(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ALIAN�AS SOCIAIS

Pot�ncia LGBT: 'Para Onde Voam as Feiticeiras' estreia em circuito nacional

Filme gira em torno da realidade mesclada com a performance art�stica e mostra como a interseccionalidade � importante em movimentos sociais


30/08/2023 16:50 - atualizado 30/08/2023 18:59
1156

Produção e elenco do filme se reúnem em uma rua movimentada de São Paulo (SP)
"Para Onde Voam as Feiticeiras" estreia nesta quinta-feira (31/8) no circuito nacional (foto: Henrique Hennies/Divulga��o)

Emocionante, potente e corajoso, o filme “Para Onde Voam as Feiticeiras” estreia em circuito nacional nesta quinta-feira (31/8). O document�rio h�brido, que mescla realidade e performance art�stica, � centrado em sete personagens LGBTQIAPN+ – as artistas-ativistas autodenominadas “manas” – e tem tem�tica interseccional, passeando entre movimentos sociais sem teto e sem terra, ind�genas, negros e feministas.

Trechos de arquivos hist�ricos e jornal�sticos trazem impacto � obra, que tenta amplificar vozes frequentemente silenciadas e mostrar como preconceitos de g�nero, de ra�a e de classe impactam no dia a dia de grupos minorizados.

A dire��o coletiva � assinada por Eliane Caff�, Carla Caff� e Beto Amaral, mas o longa foi constru�do horizontalmente com Ave Terrena Alves, Fernanda Ferreira Ailish, Gabriel Lodi, Mariano Mattos Martins, Preta Ferreira, Thatha Lopes e Wan Gomez, as “manas”. Juntos, transformaram o centro de S�o Paulo (SP) em palco aberto para a troca de ideias, talentos e revoltas pessoais – e, no privado, entram em embates e resolvem conflitos entre si –, resultando em um grande encontro de personagens de mundos diferentes que, ora se chocam e entram em contradi��o, ora se apaziguam e se aliam.

Em Belo Horizonte, o longa ter� uma sess�o de estreia no Una Cine Belas Artes �s 17h. Veja o trailer:

Arte e alian�as cotidianas

Atrav�s de intera��es com transeuntes – que s�o convidados a incorporar um personagem (com direito a figurinos criativos) e incentivados a dar uma palavra de protesto, den�ncia ou desabafo –, improvisos c�nicos e rodas de conversa, a obra faz da arte uma aliada ao entrela�ar realidade e fic��o para discutir a marginaliza��o de diferentes grupos na sociedade e mostrar a pot�ncia das alian�as entre movimentos apesar de suas diferen�as.

“A grande quest�o do filme, para mim, �: como � poss�vel criar alian�as? Qual o mecanismo para isso? As alian�as s�o apenas um elemento discursivo nas nossas vidas? A gente vai para casa e elas v�o junto, ou n�o?”, pondera Beto Amaral em entrevista ao EM. De acordo com ele – e com outros membros do elenco –, o processo de firmamento de uma alian�a � doloroso, mas necess�rio.

“A nossa alian�a foi para nos unirmos e entendermos o nosso lugar social. � dolorido fazer alian�as, mas a dor maior � o nosso inimigo que nos oprime e que nos mata todos os dias. Fazer essas alian�as � importante para que a gente tamb�m possa mostrar o poder transformador da alian�a. Afinal, a gente transformou o Brasil ao nos unirmos para tirar o Bolsonaro do poder”, acrescenta Preta Ferreira.

“Percebo que quando a gente lida com minorias e com movimentos [sociais], o nosso est�gio normal � o de conflito. A gente est� sempre em conflito. E fazer alian�as � um esfor�o di�rio de entender o outro, de entender a dor do outro, de entender quais pautas s�o importantes de se discutir e quais voc� pode deixar de lado por um tempo; � estar sempre pensando e repensando o seu lugar em rela��o ao outro, sen�o o conflito vem, e ele � muito violento”, complementa Beto Amaral.

Conflitos s�o necess�rios

A obra desmistifica a vis�o de “esquerda unida e conciliat�ria” que foi muito promovida nas �ltimas elei��es de 2022. Embates emocionados e bastante argumentativos, gravados e repassados em tela, mostram que mesmo com as muitas quest�es que permeiam os mais diversos grupos minorizados, os conflitos ainda podem tomar conta das discuss�es. Ainda assim, com tanto potencial para enfraquecer os movimentos, o filme mostra que as diferen�as os fortalecem.

“O conflito foi muito importante e um aliado para a gente, porque foi atrav�s dele que houve a transforma��o. J� imaginou se a gente tivesse ideias iguais? A gente n�o reconheceria a subjetividade do outro e da outra; n�o conheceria outros problemas; n�o saberia como lidar, como conviver com a nova sociedade plural”, explica Preta Ferreira.

“Eu sinto que a maior pol�tica desse filme � ser um ato po�tico contra o cinismo, porque tudo aquilo que tem de tens�o e de contradi��o n�o fica escondido e vem � tona com a estrutura toda do cinema. A gente decidiu se levantar contra isso, encarando todas essas quest�es de frente e viver esses conflitos entre n�s de uma forma construtiva, efetiva e produtiva de forma intensa e profunda. Assim, a gente se fortalece para criar, causar e encarar esses conflitos que uma vez nos oprimiram”, acrescenta Ave Terrena Alves.

Para as artistas-ativistas, para al�m dos conflitos e das diferen�as, � necess�rio olhar para o que une os movimentos sociais. Apesar de todos quererem – e precisarem – de toda a aten��o e ajuda poss�veis, a concilia��o ainda faz parte da caminhada conjunta.

“� importante a gente trabalhar com a diversidade, porque a nossa alian�a se deu devido � necessidade; � aus�ncia de pol�ticas p�blicas que garantem os nossos direitos. � movimento social de moradia, mas tamb�m � de v�rios outros movimentos sociais, ent�o � conflitante, sim. � conflitante quando se tem aus�ncia desses direitos e a gente se entende como grupos diferentes num movimento s�”, conta Preta.

Rodas de conversa

Os debates entre os membros da produ��o do longa est�o entre os momentos de maior destaque da obra. Respons�veis pela transi��o das tem�ticas abordadas tamb�m mostram como as narrativas foram constru�das em um movimento metalingu�stico.

“Tem a gente pensando o processo de criar as cenas, e depois vendo a cena; as contradi��es que a gente tem internamente; as nossas inseguran�as; os nossos medos; e os nossos desentendimentos, que nos levaram a um novo est�gio de escuta. Isso tudo � muito necess�rio no momento em que a hipocrisia ainda governa o nosso mundo”, afirma Ave.

Para enriquecer o debate sobre a interseccionalidade dos movimentos e a forma��o de alian�as pol�ticas, o filme tamb�m conta com a participa��o especial de personalidades de destaque em suas respectivas �reas, como Judith Butler, fil�sofa conhecida internacionalmente por obras que revolucionaram os estudos de g�nero; Carmen Silva, l�der do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC); Helena Vieira, pesquisadora e professora de g�nero e sexualidade; S�nia Barbosa (em guarani: Ara Mirim), ativista ind�gena da terra do Jaragu�; e os deputados federais eleitos pelo PSOL Erika Hilton e Pastor Henrique Vieira.

“A gente entendia que era muito importante ter o que a gente chama de ‘encruzilhada’: costurar assuntos que se inter-relacionam. E descobrimos que a nossa ‘encruzilhada’ podia ser a forma��o do povo brasileiro. Com a Helena Vieira, uma fil�sofa, conseguimos dar uma ampliada no conceito da ‘encruzilhada’ e come�amos a falar nas alian�as entre os politicamente n�o representados, como os ind�genas, a negritude, os sem teto, os sem terra, os LGBTQIAP . Passamos a querer entender como � fazer alian�as, e tamb�m sobre o protagonismo dos movimentos sociais e a necessidade de quebrar bolhas”, conta Carla Caff�.

Sobre a obra

A ideia do filme partiu da execu��o de um outro filme de Eliane Caff�, “Era o Hotel Cambridge” (2016), que narra a trajet�ria de refugiados rec�m-chegados ao Brasil que, juntos com trabalhadores sem-teto, ocupam um velho edif�cio abandonado no centro de S�o Paulo.

“O filme nasceu de uma experi�ncia da ‘Lili’ [Eliane] ao ocupar a 9 de Julho, uma ocupa��o aqui na cidade de S�o Paulo que nasceu no seio da Ocupa��o Cambridge do Movimento Sem Teto do Centro (MTSC). Assim que abriram as portas para a vizinhan�a e para os artistas, ela se aproximou de um grupo LGBT [as manas] e, querendo conhecer melhor a tem�tica, que � muito complexa, resolveu fazer o ‘Para Onde Voam as Feiticeiras’”, explica Carla Caff�.

De refer�ncias, as irm�s listam uma s�rie de obras audiovisuais e liter�rias, como “Dom Quixote de La Mancha” (1605), “The Act of Killing” (2012), videoclipes da banda N�o Recomendados e obras de Carlos Vergara.

Apesar da estreia nacional ocorrer nesta semana, a sua primeira exibi��o aconteceu ainda em 2020, na 9ª edi��o do Festival Olhar de Cinema de Curitiba. Com produ��o da Aurora Filmes, coprodu��o da Cisma Produ��es e distribui��o da Descoloniza Filmes, j� passou por diversos festivais e mostras competitivas, nos quais venceu:
  • Melhor Filme no Festival Queer Porto;
  • Melhor Filme (voto popular) e Melhor Dire��o no Rio Festival LGBTQIA ;
  • Melhor Dire��o e Melhor Filme (j�ri t�cnico) no Festival de Vit�ria;
  • Melhor Dire��o Longa Nacional no Santos Film Fest.
Tamb�m esteve nas sele��es oficiais do 23º Festival de Document�rios de Montreal, 42º Festival de Havana, Chicago Change Fest 2021 e La F�te du Slip (Lausanne, Su��a).

Servi�o

Sess�o de estreia em Belo Horizonte
Local: Una Cine Belas Artes (Rua Gon�alves Dias, 1581 - Lourdes)
Data e hor�rio: 31/08 �s 17h


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)