
Quando foi contatado pela R�dio Vaticano, o italiano Giona Dagnese — um homem transg�nero de 22 anos residente em Mil�o com defici�ncia f�sica — aceitou compartilhar sua hist�ria para um suposto projeto da Santa S�, em 15 de julho passado. Na mensagem de �udio enviada ao Vaticano, ele disse que se sentia "sortudo o bastante" por ter recebido o batismo e admitiu que sua f� ajudou-lhe a aceitar suas limita��es f�sicas.
"Ao perceber que era uma pessoa trans, teria preferido n�o acreditar em Deus. Eu me senti puxado entre f� e transexualidade, dois bra�os do meu corpo. Senti que deveria desistir Dele ou de mim, mas sabia que de qualquer maneira estaria perdido. (...) Escolhi seguir em frente, at� encontrar uma estrada nova, subindo, al�m da encruzilhada que julgava ser inevit�vel", acrescentou.
Dez dias depois, na ter�a-feira passada (25/7), Giona se surpreendeu com a leitura de seu depoimento pelo papa Francisco e com a resposta do pont�fice. "O Senhor sempre caminha conosco. Ainda que sejamos pecadores, Ele se aproxima para nos ajudar. (...) O Senhor n�o tem desgosto pelas nossas realidades, nos ama como somos", afirmou Francisco.
O aceno do papa ocorre no momento em que o governo de extrema direita da premi� italiana, Giorgia Meloni, come�a a remover os nomes de m�es LGBTQIAP+ das certid�es de nascimento dos filhos. P�dua tornou-se a primeira cidade a cancelar as certid�es, em car�ter retroativo.
Em entrevista ao Correio , Giona contou que soube que o papa poderia escutar seu depoimento, mas n�o imaginava que a resposta viria, muito menos em um podcast. "Estou muito feliz que isso tenha ocorrido, � algo muito importante para as pessoas LGBTQIAP+, especialmente para as pessoas transg�nero saberem que n�o est�o sozinhas", disse. "Eu j� tinha a certeza do apoio do papa e fico feliz que ele o tenha reiterado. Apenas lamento que a ideia de pecado tenha sido trazida novamente, n�o porque n�o sou um pecador, mas porque minha imperfei��o n�o reside em minha identidade de g�nero ou em minha orienta��o sexual."
"Somos fal�veis"
Giona admitiu que gostou da imagem cuidadosa de Deus. "No entanto, se pudesse responder ao papa apenas apontaria para a quest�o do pecado: somos fal�veis, mas n�o errados em nossa identidade." Para ele, a posi��o de sumo pont�fice exige que Francisco preste aten��o em cada palavra e em como elas ressoar�o mundo afora. "Francisco � um homem de Deus: ele nunca se esquece do Senhor e sempre nos permite sermos guiados por Ele, mas jamais deixa de ser humano", acrescentou o italiano, que iniciou a transi��o de g�nero em 2021.
Na �poca, escutou de pessoas pr�ximas que a mudan�a iria contra os planos de Deus. "Eu sabia que era a �nica coisa correta. Parecia que eu tinha que escolher entre Deus e minha identidade. Para mim, era imposs�vel."
Giona disse crer que Deus nos ama pelo que somos, mas tamb�m lembra que Ele nos criou e nos quis exatamente dessa maneira. "No meu caso, Deus me fez e me quis como uma pessoa com defici�ncia e transg�nero. O esfor�o que eu investi em reconciliar minha f� e minha identidade ajudou-me a perceber qu�o importante Deus era para mim."
Em 2015, Giona foi recebido pelo papa durante uma audi�ncia na Pra�a de S�o Pedro. "Levei meu orat�rio e apertei a m�o do pont�fice. Agora, estou um pouco diferente, mas meu cora��o � o mesmo. Gostaria de agradecer ao papa por seu esfor�o em tornar a Igreja universal."