Longe da correria das ruas que em dezembro costumava misturar chuva com o corre corre de consumidores pelas cal�adas estreitas, os shoppings populares da capital que abrigam entre seus lojistas antigos camel�s est�o organizados, apostando alto nas vendas do fim de ano e nos produtos legalizados. Para l� de otimistas, acreditam que a crise mundial n�o vai respingar no Natal da classe m�dia brasileira. Enquanto a expectativa do com�rcio nacional � crescer 5% na melhor �poca do ano para o varejo, os centros de compra populares apostam no apetite para o consumo da classe C. Nada modestos, em rela��o a dezembro passado, esperam ampliar o caixa entre 15% e 20%, mais de tr�s vezes o percentual estimado pela Confedera��o Nacional do Com�rcio (CNC).
Entre as estrat�gias para atrair a classe m�dia, principal alvo dos populares e que em 2011 vai gastar em consumo cerca de R$ 1 trilh�o, segundo o Instituto Data Popular, os shoppings populares apostam no investimento em marketing, promo��es, sorteios e brindes. No Oiapoque que re�ne 850 lojistas em 12 mil metros quadrados, s�o encontrados de artigos esportivos de marcas famosas mundialmente at� brinquedos da moda e eletr�nicos. Em dezembro o investimento em marketing vai triplicar atingindo R$ 40 mil. A administra��o do shopping informa ainda que vai haver concurso cultural de frases e entre os pr�mios cogitados est� uma moto. Al�m disso, R$ 500 mil foram investidos em quatro lojas e em um restaurante novo. “Os shoppings populares t�m a seu favor a agilidade em lan�ar novos produtos, al�m de custo mais baixo”, refor�a o dono do Oiapoque, M�rio Valadares.
Pronta para o Natal, a lojista Ang�lica Carvalho h� seis anos trocou as ruas pelo shopping popular. A frente da Arte de Presentear ela conta que grande parte de seu estoque foi arrematado no ano passado. “Neste Natal teremos pre�os melhores, acredito que vamos vender pelo menos 20% mais que o ano passado. Pelo Dia das Crian�as deu para ter ideia de como o Natal ser� bom”, calcula.
Papai Noel e sorteio de tablets para clientes ser�o atra��es no shopping popular Xavantes, que conta com 550 lojas. O diretor de marketing, Leonardo Furnan, projeta crescimento para a data de 15%. “Este ser� o Natal dos populares, que t�m produtos mais baratos para atender a classe m�dia.” O economista da Confedera��o Nacional do Com�rcio Bruno Fernandes acredita que mesmo diante de uma maior infla��o e cr�dito mais apertado que o mostrado no cen�rio do ano passado, as fam�lias da classe m�dia ser�o o motor de sustenta��o do consumo neste Natal.
Eletr�nicos Tamb�m lojista popular, Alessandra Cristina das Dores h� cinco anos dirige a Master Eletr�nicos e apressa-se para informar que seus produtos s�o originais e vendidos com nota. Ela est� satisfeita com os resultados do neg�cio e neste Natal n�o considera que a redu��o do ritmo da economia v� freiar o consumo de quem deseja um smartphone, c�mara fotogr�fica ou jogos eletr�nicos. “Calculo que vamos crescer pelo menos 30% em rela��o ao Natal do ano passado.”
Elias Tergilene, diretor de Opera��es do Uai Shopping que funciona no hipercentro de Belo Horizonte com filial tamb�m em Venda Nova, diz que o ritmo � favor�vel ao seu principal p�blico. “No pa�s n�o h� desemprego e a classe m�dia n�o faz poupan�a, gosta de consumir no Natal.” Ele diz que o shopping vai crescer seu quadro de funcion�rios tempor�rios em 30%, vai investir no marketing e contratar Papai noel. “Este ano, nosso foco ser� todo direcionado para a mulher da classe m�dia, que define as compras da fam�lia. O homem consome pouco.” Tergilene faz coro na proje��o do segmento. “O Natal no Uai deve ser 20% melhor que o ano passado.”
Das ruas � formalidade
Os conflitos entre camel�s sem licen�a e o poder p�blico, como os observados nos �ltimos dias na Regi�o do Bairro Br�s em S�o Paulo, foi apaziguado em Belo Horizonte depois da aprova��o do C�digo de Posturas da cidade que impediu o com�rcio de ambulantes, e dos chamados shoppings populares, implementados h� cerca de oito anos na capital.
Primeiro centro de compras popular que entrou em funcionamento como esp�cie de laborat�rio, o Oiapoque iniciou o processo de formaliza��o de seus comerciantes. “O Oiapoque deixou de ser um com�rcio popular para se tornar um shopping. Perto de 85% dos lojistas t�m empresa e alvar� de funcionamento. Em poucos meses todo o espa�o estar� legalizado”, afirma M�rio Valadares propriet�rio do espa�o.
Nos �ltimos anos, os shoppings populares proliferaram na capital e agora entraram em uma fase de expans�o. O Shopping Oiapoque estuda um modo de por fim a seu calcanhar de Aquiles e pretende construir um estacionamento para 250 ve�culos com tr�s pavimentos, onde hoje funciona o p�tio coberto do ponto de venda. O Shopping Uai dobrar� seu espa�o no centro da cidade, saltando de seis mil para 12 mil metros quadrados em janeiro de 2012 e h� um ano inaugurou 50 lojas em Venda Nova. O Xavantes come�a em janeiro a constru��o de outras 80 lojas.
O empres�rio e ex-camel� Joelson Pereira comercializa sapatos em um shopping popular e este ano legalizou seu com�rcio. Vende com cart�o de cr�dito, nota fiscal com direito a troca da mercadoria pelo cliente. Ele considera que mudar sua condi��o foi uma exig�ncia do mercado. “Acho que para o cliente fez pouca diferen�a, mas para mim a legaliza��o foi uma mudan�a grande.” Ele sentiu principalmente o peso da carga tribut�ria. “Agora pago por m�s cerca de R$ 4,5 mil de ICMS.”
Para M�rio Valadares em breve a competi��o dos populares vai se acirrar ainda mais com o que ele chama de terceira fase do segmento. Primeiro tivemos o remanejamento das ruas para os shoppings, depois a organiza��o e agora a transi��o para a economia formal.” Para ele, a amplia��o dos shoppings populares em BH � um sinal de que a medida funcionou. “Belo Horizonte � a �nica capital da Am�rica Latina que conseguiu por fim aos camel�s no centro da cidade, apesar de esta ser uma quest�o cultural dos pa�ses latinos.”