mais vulner�vel o empreendedor, menor tende a ser sua taxa de formaliza��o. “Vimos uma propor��o de formaliza��o maior do que a m�dia entre os empreendedores mais escolarizados, com maior renda e n�o negros, que t�m faturamento mensal acima de R$ 2 mil e que moram na capital mineira ou na Regi�o Metropolitana”, afirma ele.
“Mas tamb�m � importante lembrar que o estado conta com quase 2 milh�es de empreendedores, que movimentam mais de R$ 84 bilh�es por ano. Somente os empreendedores de menor renda injetam mais de R$ 30 bilh�es anualmente na economia do estado”, complementa Marcelo Souza e Silva.
Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva e fundador do Data Favela, diz que, apesar de muitos dos empreendedores terem come�ado a empreender por conta de oportunidades, outros tiveram a necessidade disso para complementar a renda de casa. “A maioria ainda n�o se enxerga como empreendedor, imaginam que o termo se refere somente a neg�cios mais estruturados, com maior faturamento e clientela”, explica.
Crescimento na pandemia
Logo no in�cio do per�odo de pandemia da COVID-19 em 2020, o Brasil registrou o maior n�mero de empreendedores de sua hist�ria. Nos nove primeiros meses daquele ano, o n�mero de microempreendedores individuais (MEIs) no pa�s cresceu 14,8% na compara��o com o mesmo per�odo de 2019, chegando a 10,9 milh�es de registros.
Impulsionados pela crise gerada pelo coronav�rus, os brasileiros procuraram no empreendedorismo uma alternativa de renda. Uma estimativa feita na �poca pelo Sebrae mostrou que aproximadamente 25% da popula��o adulta estaria envolvida na abertura de um novo neg�cio ou com uma empresa com at� 3,5 anos de atividade.
“Diante da situa��o econ�mica do pa�s agravada pela pandemia, muitos trabalhadores ficaram desempregados ou tiveram dificuldades de recoloca��o no mercado, impactando diretamente na redu��o da renda familiar. Foi justamente no empreendedorismo, mesmo que sem muito planejamento, que homens e mulheres encontraram uma alternativa de ocupa��o e renda. Uma realidade vivenciada tanto por empreendedores da capital como tamb�m do interior do estado”, explica Marcelo Souza e Silva.
Para Carlos Melles, presidente nacional do Sebrae, "o desemprego est� levando as pessoas a se tornarem empreendedoras. N�o por voca��o genu�na, mas pela necessidade de sobreviv�ncia".
Incentivo ao empreendedorismo
A pesquisa “Empreendedorismo nas favelas de Minas Gerais” faz parte das a��es do programa “Comunidade Empreendedora”, uma iniciativa do Sebrae Minas para impulsionar a competitividade dos pequenos neg�cios das favelas mineiras, ampliando o desenvolvimento local por meio da gera��o de emprego e renda.
“Nosso objetivo � melhorar a gest�o desses empreendimentos, estimulando a coopera��o, criatividade e protagonismo dos empreendedores locais, oferecendo qualidade de vida aos moradores das comunidades e gerando novas oportunidades de neg�cios”, justifica o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas.
O pr�ximo passo do programa ser� a realiza��o de um diagn�stico sobre a maturidade dos empreendimentos das comunidades para a cria��o de um plano de a��o, que inclui capacita��es individuais e coletivas sobre gest�o empresarial.
Inicialmente, o projeto vai ser implementado nas comunidades da Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte e dever� se estender para outras favelas do interior do estado.
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