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Estado de Minas CULTURA

Pessoas trans ainda est�o na fase do grito, diz Assucena ao lan�ar disco

'Lusco-Fusco', o primeiro �lbum solo da cantora baiana, ser� lan�ado nesta quinta-feira (5)


05/10/2023 12:30 - atualizado 05/10/2023 12:35
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A cantora Assucena
(foto: Natalia Mitie/Divulga��o)
S�O PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Assucena cansou de gritar. Com uma voz expressiva e dram�tica que lhe rendeu fama � frente da banda As Ba�as, a cantora optou pela sutileza em "Lusco-Fusco", seu primeiro �lbum solo. "J� tentei falar alto com as pessoas, mas me fiz mal. Estou gostando muito da ironia", diz ela.

 

Em seu novo trabalho, a artista de 36 anos reivindica seu espa�o na MPB por meio de composi��es inspiradas no crep�sculo. Ela apresenta o repert�rio do disco, com dire��o art�stica da cantora C�u, em dois shows no Sesc Pompeia, na zona oeste da capital paulista, nesta quinta (5) e sexta-feira (6).

 

Assucena, que � nordestina, trans e judia, entende os obst�culos que grupos marginalizados precisam enfrentar para se fazer ouvir na sociedade. "Ningu�m deu voz para gente. A gente construiu esse megafone com o apoio de aliados que t�m dividido seus privil�gios conosco. Ningu�m ganha guerra sem aliados", ela afirma.

Junto a nomes como Liniker, Majur e Bixarte, Assucena integra uma gera��o de artistas trans que vem conquistando um espa�o in�dito na m�sica. Em 2019, ela se tornou a primeira mulher trans a receber uma indica��o para o Grammy Latino ao lado de Raquel Virg�nia, sua antiga parceira de vocais em As Ba�as, anteriormente conhecida como As Bahias e a Cozinha Mineira.

 

A banda foi formada em 2011, quando Assucena e Raquel, ambas ent�o no in�cio de sua transi��o de g�nero, conheceram Rafael Acerbi no curso de hist�ria da Universidade de S�o Paulo. Em 2014, Assucena deixou a faculdade para se dedicar integralmente � arte e, em 2021, com a dissolu��o da banda, iniciou a carreira solo.

 

No ano passado, a artista estreou no teatro interpretando Medeia no espet�culo "Mata Teu Pai, �pera-balada", trabalho pelo qual foi indicada ao Pr�mio Shell como melhor atriz.

 

Ela conta que foi ouvindo as can��es de Gal Costa que passou a se entender como uma pessoa trans. Tamb�m � f� de Whitney Houston, Amy Winehouse e Maria Beth�nia. "A m�sica � minha fonte de renda e tamb�m o meu lugar de liberta��o. Foi por meio dela que eu me tornei uma mulher trans. Foi ela que me deu coragem para ser quem eu sou", diz.

 

Assucena reconhece a import�ncia da arte como plataforma de reivindica��o de demandas da comunidade trans. Para ela, "ainda estamos na fase do grito, que � uma fase muito dif�cil".

Por outro lado, suas composi��es em "Lusco-Fusco" n�o abordam de maneira expl�cita sobre as viv�ncias de pessoas trans. "Minha milit�ncia � de outro jeito. Tem quem trabalhe com manifesto pol�tico, e tem quem goste mais de met�fora. N�o d� para dizer quem � mais importante", afirma.

 

O �lbum come�a com um samba rom�ntico, "Menino Pele Cor de Jambo", e emenda uma sequ�ncia de can��es repletas de sensualidade e erotismo. Para Assucena, o afeto � uma quest�o inerentemente pol�tica para travestis e mulheres trans. "A gente � quase o oposto da fam�lia tradicional. A gente � a solid�o plena, a rua, enquanto a fam�lia � a casa, a coletividade", diz.

 

Em seguida, o disco segue por um caminho mais melanc�lico, mas ainda assim belo. Nos versos da vinheta "Meeira", a compositora sintetiza a ideia de transi��o que norteia o trabalho --"da luz pro breu, do breu pra luz/ � uma brasa arisca, meio que enfeiti�a, que espanta, que seduz".

 

O disco ent�o retoma o esp�rito alegre e termina com o bai�o "Enluarada". "� uma reden��o meio judaico-messi�nica. Quando canto 'vou acender duas velas para ver enluarada a festa de quem nunca viu', isso representa o shabbat para mim, mas para as pessoas pode ser o candombl�, a umbanda, o seu ate�smo e a forma que voc� se relaciona com o seu signo de luz", diz ela.

 

Assucena cresceu em um lar judaico em Vit�ria da Conquista, na Bahia. Seus antepassados eram judeus sefarditas do Marrocos que migraram para o Brasil ao longo do s�culo 19 e se estabeleceram nas regi�es Norte e Nordeste. O juda�smo que ela pratica, em suas palavras, "est� muito mais pr�ximo da mandinga e da macumba do que do estilo crist�o".

 

Na juventude, aprendeu hebraico e participou de coletivos judaicos para estudar quest�es de g�nero e sexualidade na Tor� e no Talmude, os principais textos da religi�o. "Acho o juda�smo muito bonito porque a gente se questiona. O crist�o l� o texto sagrado sem questionar. Aquilo � sagrado, vai ficar assim. J� o judeu vai perguntar se aquilo � verdadeiro, se foi traduzido corretamente", diz.

 

Ela lamenta que a sua f� seja vista como se fosse exclusivamente branca e conservadora, imagem mais associada aos judeus ashkenazi, que fugiram do leste europeu para o Brasil no s�culo 20. "A paleta crom�tica judaica � bem intensa. Ela � t�o grande quanto a sua di�spora", ela afirma.

 

LUSCO-FUSCO

Onde: Dispon�vel nas plataformas de streaming

Autoria: Assucena

Gravadora: Assucena Halevi Assayag Santos Ara�jo

 

LAN�AMENTO DE 'LUSCO-FUSCO'

Quando: Qui. (5) e sex. (6), �s 21h

Onde: Sesc Pompeia - r. Cl�lia, 93, S�o Paulo

Pre�o: R$ 40 (ingressos esgotados)

 


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