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Estado de Minas LOT�RICAS

Depois de quase 90 anos funcionando na Pra�a 7, casa de apostas deixa a Av. Afonso Pena

Pressionada por custos altos, fecha as portas e est� de mudan�a


postado em 04/12/2011 07:58

“Cansado de andar de tanga, um dia o homem se zanga e sai danado da vida. Mas logo cava um dinheiro, comprando um bilhete inteiro no Campe�o da Avenida.” � com os olhos rasos d’�gua e a voz embargada que Gil Ara�jo se lembra dos versos recitados pelo av� sobre o neg�cio que foi a alma da fam�lia Ara�jo Silva durante d�cadas. Foi, porque desde o dia 30 de outubro a casa lot�rica Campe�o da Avenida, h� quase 90 anos no mesmo endere�o – Avenida Afonso Pena, 602, na Pra�a Sete – n�o abriu mais as portas.

Antes de decretar o fim, a lot�rica, que j� foi ponto de encontro de pol�ticos e chegou a vender mais de 8 mil bilhetes por semana, viu o tempo �ureo se transformar em decad�ncia. “O problema foi financeiro. No ano passado, a receita l�quida foi de R$ 15 mil”, conta Odilon Dumont, que h� cerca de 10 anos comprou parte do neg�cio, tornando-se s�cio-propriet�rio da casa lot�rica. Associado ao baixo faturamento, o elevado pre�o dos alugu�is na regi�o ajudou a p�r um ponto final na hist�ria iniciada na d�cada de 1920, quando Belo Horizonte ainda era uma crian�a, com pouco mais de 20 anos de funda��o.
Com tr�s andares de loja, a Campe�o da Avenida foi minguando aos poucos, assim como o espa�o para atendimento aos clientes. A grande derrocada veio no fim de 2009, com a proibi��o dos bol�es e posteriormente o fim do conv�nio entre a Caixa Econ�mica Federal (CEF) – administradora das casas lot�ricas – e a Loteria Mineira. As duas atividades respondiam juntas por cerca de 50% do faturamento.

“J� v�nhamos em decl�nio, mas a crise foi agravada h� cerca de dois anos”, conta Dumont, que guarda uma hist�ria antiga com o Campe�o, iniciada em 1975 e que durou quase quatro anos, quando trabalhou lado a lado com um dos fundadores, seu xar� Odilon de Ara�jo Silva.
Gil lembra que o tio Odilon veio para Belo Horizonte no in�cio da d�cada de 20 para ajudar o irm�o, Lauro de Ara�jo Silva a tocar o pequeno neg�cio de venda de bilhetes que nascia dentro da farm�cia do av�. “Meu pai, o Lauro, veio para a capital para estudar. O av� dele tinha uma farm�cia ao lado de onde hoje � o Caf� Nice e ali ele come�ou a trabalhar engraxando sapatos”, conta.

Cliente habitual, Mariano Raggio, na �poca a figura que explorava a venda de bilhetes da Loteria Federal no estado, viu no adolescente Lauro um grande empreendedor. “Ele ent�o come�ou a mandar bilhetes para que meu pai os vendesse”, relata Gil. O que era apenas um complemento � atividade principal de engraxate se tornou o carro-chefe de Lauro, que logo aproveitou o com�rcio do av� para montar um balc�o dentro da farm�cia.

Recordista “Ali come�ou a nascer o Campe�o de Avenida. Foi quando meu tio veio de Pitangui, assim como meu pai havia feito anos antes, para poderem trabalhar juntos”, lembra. Foi em 1925, pouco tempo depois da morte do av�, que a fachada da farm�cia deu lugar definitivamente ao que viria a ser a maior lot�rica do estado. Logo foi aberta a filial na Pra�a 7, que resistiria durante quase 90 anos. O fundador, Lauro, morreu com 70 anos e pouco tempo depois foi a vez do irm�o. Nesse meio-tempo, Gil assumiu os neg�cios da fam�lia ao lado do tio. Ele lembra com nostalgia do movimento dentro do campe�o e dos “causos” da �poca. “S� o Campe�o vendia 10% de todos os bilhetes do estado na d�cada de 1970. J� chegamos a vender 100 mil apostas em uma semana”, lembra. “Sem contar que entramos no livro dos recordes como a �nica casa lot�rica onde j� foram vendidos os cinco maiores pr�mios da Loteria Federal”, acrescenta.

O resultado dos jogos era anunciado � giz em um quadro negro que ficava dependurado na fachada da loja. “Uma vez, o funcion�rio colocou que o n�mero premiado era 0257. Uma senhora veio mostrar a sua lasca (uma tira de jogo) com o n�mero 00257 chateada porque n�o tinha ganhado”, conta. “Olhei e vi que ele havia cometido um erro e o n�mero dela foi sorteado, mas fiquei sem jeito de falar com medo da rea��o que ela teria”, sorri imaginando que a senhora poderia ter um piripaque. O jeito foi contar, e Gil fala aliviado que tudo deu certo e ela saiu comemorando o pr�mio.

Ainda no ramo, ele mostra o quadro na porta da lot�rica Sempre Campe�o. Nele � poss�vel identificar a veia po�tica passada pelo av� que ainda resiste ao tempo. “Nosso neg�cio: vender sonhos. Nossa miss�o: vender jogos lot�ricos para manter viva a sua esperan�a a cada sorteio.”

Chances reduzidas de ganhos

Os altos custos, especialmente com a escalada dos pre�os dos alugu�is, associados aos baixos rendimentos provenientes dos produtos dispon�veis atualmente, est�o entre as principais reclama��es dos lot�ricos que n�o veem futuro para o neg�cio. Sem contar a concorr�ncia acirrada no mercado belo-horizontino. “Atualmente s�o 9 mil habitantes por casa lot�rica em BH, quando o ideal � que essa rela��o fique entre 15 mil a 20 mil por estabelecimento. E devem ser abertas novas licita��es”, antecipa o presidente do Sindicato dos Lot�ricos de Minas Gerais (Sincoemg), Marcelo Gomes de Ara�jo.
O reajuste das tarifas pagas por aposta, bilhete ou servi�o prestado pela lot�rica como correspondente banc�rio tamb�m desanima o setor. “Houve reajuste este ano. O acordo era de chegar a R$ 0,37 por conta paga. Mas no fim, a Caixa destinou apenas R$ 0,35”, afirma Marcelo. Segundo c�lculos do setor, h� 10 anos, esse valor era de R$ 0,21, eleva��o que est� muito aqu�m da alta da infla��o no per�odo.

Em semin�rio do setor, realizado em 19 de novembro, que reuniu em Belo Horizonte cerca de 150 representantes dos lot�ricos de todo o Brasil, foram definidos os valores ideais para remunera��o do empres�rio. Somente para pagamento do sal�rio dos empregados, a tarifa deveria chegar a R$ 0,51. “Durante o per�odo de 10 anos, o percentual de reajuste do sal�rio dos lot�ricos foi de 133%, das passagens de �nibus, de 184% e o do sal�rio m�nimo, de 202%”, calculou Marco Ant�nio Kalikowski, vice-presidente do Sindicato dos Lot�ricos do Rio Grande do Sul (Sincoergs). Ex-propriet�rio de 26 loterias, Odilon Dumont, s�cio do Campe�o da Avenida, sentiu na pele essas altas de custos e reduziu o n�mero de estabelecimentos para 10, em 11 anos. Procurada por meio da assessoria de imprensa, a Caixa n�o se manifestou quanto � corre��o das tarifas pagas aos lot�ricos ou �s dificuldades enfrentadas pelo setor.

Investimento Os custos para se garantir a concess�o de uma lot�rica pela Caixa giram em torno de R$ 250 mil. A esse valor se soma a montagem da loja e aluguel do ponto, que podem elevar os gastos para uma m�dia de R$ 400 mil. Retorno financeiro que, segundo c�lculos dos empres�rios, pode demorar cerca de seis anos para ser alcan�ado j� que uma loja gera por volta de R$ 5 mil de lucro l�quido ao m�s. Em franquias de alimenta��o, por exemplo, o neg�cio se paga com 18 a 24 meses de funcionamento. (PT)


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