
Jeceaba - Era para ser uma pequena ind�stria de doces para aproveitar a produ��o local de leite. Mas a pacata Jeceaba (Campos das Vertentes), a 125 quil�metros de Belo Horizonte, recebeu uma sider�rgica de US$ 1,6 bilh�o e 1,5 mil empregos diretos. O munic�pio est� preparado para inaugurar hoje a Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil (VSB). As 600 mil toneladas de tubo de a�o sem costura produzidas ali ser�o transportadas pela Ferrovia do A�o, cart�o postal da cidade, rumo a Santos (SP) ou ao Rio de Janeiro (RJ). Os tubos de alta resist�ncia poder�o ser usados, por exemplo, na constru��o dos gasodutos para transportar o petr�leo do pr�-sal.
"A principal atividade de Jeceaba era a agropecu�ria e, por isso, tentamos convencer o Estado a trazer uma f�brica de doces para c�. Em 2007, contudo, Wilson Brumer (ent�o Secret�rio de Desenvolvimento Econ�mico) nos informou que, em vez da pequena ind�stria para gerar 30 empregos, receber�amos a sider�rgica, que empregaria 3 mil pessoas", conta o prefeito J�lio C�sar Reis (PT).
Nesses quatro anos, desde o in�cio da implanta��o da joint venture entre a francesa Vallourec (56%) e a japonesa Sumitomo Metals (44%), o munic�pio de pouco mais de 5 mil habitantes se transformou.
Por volta de 1910, chegaram �s terras do munic�pio portugueses, italianos e espanh�is para a constru��o do Ramal Paraopeba da Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB). Muitos ficaram e fundaram Jeceaba. Hoje, bandeiras do Brasil, da Fran�a e do Jap�o indicam o caminho para o complexo sider�rgico, que ser� inaugurado hoje com a presen�a da presidente da Rep�blica Dilma Rousseff (PT).
"� um orgulho um munic�pio t�o simples, onde a tranquilidade me permite deixar a porta de casa aberta e a chave do carro na igni��o, receber pela segunda vez um presidente da Rep�blica", afirma Jo�o Em�dio Dias, jeceabense de 55 anos. Entre o curral e o asfalto, que chegou nesta semana, ele diz que continuar� entregando os 120 litros de leite de porta em porta e na cooperativa da regi�o, mas que comemora as perspectivas profissionais para o casal de filhos. "Ele presta servi�os de transportes para a VSB e ela estuda metalurgia."
O primeiro presidente a visitar Jeceaba foi Jos� Sarney, em 1989, para inaugura��o da Ferrovia do A�o, que corta Jeceaba, assim como a extinta EFCB, hoje operada pela MRS Log�stica. Ali�s, essa infra-estrutura de transportes foi um dos atrativos para a instala��o da VSB no munic�pio. S�o dois investimentos que conectam hist�rias como a de Maria Inez Chaves e de seu marido, Jos� Sabino Chaves, propriet�rios do Hotel Camapu�, primeiro nome da localidade e que significa "Morro Redondo".
"Z� � de Morro do Pilar (Serra do Cip�) e, como � top�grafo, veio para a constru��o da Ferrovia do A�o, em 1973. Foi quando nos conhecemos", relembra Maria Inez. Eles se casaram, tiveram tr�s filhas e constru�ram o primeiro hotel de Jeceaba. "Com o an�ncio da VSB, resolvemos expandir", acrescenta. Hoje, o Camapu� tem 18 apartamentos e 16 quartos e emprega seis pessoas.
Terra�o
A chegada da sider�rgica tamb�m deu uma guinada no Restaurante Dona Efig�nia. "Nossa hist�ria come�ou com a minha m�e vendendo marmita para os homens da constru��o da ferrovia. J� tivemos um restaurante no p�tio da MRS. Agora, transformamos a cobertura da nossa casa em um sal�o que atende mais de 250 pessoas por dia que est�o aqui por causa da VSB", detalha Aparecida Vasconcelos. A horta que tem nos fundos j� n�o consegue suprir a demanda e os dez funcion�rios suam a camisa para dar conta do movimento. "Passamos a comprar de produtores locais e de empresas de outras cidades que v�m fornecer aqui. Temos concorrentes, mas eles n�o nos incomodam porque � gente demais", diz.
Um mundo de a�o e empregos
No pico das obras, o complexo sider�rgico chegou a empregar 11 mil trabalhadores. "Em 2,5 milh�es de metros quadrados de obra foram usadas 40 mil toneladas de estruturas met�licas tubulares produzidas pelo grupo Vallourec, o equivalente a quatro torres Eiffel (Paris)", informou a VSB.
� l� que Daniele Fernandes Silva conseguiu, aos 23 anos, seu primeiro emprego com carteira assinada. A t�cnica em minera��o trabalha como auxiliar administrativa na empresa e, em raz�o da estabilidade, iniciou a faculdade de direito. "Antes, quando os jovens daqui encerravam o ensino m�dio tinham que sair da cidade. Agora � poss�vel conquistar independ�ncia financeira e fazer carreira aqui", diz.
Junto com o complexo sider�rgico, tamb�m chegou a especula��o imobili�ria. Um lote de 360 metros quadrados que custava R$ 2 mil antes do an�ncio da VSB pode ser encontrado hoje por at� R$ 40 mil. O aluguel de uma casa de dois quartos, ou de uma loja, pulou de R$ 150 mensais para um sal�rio m�nimo, R$ 540. "O aumento dos custos, ruim para muitos, levou as pessoas a correrem atr�s da casa pr�pria", afirmou Jos� Fernandes da Mata, dono do Comercial Faria e Fernandes, de venda de material de constru��o. Nos �ltimos dois anos ele dobrou o tamanho de sua loja e viu as vendas subirem mais de 30%. "Agora, com a inaugura��o, � torcer para a estabiliza��o", ponderou.
Para fazer frente ao crescimento, o prefeito informou que investiu R$ 25 milh�es nos �ltimos 12 meses em infra-estrutura e pretende repetir a cifra para pr�ximo ano. Al�m da arrecada��o mensal de R$ 24 milh�es mensais com as atividades da sider�rgica, ele estima incremento da receita vindo da expans�o da economia local. "Os hot�is cresceram, as padarias se modernizaram, temos laborat�rios de an�lises cl�nicas, lojas de eletrodom�sticos, centro de est�tica, cooperativa de transportes, Correios, mais bancos e por a� vai", disse J�lio C�sar.
"Somos a cidade do progresso, mas tamb�m das montanhas, das cachoeiras, dos lobos, da on�a jaguatirica. Isso n�o queremos mudar", diz o produtor rural Jo�o Em�dio Dias.