O grupo mineiro Vale Verde, com sede em Betim, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, e produtor da premiada aguardente hom�nima, entrou com um pedido no Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento (Mapa) no m�nimo curioso para os costumes brasileiros: autoriza��o para comercializar baratas, grilos e larvas de besouro para consumo humano. O novo ramo – se deferido pelo governo federal – ficar� a cargo da Nutrinsecta, bra�o da holding que comercializa, desde 2008, pacotes de invertebrados para alimenta��o de animais em cativeiro. A empresa tamb�m fabrica a ra��o Megazoo, destinada a aves e que n�o leva prote�nas de insetos.
A inten��o do grupo � de que o Mapa tamb�m autorize a Nutrinsecta a adicionar prote�na de invertebrados na ra��o. A empresa produz 40 toneladas mensais da Megazoo e, na pr�xima quarta-feira, conclui a obra de amplia��o da f�brica, com capacidade para entregar ao mercado mais 180 toneladas. O aporte foi de R$ 15 milh�es e deve aumentar bem o faturamento do grupo, que negocia o quilo de insetos por R$ 200. J� o pacote com 700 gramas da ra��o sai a R$ 16.
O leitor pode at� torcer o nariz para o card�pio de invertebrados, mas � importante frisar que o autor da ideia � o vision�rio Luiz Ot�vio P�ssas Gon�alves, de 69 anos. Ele � conhecido no meio empresarial por transformar os neg�cios que monta em minas de ouro. Foi assim com cervejaria Kaiser, vendida em 2002 para a canadense Molson pela fortuna de US$ 765 milh�es, e com a �gua de coco Kero Coco, negociada em 2009 por outra boa quantia � Pepsico. E, claro, fundador da cacha�a Vale Verde, que fatura cerca de R$ 4 milh�es por ano e foi eleita tr�s vezes consecutivas pelo ranking da revista Playboy como a melhor extra premium do pa�s – aguardentes totalmente envelhecidas em recipientes de madeira por pelo menos tr�s anos.
“A alimenta��o (� base de insetos) � puramente quebra de preconceito. Quando menino, via as pessoas ficarem horrorizadas ao saber que os japoneses comiam peixe cru. Muitas (dessas pessoas), hoje, v�o a restaurantes (asi�ticos) e degustam o mesmo prato. Pode ocorrer o mesmo com os invertebrados”, acredita o empres�rio, que diz ter saboreado todas as iguarias produzidas nos criat�rios da empresa. E gostou tanto da “barata frita” quanto do “ten�brio”, esp�cie de besouro consumida enquanto larva.
Pura prote�na
A estrat�gia de explorar o mercado de entomofagia (pr�tica de comer insetos) nasceu de um hobby de P�ssas. Criador de diversas esp�cies de aves, ele financiou pesquisadores do Departamento de Veterin�ria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para encontrar uma ra��o balanceada para os pr�prios animais. O trabalho, que durou dois anos, concluiu que prote�nas de insetos reduzem o �ndice de mortalidade das aves e aumentam a reprodu��o em cativeiro. Assim, em 2008, surgiu a ideia da produ��o da Megazoo, que ganhou mercado rapidamente mas ainda n�o usa prote�nas de insetos.
O produto � vendido para zool�gicos de todo o pa�s. Seria natural, portanto, que o pr�ximo passo da Nutrinsecta fosse a estrat�gia de adicionar prote�nas de invertebrados � ra��o e, consequentemente, negociar baratas, grilos e larvas de besouros para consumo humano. Ainda mais que, acrescenta o executivo, alguns chefes de cozinha foram � sede do grupo interessados em comprar insetos para servir em pratos inspirados na culin�ria estrangeira. O Minist�rio da Agricultura n�o tem prazo para avaliar o pedido da empresa. Mas, na hip�tese de a reivindica��o ser deferida, P�ssas n�o entrar� apenas num novo nicho de mercado.
Estrat�gico, o criador da Kaiser sabe que o aval do �rg�o federal � uma importante esp�cie de carimbo de proced�ncia para refor�ar a marca Megazoo. “O que a gente est� fazendo para as aves tamb�m pode ser feito para humanos”, emendou. Em outras palavras, ele quer dizer que os insetos podem ser vendidos tanto vivos quanto em forma de prote�na para ser adicionada, por exemplo, em sopas.
Para isso, a empresa de P�ssas apresenta n�meros favor�veis � ideia: “H� 1.417 esp�cies de insetos comest�veis conhecidos no planeta. Cerca de 3 mil grupos �tnicos praticam a entomofagia em mais de 120 pa�ses. Quanto ao seu valor nutritivo, a carne do inseto � compar�vel �s tradicionais, como a de porco, vaca, carneiro e peixe, com a vantagem de serem os insetos mais eficientes para converter vegetais em prote�nas”.