Crian�as s�o mutiladas trabalhando na informalidade

Bras�lia – Crian�as e adolescentes com as m�os cortadas por facas. V�rios deles estampam na pele queimaduras de solda de bijuterias e um grupo chora pela perda de �rg�os esmagados por cilindros de padaria. Outros s�o precocemente diagnosticados com doen�as decorrentes de exposi��o a agentes como poeira e benzeno. Sofrem ainda com les�es por esfor�o repetitivo, dist�rbio osteomuscular (Dort) e at� transtorno mental. Esse � mais um lado cruel de uma trag�dia que atormenta o pa�s. Pelo menos tr�s menores de at� 17 anos se acidentaram por dia trabalhando no Brasil nos �ltimos dois anos e meio, quase todos na informalidade. Entre 2009 e julho de 2011, no m�nimo 37 meninos morreram dando duro. Um deles n�o tinha 13 anos ainda.

Isso � s� uma amostra do que anda acontecendo, pois as estat�sticas s�o prec�rias. Os dados referentes a acidentes com menores foram coletados pelo Minist�rio da Sa�de a partir de comunica��o de hospitais e postos de atendimento. “A subnotifica��o � elevada. A quantidade de acidentes envolvendo trabalhadores, principalmente os menores, � muito maior do que se tem conhecimento”, afirma a m�dica e especialista em sa�de p�blica Maria Maeno, pesquisadora da Funda��o Jorge Duprat Figueiredo de Seguran�a e Medicina do Trabalho (Fundacentro).

Pelo menos 4.190 menores se acidentaram entre 2006 e julho de 2011, a maior parte no estado de S�o Paulo, entre os quais 21% s�o meninas. Desse total, 60% (2.487) acidentes foram identificados nos �ltimos dois anos e meio pelo Sistema de Informa��o de Agravos de Notifica��o (Sinan), implantado pelo Minist�rio da Sa�de em 2003 para acompanhar a ocorr�ncia de determinadas doen�as e acidentes. Na faixa de idade at� 13 anos, o Distrito Federal aparece em segundo lugar, com 18 menores acidentados. A partir dos 14 anos, Minas Gerais e Paran� seguem na lista dos estados com mais acidentes.

Vulner�veis

A pesquisadora chama a aten��o para uma realidade cruel: os menores que come�am a trabalhar cedo s�o os mais vulner�veis, mesmo quando adultos. “A partir dos 20 anos, espera-se que estejam na plenitude f�sica e ps�quica para trabalhar, mas carregam um desgaste t�o grande porque j� trabalham h� muito tempo, o que os torna mais prop�cios aos acidentes”, lamenta Maria Maeno. Para ela, o governo e a sociedade civil precisam se debru�ar com mais profundidade sobre o problema.

Ela lembra que 39% da popula��o ocupada come�a no batente antes dos 14 anos e 77%, entre 15 e 17 anos, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios (Pnad) de 2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). Segundo a pesquisadora, os menores s�o requisitados para trabalhar em lanchonetes, f�bricas de bijuterias, malas e bolsas, onde est�o sujeitas a cortes, queimaduras, tendinites e outras les�es por esfor�o repetitivo.