Em um momento em que a economia dos Estados Unidos ainda luta para voltar a crescer e que a taxa de desemprego � de quase 9% no pa�s, mais cidad�os americanos t�m enxergado oportunidades profissionais no Brasil.
Segundo o Minist�rio do Trabalho, 5.891 americanos obtiveram vistos de trabalho no Brasil entre janeiro e setembro de 2010 – n�mero j� superior ao total de 2009, quando 5.590 permiss�es foram concedidas a americanos.
O n�mero tamb�m representa um crescimento de 63% em compara��o com os vistos profissionais dados a americanos em 2006. E os Estados Unidos seguem sendo o pa�s que mais envia trabalhadores legalizados para o Brasil.
"As oportunidades est�o acontecendo aqui no Brasil, especialmente para pessoas de outras culturas", opina a americana Marcela Lizarraga, que veio com o marido, o executivo Jos� Lizarraga, para S�o Paulo, h� um ano, para trabalhar no setor hoteleiro. No Brasil, Jos� acabou se transferindo para uma empresa fornecedora de tecnologia de avia��o e deve ficar mais um ano e meio no pa�s.
Sal�rios
Dados da ag�ncia de recursos humanos Manpower citados em janeiro na revista Economist apontam que 64% dos empregadores brasileiros sentem dificuldades para preencher suas vagas em aberto.
A revista acrescentou que, enquanto o Brasil coloca no mercado cerca de 35 mil engenheiros por ano, a China forma 400 mil desses profissionais anualmente. A falta de trabalhadores puxa os sal�rios para cima: executivos em S�o Paulo j� est�o ganhando mais do que seus pares em Nova York, Cingapura ou Hong Kong. "Os pacotes de remunera��o das empresas brasileiras est�o muito atraentes", confirma Olavo Chiaradia, da consultoria Hay Group.
Nesse contexto, o professor da Escola de Economia da FGV-SP Andr� Portela v� como positiva a vinda de mais estrangeiros para o Brasil. "Os benef�cios s�o maiores que eventuais desvantagens. � uma chance de trazer m�o de obra que vai difundir conhecimento a curto prazo. � mais barato traz�-los do que esperar a forma��o dos trabalhadores brasileiros (em setores com escassez)."
Mas o professor adverte: "A longo prazo, enquanto ainda estamos crecendo, precisamos de investimentos em educa��o para atender nossa demanda por produtividade."
Interesse crescente
A visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil, prevista para o pr�ximo fim de semana, tamb�m contribui para um clima de entusiasmo nas rela��es comercias entre os dois pa�ses.
Quatro empresas de recrutamento consultadas pela BBC Brasil confirmam o crescente interesse de americanos pelo mercado brasileiro. �o � um interesse exclusivo dos americanos, mas, como nossa rela��o comercial � grande, o n�mero de cidad�os dos Estados Unidos (que v�m ao Brasil) � grande tamb�m", diz Renato Gutierrez, da consultoria Mercer. "E h� muitas empresas americanas adquirindo brasileiras, e vice-versa."
"Sempre vimos um movimento de europeus (rumo ao) Brasil, mas n�o de americanos. Eles est�o identificando oportunidades aqui", afirma Jacques Sarfatti, da empresa de headhunting Russell Reynolds.
A situa��o brasileira se repete em outros pa�ses emergentes, que tamb�m est�o recebendo maior m�o de obra estrangeira. Estudo de 2010 da Mercer aponta que, apesar da crise global, as transfer�ncias internacionais de profissionais tiveram aumento de 4%.
Energia
O setor de energia � apontado como o mais procurado, por causa das descobertas do pr�-sal e dos investimentos em combust�veis. Mas especialistas dizem que h� interesse dos estrangeiros tamb�m pelas �reas de infraestrutura, minera��o, siderurgia, varejo e mercado financeiro.
Na Welcome Expats, empresa de aux�lio a expatriados com base em Maca� (RJ), a procura por seus servi�os dobrou desde 2009, principalmente por causa do crescimento da ind�stria petroleira na cidade fluminense. "E vai aumentar. Escuto empresas falando que v�o trazer mais mil pessoas (do exterior)", diz M�nica de Mello, s�cia da Welcome Expats.
Segundo ela, 80% de seus clientes s�o americanos. Muitos t�m experi�ncia no setor de petr�leo e g�s e vieram para o Brasil ap�s a explos�o da plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do M�xico, em abril passado.
A advogada Ziara Abud, especializada em vistos para estrangeiros, afirma que a maioria das solicita��es � para vistos de dois anos ou de 90 dias a um ano (em geral, para t�cnicos que v�m para treinar m�o de obra local).
Dificuldades
Mas, em meio �s oportunidades, os profissionais estrangeiros tamb�m encontram empecilhos no Brasil. ernando Mantovani, diretor de opera��es da empresa de recrutamento Robert Half, diz que, � exce��o dos mercados financeiro e de petr�leo e g�s, ainda existem restri��es � contrata��o de americanos pela dificuldade deles com o idioma e a cultura de trabalho.
"Ainda vai demorar para nos acostumarmos com esse fluxo (migrat�rio) inverso", afirma Mantovani. "Eles se surpreendem que poucos falam ingl�s aqui", conta Marilena Britto, da empresa de aux�lio a expatriados Settling-In. Outras dificuldades, segundo ela, s�o a burocracia para a obten��o de documentos, o alto custo de vida nos grandes centros brasileiros e as preocupa��es com seguran�a pessoal.
"Por outro lado, eles gostam do estilo de vida, da oferta cultural e da qualidade dos servi�os m�dicos", ressalta Britto. "Muitos ficam por pouco tempo, mas demonstram vontade de voltar ao Brasil."
Para Sarfatti, da Russell Reynolds, "o est�mulo aos americanos s�o as oportunidades imediatas, algo de curto prazo, para se realizar profissionalmente. Mas acho que est� se abrindo um canal (de interc�mbio profissional) que pode virar duradouro."