Os f�s da Apple podem ficar sossegados. Antes de deixar definitivamente a companhia, no fim de agosto, Steve Jobs organizou um plano de lan�amentos para os pr�ximos quatro anos. A previs�o inclui atualiza��es dos consagrados iPod, iPhone e iPad e, provavelmente, novos produtos. O planejamento, aliado ao DNA inovador que Jobs implantou em sua equipe, mant�m a Apple em posi��o confort�vel em rela��o aos concorrentes. Resta saber se os executivos que agora comandam a empresa ter�o o mesmo tino do cofundador para sacudir o mercado na hora certa. Ontem, o corpo de Jobs, morto na �ltima quarta-feira, foi velado em uma cerim�nia discreta, restrita a amigos e familiares.
Embora seja dif�cil prever como a Apple vai se sair sem seu mentor, analistas apostam que a companhia manter� a trajet�ria de sucesso, pelo menos, no curto prazo. "Algumas fabricantes podem pensar em tirar proveito (da morte de Jobs), mas os pr�ximos dois anos j� est�o decididos", afirma Carolina Milanesi, vice-presidente de pesquisa da consultoria Gartner. Assim, a Apple deve permanecer como l�der no setor de tablets. Segundo estimativas do banco JP Morgan, a empresa da ma�� ser� respons�vel por mais de 70% das unidades vendidas at� o fim do ano.
Outro produto que deve continuar abocanhando consumidores � o iPhone. O celular inteligente n�o domina o mercado - comandado pelo Android, do Google, que est� presente em mais de 40% dos aparelhos -, mas tem usu�rios extremamente fi�is. "A Apple sempre se preocupou em criar equipamentos surpreendentes. Ela n�o vende produtos, e sim experi�ncias", comenta Bruno Freitas, analista da consultoria IDC. Carolina Milanesi acredita que a vendas ser�o impulsionadas por conta do barateamento do smartphone nos Estados Unidos. Por l�, a quarta vers�o teve queda de US$ 100 no pre�o, enquanto o iPhone 3G est� saindo de gra�a com planos de fidelidade em operadoras de telefonia.
No longo prazo, o desempenho da Apple vai depender do timing do CEO Tim Cook e de seus colegas de equipe. "Todo mundo sempre pensa em coisas inovadoras, mas � preciso lan��-las no momento adequado", lembra Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. "Jobs pode ter deixado um plano de lan�amentos para os pr�ximos quatro anos, mas isso pode mudar com o tempo", diz. A experi�ncia da Apple tamb�m mostra a necessidade de estar atento ao mercado de consumo. Antes de lan�ar o iPhone, em 2007, Steve Jobs havia pedido a cria��o de um prot�tipo de tablet. Mas, � �poca, decidiu que era melhor investir em um smartphone. O iPad s� veio no ano passado.
DEDICA��O A preocupa��o do empres�rio com o futuro de sua cria fez com que ele continuasse envolvido em projetos da Apple durante o tratamento do c�ncer. Segundo reportagem do jornal brit�nico Daily Mail, o vision�rio teve participa��o ativa no desenvolvimento do iCloud, o servi�o de computa��o em nuvem da companhia, lan�ado em junho. Na �poca, ele j� estava de licen�a, embora permanecesse como CEO e presidente do conselho diretor. Ainda em junho, Jobs teria participado de uma reuni�o para definir a nova sede da Apple. O edif�cio, localizado pr�ximo ao atual, em Cupertino, na Calif�rnia, deve abrigar os 12 mil funcion�rios da empresa em uma ampla �rea.
A mudan�a f�sica n�o � a �nica pela qual a companhia deve passar nos pr�ximos meses. Com a morte do fundador, a Apple precisa definir um novo presidente para seu conselho. Jobs acumulava essa e a fun��o executiva, mas o mesmo n�o deve acontecer com Tim Cook, que o substituiu no cargo de CEO. "O conselho precisa ser expandido. Eles precisam buscar novos talentos independentes, pessoas que n�o tenham vivido � sombra de Steve", afirma Jim Post, professor de governan�a empresarial na Boston University. "A mensagem at� agora era 'confiem no Steve', mas a nova mensagem ter� de ser 'confiem na equipe'. N�o haver� mais um culto pessoal", completa o especialista.
Peter Misek, analista da consultoria Jefferies & Co, concorda que os conselheiros da Apple devem procurar um diretor independente. "Cook j� tem deveres demais a assumir", constata. A companhia n�o revelou quando dever� escolher o novo ocupante do cargo. O conselho da empresa tem sete integrantes, entre eles Al Gore, ex-presidente dos Estados Unidos. O �rg�o � um dos menores do setor de tecnologia em rela��o ao n�mero de membros. A maioria das empresas contam com 10 pessoas para a tarefa.
Corrida �s lojas
Toda vez que uma personalidade famosa morre come�a a corrida �s lojas para adquirir produtos relacionados a ela. Com Steve Jobs n�o foi diferente. O livro com a biografia do astro da tecnologia ainda nem foi lan�ado e j� est� no topo da lista dos mais procurados na Amazon - maior loja virtual do mundo. O t�tulo passou da 424ª posi��o no ranking geral para a primeira em poucas horas ap�s a morte do cofundador da Apple. No Brasil, nos �ltimos tr�s dias, a pr�-venda cresceu 70% na Livraria Cultura, uma das maiores redes do pa�s. Tamanha procura pelo livro escrito por Walter Issacson fez com que a editora Simon & Schuster antecipasse o lan�amento, que seria em novembro, para 24 de outubro nos Estados Unidos. A publica��o chegar� ao mercado brasileiro na mesma data pela Companhia das Letras.
Al�m da biografia, v�rios outros t�tulos ligados � imagem de Steve Jobs tomam conta das prateleiras das livrarias de todo o mundo. No Brasil, � poss�vel encontrar publica��es de R$ 29,90 a R$ 36,90. E n�o � s� por meio de livros que os f�s de Jobs podem homenagear o �dolo. At� mesmo a camiseta preta de gola rol�, que o empres�rio costumava usar e transformou numa esp�cie de s�mbolo pessoal, vem sendo procurada e comprada em v�rios pa�ses. Por meio das redes sociais, internautas de todo o mundo est�o combinando transformar o pr�ximo dia 14 no “Dia de Steve Jobs” e, para isso, todos devem vestir a tradicional roupa do g�nio da inform�tica: t�nis, camisa preta e cal�a jeans.
Rivais mostram cautela
Na semana de consterna��o pela morte de Steve Jobs, Google e Samsung foram as primeiras empresas a se manifestar no jogo mercadol�gico. A movimenta��o, por�m, foi cautelosa. As companhias decidiram adiar o lan�amento de seu novo smartphone, o Nexus Prime, marcado para a pr�xima ter�a-feira. "Acreditamos que esse n�o � o momento certo para anunciar um novo produto, uma vez que o mundo expressa homenagens pela passagem de Steve Jobs", disseram as duas gigantes. As companhias ainda n�o definiram uma nova data para a apresenta��o do produto.
O Nexus Prime, ou Galaxy Nexus, ser� o primeiro celular inteligente equipado com a nova vers�o do Android, que ganhou o curioso apelido Ice Cream Sandwich. Embora a Samsung n�o tenha liberado qualquer especifica��o sobre o aparelho, ele deve chegar para fazer forte concorr�ncia ao iPhone 4S, lan�ado esta semana. Em um teaser comercial, a Samsung faz compara��es com objetos que "se completam", como caf� e jornal ou vinho acompanhado de velas. O v�deo termina com a frase: "Algo grande est� chegando".
BARULHO "� dif�cil saber exatamente como cada empresa prepara seus produtos, mas, como a Apple sempre faz muito barulho na hora de apresentar os seus, os concorrentes tendem a fazer isso tamb�m", observou Bruno Freitas, analista da Consultoria IDC. Aos olhos do especialista, a decis�o de adiar o lan�amento do Nexus Prime foi inteligente. "Lan�ar um equipamento novo, agora, n�o seria muito assertivo, porque todo mundo s� fala no Steve Jobs", disse.
Mesmo cautelosa, a Samsung est� bastante animada com as vendas para o pr�ximo trimestre. Ontem, a gigante sul-coreana afirmou que seu lucro trimestral pode superar as previs�es de mercado mais otimistas, chegando a US$ 3,5 bilh�es. O resultado, se confirmado, ser� 12% maior que o do trimestre anterior. "As previs�es da Samsung est�o melhores que o esperado", ressaltou o gerente de fundos Park Jong-min, da ING Investment Management. "O neg�cio de telecomunica��es � visto como muito positivo, pois os embarques de smartphones e outros dispositivos m�veis aumentaram muito."
STEVE JOBS / 1955 - 2011