Riso vira ponto de partida para a resist�ncia

Segundo o ditado, rir � considerado o melhor rem�dio, mas pode ser tamb�m uma forma de resistir. “Assim como o choro, o riso � cat�rtico; vem de um movimento pasm�dico”, pontua o ator e diretor Robson Vieira. Ele � o idealizador e curador do BH in Solos – Mostra de espet�culos c�nicos individuais, que busca fomentar a produ��o e a difus�o de atra��es de artes c�nicas com um �nico int�rprete em cena. O evento abriu sua sexta edi��o na quinta-feira (4) e segue at� o dia 15 com uma programa��o que tem como lema justamente “Rir � resistir”. S�o v�rias montagens nas �reas de circo e teatro, que t�m a com�dia como ponto de partida para a cria��o. “Esse recorte tem muito a ver com a minha trajet�ria e com o meu desejo. Percebo como essa quest�o do riso mudou ao longo dos anos. Antes, o Brasil fazia gra�a pela gra�a. Agora, n�o. As pessoas entendem que o riso �, sim, uma a��o pol�tica. Um exemplo disso � o Porta dos Fundos, premiado at� mesmo internacionalmente”, analisa.

O pr�prio fato de a mostra quase n�o ter ocorrido por quest�es financeiras � uma prova de resist�ncia, como ressalta Robson. O curador afirma que o BH in Solos nunca contou com recursos municipais e nem estaduais e que vem sobrevivendo por conta de parcerias, como as estabelecidas com o Sesi e o Sesc. “Eles nos acolheram mais uma vez com seus espa�os e isso foi fundamental para a realiza��o. A mostra vai acontecer tamb�m em fun��o de uma vontade dos artistas. V�rias pessoas me cobravam se ela ia ou n�o acontecer. E, a�, percebi como ela � necess�ria”, frisa.

Todos os espet�culos s�o realizados nos teatros de bolso do Sesiminas e do Sesc Palladium. Entre os destaques deste fim de semana est�o A minha m�e � uma com�dia, solo do ator e comediante Beto Sorolli, que ser� encenado nesta sexta (6). No s�bado (7), � a vez de Patuscada, com o palha�o Rafael Protzner, que promete encantar e divertir com suas m�scaras. J� no domingo (8), a atra��o � Oth�lio, com o ator Maikon Sipriano, uma releitura de Otelo, de William Shakespeare, mas trazendo a realidade dos personagens desse cl�ssico para o morro e as favelas brasileiras.

Robson Vieira tamb�m est� em cartaz e se apresenta na quinta (12), anivers�rio de Belo Horizonte, com a montagem Atendendo a pedidos. A pe�a � um convite para redimensionar o que realmente importa para o ser humano e questiona, por meio de fragmentos c�micos, ir�nicos e/ou tr�gicos, o percurso da humanidade sob o vi�s da cren�a e da responsabilidade de cada um. “Desde a primeira edi��o eu n�o me apresentava no festival. Achei que era interessante apresentar esse espet�culo, que � uma com�dia da vida humana, mostra a hist�ria dos seres humanos que n�o deu certo”, explica.

A BH in Solos – como o pr�prio nome sugere – j� a partir de sua origem, em 2014, sempre valorizou a cena local, que, para Vieira, � extremamente interessante e diversa. “Existe at� um preconceito com quem faz com�dia. Mas desde a Gr�cia antiga, passando por Shakespeare, temos textos que s�o refer�ncias e marcos na dramaturgia. Acho importante a gente investir nesse estilo, mas dialogando com o pessoal daqui. Temos desde atores com anos de estrada at� gente que acabou de se formar. � um recorte bacana”, avalia.

O organizador tamb�m salienta como o riso pode se manifestar em v�rias nuances, como a ironia e o sarcasmo. “N�o � porque � com�dia que s�o produ��es menos importantes ou menores. Muito pelo contr�rio. Temos muitos espet�culos na mostra que s�o densos, profundos e que n�o s� fazem rir, mas, sobretudo, refletir”, defende.