O presidente da Caixa, Jorge Hereda, tem a miss�o de levar adiante um dos principais programas de governo, o Minha Casa, Minha Vida. A segunda fase do programa, lan�ada no dia 16 deste m�s, prev� a constru��o de 2 mil moradias entre 2011 e 2014. Mas Hereda j� conta com a amplia��o dessa meta em 600 mil unidades, na expectativa de o programa avan�ar.
“ Quando a presidenta [Dilma Rousseff] lan�ou o programa, ela falou que, se daqui a um ano estiver tudo andando bem, pode haver essa amplia��o. Temos certeza que daqui a um ano estaremos bem na contrata��o”, disse Hereda, em entrevista
Nesta entrevista, Hereda afirma ainda que espera maior participa��o de outros bancos na oferta de cr�dito imobili�rio do pa�s. “Hoje temos de 70% a 75% do cr�dito imobili�rio do pa�s. Vamos continuar sendo os maiores agentes financeiros, ter o maior n�mero de cr�dito, mas outros tamb�m v�o crescer porque a demanda � muito grande”, destacou. Natural de Salvador, Hereda assumiu a presid�ncia da Caixa em mar�o deste ano, ap�s ser vice-presidente de Governo do banco.
Ag�ncia Brasil: Qual � a expectativa da Caixa para o andamento da segunda fase do Programa Minha Casa, Minha Vida?
Jorge Hereda: A gente tem dentro da Caixa 140 mil unidades remanescentes de projetos da primeira fase do programa. Estamos come�ando a entrar em contato com os proponentes desses projetos para verificar se mant�m o interesse, quais s�o os ajustes que precisam ser feitos para que isso se concretize. A portaria do Minist�rio [das Cidades, que vai permitir o in�cio da opera��o da segunda fase do programa] est� saindo na segunda-feira. Paralelamente a esses 140 mil, vai ser poss�vel, assim que a portaria sair, receber projetos novos.
ABr: A Caixa tem alguma previs�o de quantos novos projetos devem ser analisados ap�s a portaria ser publicada?
Hereda: Esse n�mero de 140 mil dentro de casa � significativo para se trabalhar. E j� tem gente preparando projetos novos. Temos ainda na Caixa outro n�mero de estudos que podem ser trabalhados na nova regra [da segunda fase do programa]. N�o vamos ter limite de Or�amento no sentido de as pessoas fazerem o projeto e n�o conseguirem contratar. Vamos ter, como no primeira fase do Minha Casa, Minha Vida, um tempo em que os projetos [de constru��o das casas] maturem e uma concentra��o de contrata��es mais adiante. Enquanto isso, as 140 mil unidades v�o ser trabalhadas, com condi��es de contrata��o at� dezembro.
ABr: Quando teremos essa concentra��o de contratos de constru��o de casas?
Hereda: Parte dos projetos que est�o dentro da Caixa j� foram aprovados, passaram pelas prefeituras, foram feitas todas as an�lises e contam com as licen�as necess�rias. Outra parte ainda est� evoluindo nesse sentido. � prov�vel que projetos novos tenham contrata��o em novembro ou dezembro. Vamos contratar, neste segundo semestre, significativamente e vamos entrar 2012 em posi��o muito favor�vel para seguir em voo de cruzeiro.
ABr: Algumas construtoras t�m reclamado da falta de terrenos em grandes cidades para o programa. O que pode ser feito para resolver esse problema?
Hereda: Quando o munic�pio ou estado tem uma proposta de pol�tica habitacional que combina com o Minha Casa, Minha Vida, a viabilidade aparece. Nesses locais, os valores [dos im�veis enquadrados no programa] foram ajustados significativamente, mas h� limites para n�o alimentar a especula��o. N�o pode um programa do governo federal nessas cidades ser o �nico recurso para viabilizar habita��o. N�o tem como fazer uma pol�tica habitacional para a baix�ssima renda com a concentra��o de subs�dios que o governo federal est� colocando, sem nenhuma contribui��o de outros entes.
ABr: Como ser� a atua��o da Caixa para evitar que as pessoas recebam casas com problemas de qualidade dos im�veis, como infiltra��es e rachaduras?
Hereda: Teremos no Minha Casa, Minha Vida v�rias formas de obter a casa. Na primeira faixa de renda [at� R$ 1,6 mil], a Caixa analisa desde o projeto, o empreendimento inteiro, contrata a empresa que apresentou o projeto e fiscaliza. Posso assegurar, que nesses casos, somos muito rigorosos e n�o temos problemas de qualidade. A outra forma de obter o programa � por meio do financiamento. O que apareceu na imprensa h� um tempo foram alguns problemas com im�veis que foram financiados j� prontos. As pessoas podem aparecer no balc�o da Caixa e dizer que est�o comprando um apartamento pronto. Neste caso, a Caixa n�o acompanhou a obra. Apareceram alguns problemas principalmente de pequenos construtores. Assim que verificamos esse problema, de imediato, alteramos as normas de contrata��o no balc�o, aumentamos as exig�ncias, estabelecemos a necessidade de apresenta��o de uma s�rie de documentos relacionados com a qualidade do im�vel, a vistoria passou a ser mais rigorosa. Al�m disso, qualquer empresa que fa�a um im�vel para a Caixa e tenha problemas de qualidade vai para um cadastro restritivo do banco. A empresa n�o pode contratar mais com a Caixa at� que esse problema seja resolvido e ela mostre que tenha capacidade. Os s�cios da empresa, se montarem outra, n�o podem contratar com a Caixa. A gente est� fazendo isso tamb�m para os empreendedores individuais.
ABr: O que mais foi feito para prevenir esse tipo de problema?
Hereda: Fizemos tamb�m uma cartilha para que o comprador verifique o que � preciso olhar no im�vel. No nosso relacionamento com o cliente, a gente j� apresenta para ele o que precisa exigir ao comprar um im�vel. Assim que chegou a informa��o [de casas entregues sem a qualidade devida], a gente fez uma vistoria em lugares com mais contrata��o de im�veis individuais e verificamos que n�o s�o todas as casas que t�m problema. Agora � imposs�vel construir um milh�o de casas e n�o ter nenhum tipo de v�cio construtivo.
ABr: Os saques em cadernetas de poupan�a superaram os dep�sitos por dois meses seguidos, segundo dados do Banco Central referentes ao sistema financeiro. A redu��o desses recursos usados pelos bancos para financiar a casa pr�pria preocupa a Caixa?
Hereda: Na Caixa, isso n�o aconteceu [saques maiores do que dep�sitos]. Mas � claro que h� uma preocupa��o. A Caixa seria irrespons�vel se n�o tivesse uma vis�o estrat�gica em rela��o � quantidade de recursos de que disp�e. O financiamentos com recursos da poupan�a, SBPE [Sistema Brasileiros de Poupan�a e Empr�stimo], tem um crescimento m�dio de cerca de 50% por ano, � estrondoso, enquanto a poupan�a tem crescido em torno de 20%. � natural que os recursos de poupan�a n�o consigam sustentar um crescimento dessa ordem. Isso n�o quer dizer que os recursos v�o acabar. A poupan�a sempre vai existir. Tem tamb�m os retornos [pagamentos] dos financiamentos. Todos bancos que fazem cr�dito imobili�rio discutem alternativas de funding [fonte de recursos] para habita��o. Acho que temos at� 2013 para desovar as alternativas que v�m sendo discutidas. Isso vai acontecer a partir do in�cio do ano que vem. N�o existe a possibilidade de n�o se ter recursos. O que pode acontecer � um crescimento menor [do cr�dito habitacional] do que a gente vinha observando nos outros anos.
ABr: O dinheiro da poupan�a � uma fonte de recursos mais barata. Com a redu��o desses recursos, a tend�ncia � aumentar os juros dos financiamentos imobili�rios?
Hereda: N�o vai faltar dinheiro, mas pode ser que, caso n�o se consiga um recurso que tenha uma remunera��o mais em conta, os juros aumentem. Vai ser a poupan�a mixada com outro funding. Mas acho que a gente n�o vai ter esse problema nem este ano nem no outro. Tem esse prazo para a gente pensar.
ABr: Quais s�o as alternativas de fontes de recursos para a habita��o?
Hereda: No Minha Casa, Minha Vida, que interessa para as faixas de renda que mais precisam de habita��o, as fontes de recursos s�o do governo federal, em subs�dios, e do FGTS [Fundo de Garantia do Tempo de Servi�o]. O FGTS tem uma disponibilidade de recursos para financiamento nos padr�es do Minha Casa, Minha Vida em at� dez anos, tranquilamente, de R$ 25 bilh�es, por ano. Portanto, para o Minha Casa, Minha Vida n�o se fala em falta de recursos. Se houver esse problema no SBPE, voc� est� falando de uma faixa acima e tamb�m pode ser equacionado ao se verificar n�o s� a quest�o da tabela de pre�os, mas tamb�m o tempo de financiamento. N�o � uma coisa assim t�o tr�gica como as pessoas falam. O mercado passa a buscar redu��o nos custos de administra��o da carteira. Al�m disso, existem outras vari�veis. Nenhum pa�s do mundo tem uma pol�tica habitacional s� com duas fontes espec�ficas que podem ser esgotadas. A maioria dos pa�ses financia com recursos da tesouraria [setor de capta��o e aplica��o de recursos dos bancos]. A tend�ncia tamb�m � que, em m�dio prazo, os juros caiam no Brasil. Se os juros ca�rem, chegando a uma situa��o em que voc� tenha o que a poupan�a hoje paga, a tesouraria dos bancos j� passa ser vi�vel para financiar.
ABr: O senhor acha que h� condi��es de se ter redu��o na taxa b�sica de juros, a Selic?
Hereda: Em curto prazo, sem d�vida, n�o � o cen�rio. Mas, quando isso acontecer, n�o vai ser um problema ter funding espec�fico para habita��o. Agora n�o d� para ficar parado esperando que isso aconte�a. O importante � que haja essas medidas [alternativas de capta��o de recursos pelos bancos] at� o ano que vem e que se possa entrar 2013 com a tranquilidade de que se precisa. A carteira imobili�ria da Caixa pode ser securitizada, e criados pap�is que possam ser vendidos no mercado. No Brasil, n�o temos os problemas que os Estados Unidos tinham de originar cr�dito podre, com an�lise de risco irrespons�vel, empacotar tudo e sair vendendo. Aqui isso n�o existe. Os recursos no Brasil n�o devem ficar parados at� serem retornados no prazo previsto.
ABr: Como a Caixa avalia a inadimpl�ncia em cen�rio de alta da infla��o?
Hereda: Ou�o muito que a inadimpl�ncia aumentou, mas n�o � uma realidade que a Caixa est� vivendo no cr�dito imobili�rio. A nossa inadimpl�ncia varia em uma �nica faixa h� muito tempo. O cr�dito comercial tem um aumento maior, mas n�o h� deteriora��o da carteira.
ABr: Como o senhor imagina a Caixa ao final dos quatro anos de governo?
Hereda - A Caixa vem crescendo nos �ltimos anos. No cr�dito imobili�rio, sa�mos de R$ 5 bilh�es em 2003 para cerca de R$ 78 bilh�es [de nova contrata��es] no ano passado. Isso � um crescimento impressionante. Hoje temos de 70% a 75% do cr�dito imobili�rio do pa�s. Vamos continuar sendo os maiores agentes financeiros, ter o maior n�mero de cr�dito, mas outros tamb�m v�o crescer porque a demanda � muito grande. Mas a Caixa vai ter sempre habita��o como seu carro-chefe. A cara da Caixa � habita��o e o banco estar� sempre estrategicamente posicionado nesse setor. Ent�o, daqui a quatro anos vamos ter melhorias tecnol�gicas, maior velocidade na execu��o do cr�dito. Nosso desafio � ser tamb�m o primeiro banco de relacionamento das pessoas, n�o s� o banco da poupan�a e do cr�dito imobili�rio. Al�m disso, a Caixa vai continuar sendo o principal agente das pol�ticas p�blicas do governo federal. Isso � uma voca��o da Caixa. E, com certeza, vamos ter cumprido a meta de 2,6 milh�es de unidades contratadas no Minha Casa, Minha Vida.
ABr: O senhor j� est� acrescentando as 600 mil unidades � meta?
Hereda: Quando a presidenta [Dilma Rousseff] lan�ou o programa, ela falou que, se daqui a um ano estiver tudo andando bem, tudo direitinho, pode haver essa amplia��o. Temos certeza de que daqui a um ano estaremos bem na contrata��o e temos muita f� que ela fa�a isso. Sem d�vida, o Minha Casa, Minha Vida estar� contratado. A primeira fase [do programa] foi muito mais dif�cil.