
O encontro faz parte do projeto Centro de Refer�ncia Virtual Ind�gena. Em debate, a defesa do resgate e preserva��o da mem�ria de povos ind�genas; da justi�a de transi��o, como forma de repara��o das viola��es de direitos humanos contra os povos origin�rios do pa�s; a constru��o de mecanismos de n�o repeti��o de graves desrespeitos de direitos; e, tamb�m, a efetiva cria��o da Comiss�o Nacional Ind�gena da Verdade (CNIV) para a apura��o, reconhecimento de responsabilidades e repara��o de viola��es cometidas.
A diretora-geral do Instituto de Pol�ticas Relacionais, Daniela Greeb, esclareceu o papel da organiza��o n�o governamental nas lutas ind�genas, na defesa dos direitos humanos destas popula��es. “Estamos aqui para dar apoio, como indigenistas parceiros. Os ind�genas t�m suas pr�prias lutas.”
O l�der ind�gena brasileiro Marcos Terena tamb�m marcou presen�a no encontro desta ter�a. “Penso que a promo��o de direitos humanos dos povos ind�genas tem que ser constante. O Brasil � forte porque tem mais de 300 sociedades ind�genas vivendo em todos os biomas brasileiros”, disse.
“Na perspectiva de futuro, se conseguirmos, atrav�s da conscientiza��o e do resgate da mem�ria dos antepassados, firmar isso como pol�tica do governo brasileiro vamos andar muitos anos � frente”, acrescentou Terena, nascido em Mato Grosso do Sul.
Armaz�m Mem�ria
Pela manh�, foi apresentado no evento o portal Armaz�m Mem�ria, criado em 2001, que funciona como um resgate coletivo da hist�ria, em diversos assuntos. Este centro de refer�ncia virtual de pesquisas tem um acervo espec�fico sobre os povos ind�genas, com registros digitalizados de mais de 2,28 milh�es de documentos e fotografias e seus desdobramentos.
O projeto criado, desenvolvido e coordenado pelo pesquisador Marcelo Zelic, morto em maio deste ano, traz, entre outros, relatos de pr�ticas de usurpa��o de patrim�nio; ocupa��o ilegal de territ�rios ind�genas, emerg�ncias sanit�rias, remo��es for�adas, torturas e desaparecimentos de ind�genas, sobretudo, durante a ditadura militar no Brasil. Segundo Zelic, 8.350 ind�genas foram assassinados nos governos militares do per�odo ditatorial.
Antes de falecer, Marcelo Zelic gravou um v�deo em que fala sobre este centro de refer�ncia virtual. “N�o se trata de fazer tudo de novo. Trata-se de reunir para disponibilizar o acesso a essa documenta��o que existe dispersa no Brasil. Muita documenta��o ind�gena e indigenista, de interesse dos povos, se encontra em papel at� hoje.” Na grava��o, o pesquisador questiona: “Como fazer a justi�a de transi��o, se a gente n�o tivesse um centro de refer�ncia virtual que se dedique a reunir, digitalizar e dispor gratuitamente a documenta��o na internet?”
A mestra ind�gena em antropologia social, pesquisadora e defensora de direitos coletivos de povos origin�rios Braulina Aurora enaltece o trabalho do Armaz�m Mem�ria. “� uma importante plataforma que traz acervo e a mem�ria fotogr�fica do que aconteceu conosco, os povos ind�genas do Brasil. Tudo pode ser acessado neste processo de resgate coletivo da hist�ria.”
A pesquisadora Fernanda Kaing�ng, a primeira mestre ind�gena em direito, pela UnB, falou sobre a ferramenta virtual disponibilizada gratuitamente. “O Armaz�m Mem�ria � uma ferramenta de luta, de pesquisa [...] N�s temos milh�es de informa��es � nossa disposi��o. E nossos povos est�o esperando a repara��o.”
Homenagem
Na abertura do encontro, os presentes homenagearam Marcelo Zelic, falecido em maio deste ano, com falas, canto, fotos, v�deos e manuscritos.
O pesquisador ind�gena Mairu Karaj� recordou-se do companheiro de trabalho. “Nestes tr�s anos de pesquisa, Marcelo acreditou e fortaleceu em cada um de n�s. Todas as pessoas que chegaram ao projeto, n�s, primeiramente, depois os outros que vieram, Marcelo sempre plantou uma semente de esperan�a e de confian�a na gente, para a gente confiar na nossa hist�ria, na nossa compet�ncia como ind�genas.”
O legado do pesquisador tamb�m foi lembrado por Fernanda Kaing�ng. “Marcelo lutava por direitos humanos. Ele denunciava os crimes do Estado brasileiro, o qual deveria nos proteger e n�o protegeu. E que continua violando nossos direitos todos os dias.”
Julio Zelic, filho do pesquisador, que desde seus 17 anos contribui nas pesquisas e arquivamento do acervo do Armaz�m Mem�ria, falou sobre o material resgatado pelo pai e outros pesquisadores ind�genas e indigenistas. “Esse passado nunca � algo do esquecimento. Ficamos bem com o pr�prio tempo, quando percebemos que o passado � a certeza de quem a gente �, das nossas ra�zes, ancestralidades e que � assim que constru�mos nossa pr�pria �tica.”
Outras atividades do encontro
Complementando a parte documental, a representante do Instituto de Pol�ticas Relacionais Daniela Greeb, destacou a apresenta��o, no encontro desta ter�a-feira, da cole��o Ind�genas pela Terra e pela Vida, com 48 entrevistas de lideran�as ind�genas. Para Daniela Greeb, o objetivo � fortalecer a hist�ria oral, contada pelos pr�prios ind�genas. “A hist�ria oral, junto com essa documenta��o documental, vai ser bem bacana para dar apoio � [futura] Comiss�o Nacional Ind�gena da Verdade.”
Como parte do encontro, ser�o plantadas 158 �rvores no Santu�rio dos Paj�s, na terra ind�gena que se encontra dentro de uma �rea de expans�o imobili�ria (Setor Noroeste), em Bras�lia.
Tamb�m foram lan�ados dois livros com a tem�tica dos povos ind�genas: Reportagens Especiais Infoamazonia, de Gabriel Fonteles e Stefano Wrobleski, e Demarcar � Reparar: Olhar Ind�gena sobre a Justi�a de Transi��o no Brasil.