"Para mim � como um videotape: j� passei por v�rias crises", explica Raymundo Magliano Filho, 69 anos de idade, apontando para um quadro emoldurado na parede onde se v� um gr�fico do desempenho da Bolsa brasileira pontilhado pelos principais acontecimentos pol�tico e econ�mico mundiais desde a d�cada de 60. Para Magliano, dono da corretora fundada pelo seu pai em 1927, a primeira da Bovespa, a crise financeira atual n�o � nem de longe a pior desde que come�ou a operar com a��es h� 53 anos, mas exigir� mudan�as estrat�gicas para que a Magliano Corretora sobreviva ao que muitos preveem como o processo de consolida��o nunca antes visto no setor.
A crise da d�vida soberana da zona do euro, o colapso fiscal dos Estados Unidos e a forte desacelera��o econ�mica nos pa�ses desenvolvidos afugentaram os investidores de ativos de maior risco, como as a��es de empresas, derrubando o volume negociado na bolsa e a receita com a intermedia��o de compra e venda de pap�is, o que dever� acelerar o desaparecimento de corretoras de valores no Brasil, muitas das quais por meio de fus�es e aquisi��es.
A aposta de analistas � que as corretoras ligadas a bancos e a grupos estrangeiros atuar�o como "full broker", ou seja, oferecer�o os servi�os completos de uma corretora de valores. J� as corretoras independentes ter�o de se especializar em um nicho de mercado e n�o mais concorrer com o leque completo de servi�os.
"A consolida��o � um processo irrevers�vel e saud�vel para o mercado", diz o diretor da Bradesco Corretora, Anibal Cesar Jesus dos Santos. "A crise financeira j� est� fazendo com que isto aconte�a", explica. Segundo ele, as corretoras que atualmente possuem foco em um s� produto devem se fundir a outras para ganhar escala, reduzindo custos. A Bradesco Corretora, no mercado desde 1967, criou o Bradesco BBI e a �rea de pesquisa para oferecer relat�rios estruturados e assim atender n�o somente a clientes de varejo mas tamb�m investidores institucionais locais e estrangeiros. "Entendemos que o foco em produtos e servi�os, mais a �rea de pesquisa forte e reconhecida far� a diferen�a entre as corretoras, sem esquecer a parte de tecnologia na velocidade de execu��o das ordens que cada vez mais ganha import�ncia na escolha da corretora pelos clientes", diz Santos.
O n�mero excessivo de corretoras operando no mercado acion�rio ainda � reflexo do per�odo em que a Bovespa e a BM&F foram transformadas em sociedades an�nimas, num processo chamado de "desmutualiza��o", resultando em enorme capitaliza��o das corretoras que detinham t�tulos patrimoniais, ou cartas-patentes que lhes davam o direito de negociarem nas bolsas. Depois do an�ncio de abertura de capital, os t�tulos patrimoniais da Bovespa, por exemplo, chegaram a ser negociados em leil�es realizados em 2007 a um valor sete vezes maior do que o valor de face.
"Por mais dinheiro que se tenha ganhado com a desmutualiza��o das bolsas, ningu�m vai ficar queimando dinheiro num ambiente de mercado adverso", diz Gandelman. "Hoje h� corretoras que n�o t�m 'business'(neg�cio), e sim apenas uma placa e uma licen�a para operar, mas se hoje � mais f�cil obter uma licen�a, ent�o essas corretoras valem muito menos."
A ICAP, segundo ele, est� no lado comprador do processo de consolida��o e a recente demiss�o de 60 funcion�rios n�o significa um retrocesso dos planos da corretora brit�nica no Brasil. Trata-se apenas de um processo de corte de gorduras, corriqueiro ap�s fus�es, quando h� ganhos de sinergias, afirmou Gandelman. "A ICAP sempre comprou, nunca vendeu nada. O mercado sabe que n�s somos compradores no mundo inteiro", comenta Gandelman. Segundo ele, a corretora, que em 2008 comprou a Arke, "est� olhando", mas n�o h� nada de concreto neste momento. "Se houver uma boa oportunidade, e o que a gente v� a� certamente � no varejo, com uma placa boa, uma base de cliente s�lida, a gente n�o est� fechado para isso", afirma Gandelman.