
Odair Marcos Filho � o respons�vel por cuidar das �guas, dos muares e do jumento na Fazenda Fidalgo. Exibe com orgulho a mula Sonhadora, com tr�s anos e meio e que est� completamente amansada. Odair classifica o trote da Sonhadora como “super-hidr�ulico”. Mostra que � poss�vel fazer diversos movimentos e que, acima de tudo, ela � muito mansa. Passa ao lado da mula, cutuca suas patas traseiras e a Sonhadora permanece impass�vel, sem nem amea�ar um coice. A ideia que muitos fazem de muares bravos e ind�ceis n�o � verdadeira. Quem aposta na produ��o e investe na domestica��o revela que as mulas e os burros n�o t�m nada do que o uso popular de seus nomes leva a crer.
As virtudes dos muares s�o muitas. A esp�cie tem uma audi��o sens�vel e, por isso, assimila mais facilmente os comandos durante a domestica��o. Outro sentido agu�ado � o tato, principalmente nos cascos, o que faz com que eles dificilmente pisem em terrenos perigosos. Quando est�o trabalhando durante a noite, muitos animais que ficam com as orelhas abaixadas durante o dia levantam-nas, o que demonstra aten��o ao pisar em locais que n�o podem enxergar.
Essa aten��o redobrada implica em outra contradi��o: as mulas (e os burros) n�o s�o presas f�ceis para os mata-burros. Criadores atestam que, dificilmente, eles v�o cair em um desses obst�culos de estradas vicinais, o que � comum com outros animais e at� motoristas desatentos. A for�a dos muares para o trabalho tamb�m � sempre destacada. Eles s�o capazes de transportar grandes volumes de carga e tamb�m de seguir uma tropa acompanhado o sinete do animal que segue a frente.
Burrinho feio
Bem menos valorizado, o bardoto, resultado do acasalamento entre um cavalo e uma jumenta, � tamb�m um animal h�brido e est�ril. Os motivos que tornam o bardoto sem mercado est�o na gesta��o, pois o espa�o para o desenvolvimento no �tero da jumenta � menor do que o dos muares, que s�o gerados em �guas.
Curiosidades
>> O costume de dar um n� na cauda dos muares antes de montar � antigo e remonta dos tempos em que esses animais eram usados em longas viagens, pois com o rabo amarrado ele n�o sujava o cavaleiro ap�s passar em terrenos alagados.
>> No Nordeste, o jumento tamb�m � chamado de jegue ou jericos. O nome jegue tem origem no idioma ingl�s. Quando os brit�nicos trabalhavam em constru��o de ferrovias na regi�o, eles se referiam ao animal como jack (jumento, em ingl�s). Jegue � uma adapta��o fon�tica.
>> As mulas que oscilam a cauda durante um concurso de marcha d�o sinal de temperamento inquieto.
>> O abanar das orelhas em um concurso de marcha j� pode denotar pouca resist�ncia.
>> Aqueles muares com o rabo mais cheio, geralmente, puxaram a m�e, da esp�cie equina e, por isso, se comportam melhor para cavalgadas.
Cl�ssicos culturais
Os jumentos tamb�m est�o presentes em todo o mundo, mas em diversos pa�ses perderam espa�o com a mecaniza��o da lavoura. A presen�a dos asininos e dos muares na literatura remete aos tempos cl�ssicos, do s�culo 2, quando Lucius Apuleius escreveu o Asno de Ouro, com hist�rias de um homem que � transformado em um burro. Na montagem brasileira de 1997 da pe�a infantil Os saltimbancos, de Sergio Bardotti, em que as letras das m�sicas foram adaptadas para o portugu�s por Chico Buarque, o ator que representou o jumento foi Grande Otelo. Um trecho da m�sica dizia: “Jumento n�o � / Jumento n�o � / O grande malandro da pra�a / Trabalha, trabalha de gra�a / N�o agrada a ningu�m / Nem nome n�o tem / � manso e n�o faz pirra�a / Mas quando a carca�a amea�a rachar / Que coices, que coices / Que coices que d� / Hi-hooooooooo”.