Duas semanas depois de iniciada a parada t�cnica da Refinaria Gabriel Passos (Regap), o que resultou na seca das bombas e aumento do pre�o da gasolina, o litro do combust�vel volta a ultrapassar a barreira de R$ 3 em cidades do interior de Minas. Na capital, os pre�os esbarram na marca: o valor m�ximo encontrado � de R$ 2,99. � a segunda vez no ano que a gasolina chega nesse patamar. Entre abril e maio os consumidores tamb�m j� tinham sido surpreendidos com os pre�os elevados marcados nas bombas.
Os valores atuais registrados em Minas s�o os mais altos registrados para agosto desde 2004, quando teve in�cio a pesquisa de pre�os da Ag�ncia Nacional de Petr�leo, G�s Natural e Biocombust�vel (ANP). Em rela��o ao mesmo m�s de 2010, os valores m�nimos e m�ximos registrados pela pesquisa subiram 15,48% e 7,1%, respectivamente. E o pior: o cont�nuo crescimento da demanda pelo derivado do petr�leo ante a impossibilidade de aumento da oferta da Regap deve significar alta no custo do abastecimento em postos de v�rias regi�es de Minas, principalmente nos mais pr�ximos de Betim – onde fica a refinaria –, obrigados a arcar com a conta do transporte do produto comprado em estados vizinhos.
O custo do transporte � o que tem mais pesado na composi��o do pre�o do litro da gasolina. C�lculos do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combust�veis e de Lubrificantes (Sindicom) mostram que a necessidade de se transportar de Rio de Janeiro e S�o Paulo pode onerar em at� R$ 0,15 o litro do combust�vel. Em Ponte Nova, na Zona da Mata, com os aumentos registrados nos �ltimos dias, cinco dos nove postos da cidade ultrapassaram o valor de R$ 3, chegando a at� R$ 3,09.
No Posto S�o Jorge, por duas vezes faltou gasolina desde a semana passada. Associado a isso o fato de a distribuidora ter aumentado em R$ 0,02 o litro do produto, o repasse para o consumidor foi inevit�vel, segundo o dono da revenda, Paulino Pinto Neto. Com o reajuste, o litro da gasolina subiu para R$ 3,04. “Encareceu na companhia, encareceu para o consumidor”, afirma o empres�rio. No Autoposto Ipiranga, para solucionar o problema, o propriet�rio Adilson Bombassaro aumentou o pre�o da gasolina e diminuiu o valor do etanol para for�ar a op��o pelo �lcool. “A distribuidora aumentou R$ 0,11. Para n�s, que vivemos de centavos, � muita coisa”, afirma o empres�rio, dizendo que por l� tamb�m h� desabastecimento de diesel.
Pesquisa semanal da Ag�ncia Nacional de Petr�leo, G�s Natural e Biocombust�veis (ANP) mostra que em outras quatro cidades o pre�o tamb�m supera R$ 3: Frutal, Janu�ria, S�o Sebasti�o do Para�so e Una�. Em Montes Claros, o pre�o do litro de gasolina na bomba j� est� saindo a R$ 2,95, em m�dia. Mas, a tend�ncia � que, nos pr�ximos dias, ultrapasse os R$ 3. � o que admitiu ontem o presidente regional do Sindicato do Com�rcio Varejista de Derivados do Petr�leo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro), M�rcio Hamilton Lima. Segundo ele, de 10 dias para c�, o pre�o do combust�vel sofreu um acr�scimo de 4% para os revendedores, que ainda n�o repassaram o reajuste para o consumidor. “Por enquanto, os donos de postos est�o segurando o pre�o antigo, ao m�ximo. Mas, n�o tem jeito. A tend�ncia � repassar o aumento para os clientes”, afirmou o representante do Minaspetro, lembrando que a pr�pria Petrobras “est� for�ando a barra para aumentar o pre�o e reduzir o consumo”.
Lima disse que no seu posto o atual pre�o do litro de gasolina � de R$ 2,95. Se aplicar o reajuste de 4%, o valor vai passar para R$ 3,06. Por isso, tem gente querendo abastecer o carro antes que o pre�o suba ainda mais. � o caso do enfermeiro M�rcio Henrique Oliveira, de 27 anos. “Temos que aproveitar esse pre�o da gasolina antes que suba mais. Acabei de encher o tanque”, conta o montesclarense, que tamb�m usa uma moto para economizar.
REFLEXOS
No Centro-Oeste de Minas, o problema da falta de gasolina tamb�m j� afeta o bolso dos consumidores. Encher o tanque ficou mais caro, mesmo nas cidades que ainda n�o registraram falta do combust�vel, como � o caso de Ita�na, a 80 quil�metros de BH. At� o momento, o munic�pio n�o teve problemas com a escassez do produto. No entanto, como as distribuidoras aumentaram o litro da gasolina em cerca de R$ 0,15, o pre�o nas bombas subiu. Foi o caso do posto Delta, que repassou R$ 0,10 desse valor para os motoristas. Hoje, a gasolina no estabelecimento custa R$ 2,89. “Tivemos que aumentar o pre�o. Reflexo de como est� a situa��o na capital e em outras cidades do estado, que fizeram com que os distribuidores come�assem a cobrar mais caro”, justifica o gerente Domingos Diniz.
Em Santo Ant�nio do Monte, a 194 quil�metros da capital, postos de combust�vel tamb�m tiveram que aumentar o pre�o da gasolina. No Posto Montense, o valor passou de R$ 2,87 para aproximadamente R$ 2,95. Segundo a gerente Mirelle Cristina Oliveira Rodrigues, os n�meros podem subir ainda mais nas pr�ximas semanas. Ela acredita que, desde o in�cio da crise, o estabelecimento registrou um preju�zo de, pelo menos, R$ 15 mil. “Ficamos uma semana sem combust�vel. Quando finalmente conseguimos, o distribuidor repassou o aumento. E j� tivemos not�cias que haver� mais aumento pela frente”, conta.
Palavra de especialista
Adriano Pires - diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura
Problema n�o � localizado
Diante do boom da ind�stria automotiva nos �ltimos anos, com crescimento de 3 milh�es de ve�culos nas ruas do pa�s no ano passado, n�o houve acompanhamento dos investimentos em infraestrutura. A consequ�ncia � que a maioria das refinarias do pa�s atingiram o limite de produ��o. Na Refinaria Gabriel Passos (Regap), o teto � de aproximadamente 160 milh�es de litros de gasolina. A gasolina da Regap n�o ser� suficiente para abastecer o mercado mineiro e, com isso, ser� preciso buscar em outras localidades e tamb�m importar o produto. E o problema n�o � localizado apenas em Minas. Cerca de 5% do consumo de gasolina do pa�s ser� importado neste ano e, com isso, a Petrobras ter� que custear o produto. Os pre�os na refinaria est�o congelados desde 2009 e a estatal paga R$ 1,35 por litro importado, sendo que vende o mesmo por R$ 1,05. Ou seja, perde R$ 0,30 por litro importado.