A "substancial deteriora��o" do quadro econ�mico global nas �ltimas semanas e a press�o de �ltima hora vinda do pr�prio governo fez o Banco Central manobrar a economia em 180 graus. Influenciado pela percep��o de que a crise deve manter a economia mundial em ritmo lento por "um per�odo de tempo maior do que o antecipado", a institui��o preferiu interromper o ciclo de alta iniciado em janeiro e anunciou hoje a redu��o da taxa b�sica de juros do Pa�s em 0,50 ponto porcentual, para 12% ao ano. � a primeira redu��o dos juros no governo Dilma.
Ap�s cinco aumentos seguidos do juro entre janeiro e julho - que somaram 1,75 ponto � taxa Selic - o Comit� de Pol�tica Monet�ria (Copom) do BC entendeu que n�o havia raz�o para continuar subindo o juro. Pelo contr�rio, mudou radicalmente de opini�o em 45 dias. Assim, os diretores do BC mostram que, ap�s meses de trabalho para segurar a alta da infla��o e esfriar a economia, agora � necess�rio acelerar a atividade econ�mica em rea��o � crise global.
"O Comit� avalia que o cen�rio internacional manifesta vi�s desinflacion�rio no horizonte relevante", cita o comunicado ap�s a decis�o que, pela primeira vez em muito tempo, tem duas p�ginas de explica��es.
A principal mudan�a para essa a avalia��o do BC veio do exterior. O rebaixamento da nota de risco dos EUA no in�cio do m�s deflagrou uma s�rie de revis�es para pior das proje��es dos economistas sobre o que deve acontecer com a economia mundial nos pr�ximos meses. A percep��o geral � que pa�ses centrais devem demorar ainda mais para sair da crise e crescer. Para o BC o quadro representa maior incerteza da influ�ncia externa sobre o mundo e, claro, o Brasil.
"Para o Copom, a transmiss�o dos desenvolvimentos externos para a economia brasileira pode se materializar por interm�dio de diversos canais, entre outros, redu��o da corrente de com�rcio, modera��o do fluxo de investimentos, condi��es de cr�dito mais restritivas e piora no sentimento de consumidores e empres�rios" cita o documento.
Se economias centrais crescerem menos, a demanda por produtos e servi�os brasileiros seguir� fraca. Isso vai reduzir o ritmo da economia dom�stica. O Bradesco, por exemplo, prev� que, se a economia mundial crescer 1 ponto porcentual menos, a expans�o no Brasil deve perder pelo menos 0,65 ponto. Menos crescimento reduz a press�o de alta nos pre�os e diminui a necessidade de elevar o juro para manter a infla��o sob controle.
Mesmo sem o quadro externo, o notici�rio local j� apontava para o fim do ciclo de aperto dos juros. Um dos principais sinais veio do �ndice de Atividade Econ�mica do BC (IBC-Br), dado que antecipa o comportamento do PIB e mostrou em junho a primeira queda desde dezembro de 2008. No mercado de trabalho, a cria��o de empregos tem perdido for�a e o pr�prio BC divulgou n�meros que mostram desacelera��o no ritmo de concess�o de empr�stimos.
Mas essa virada na pol�tica monet�ria teve uma ajuda pol�tica. A redu��o do juro 45 dias ap�s o �ltimo aumento era um desejo do Pal�cio do Planalto e de membros da equipe econ�mica, como o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Houve um esfor�o de �ltima hora em anunciar aumento da economia feita pelo governo para pagar a d�vida (super�vit prim�rio) como forma de abrir caminho para os cortes do juro.
Com isso, o BC ignora a infla��o que segue em ritmo elevado. Nos �ltimos 12 meses, o �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo tem alta acumulada de 6,87%, acima do teto da meta de infla��o que � de 6,50%. Para os pr�ximos 12 meses, a expectativa para o IPCA � de 5,47%.
"O sinal do BC � que, ap�s a piora recente, o quadro internacional n�o est� feio, est� horroroso. Porque no Brasil estamos mais para auge que para o descenso da economia. Ou seja, � o quadro externo que determinou essa decis�o", diz o economista-chefe do Banco Fator, Jos� Francisco de Lima Gon�alves.