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Estado de Minas

Cacha�a mineira � acusada de pl�gio por fabricante de u�sque

Fabricantes da Jo�o Andante s�o acusados de plagiar a marca Johnnie Walke


postado em 04/12/2011 08:50 / atualizado em 04/12/2011 10:13

(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press. Brasil. Belo Horizonte )
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press. Brasil. Belo Horizonte )


De um lado, 200 garrafas vendidas por m�s no boca a boca; de outro, cinco por segundo nas prateleiras de supermercados e lojas especializadas do Jap�o ao Brasil. Uma � cacha�a tipicamente mineira e o outro o u�sque mais famoso do mundo. Um tem a��o na Bolsa de Nova Iorque e outra funciona num quartinho improvisado da casa de um dos s�cios. As diferen�as s�o in�meras, mas ainda assim a gigante Diageo, holding detentora do u�sque Johnnie Walker e outras dezenas de bebidas famosas, entrou com a��o no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) pedindo que seja cancelada a certifica��o de um produto mineiro: a cacha�a Jo�o Andante. A multinacional acusa jovens empres�rios mineiros de terem plagiado o nome e a marca do destilado escoc�s na cria��o da pinga, que seria uma tradu��o livre de Johnnie Walker.
O imbr�glio envolvendo a aguardente e o u�sque iniciou-se em 7 de fevereiro, no �ltimo dos 180 dias previstos para que fossem apresentados recursos contra a certifica��o do produto mineiro. �s v�speras do fim do prazo de contesta��o, representantes da holding no Brasil encaminharam notifica��o extrajudicial dando cinco dias para que o grupo de mineiros retirasse o pedido de certifica��o. O documento deixou os irm�os Gabriel e Mateus Lana, o primo Rafael Vidigal e o amigo Gabriel Moreira, s�cios e criadores da cacha�a, com os cabelos em p�. “Qual o porqu� de tamanha amea�a?”, questionaram-se, uma vez que o produto j� havia sido registrado no Inpi, em 2008, e, dessa vez, o processo era apenas para revis�o da marca.

Na pe�a judicial, o escrit�rio que defende a Diageo no Brasil apresenta como argumento a hist�ria de quase dois s�culos do u�sque, as supostas semelhan�as entre as duas marcas e duas cita��es da internet que associam o produto mineiro ao destilado escoc�s. A primeira diz que Jo�o Andante seria um primo de Johnnie Walker que veio para o Brasil durante a 1ª Guerra Mundial e, impedido de fabricar u�sque diante da falta de mat�ria-prima, resolveu fabricar cacha�a. A segunda mostra uma foto de um comprador da pinga com a garrafa em m�os e a seguinte frase: “Jo�o Andante, a original! Se cuida Johnnie Walker” (sic). E acusa de m�-f� os criadores da cacha�a: “(…) a marca atacada padece do requisito da distintividade, sendo certo que, na mente do consumidor, a lembran�a do signo da suplicante confunde-se com o sinal da suplicada. Resta evidente o intuito da suplicada de ficar � sombra da marca suplicante, tentando usurpar para si a clientela, como fazem todos os mal-intencionados”, diz a peti��o.

Os s�cios se defendem das acusa��es dizendo que n�o copiaram a marca da Johnnie Walker e apenas “inspiraram-se” no produto. Numa a��o despretensiosa de jovens muito bem preparados, a cacha�a foi inventada quando tr�s dos amigos ainda estudavam na Escola T�cnica de Forma��o Gerencial do Sebrae, em 2003. Adolescentes, aos 15 anos, numa conversa de corredor, meses antes de um deles viajar para interc�mbio na �frica do Sul, um dos amigos disse que um dia fabricaria a pinga Jo�o Andante. O nome chamou aten��o e, ao retornar do per�odo no exterior, a surpresa: os amigos entraram com pedido de patente do produto. “Pedimos uns R$ 600 emprestado para o meu pai e corremos atr�s do registro”, afirma Gabriel Lana, que, inclusive, transformou o produto em tema do trabalho de conclus�o de curso do Sebrae.
E tem mais: na avalia��o dos jovens empres�rios, o pl�gio se caracterizaria por gerar confus�o entre os consumidores. “Se fosse uma c�pia, ter�amos uma caixa quadrada e vermelha. Mas n�o. A nossa � marrom e redonda. Eles est�o subestimando a intelig�ncia do consumidor. Voc� acha que algu�m vai confundir um u�sque com uma cacha�a?”, criticam os quatro, tr�s deles hoje com 25 anos, reiterando que as duas bebidas nem mesmo dividem as prateleiras, pois, por enquanto, a venda da pinga � feita exclusivamente para amigos.

A justificativa para que a marca seja contestada, segundo os jovens, pode extrapolar o pl�gio. Em pesquisa na internet, eles descobriram que h� dois anos a Diageo comprou a pinga Nega Ful� com o objetivo de investir na cultura local e, com isso, a tentativa seria de proteger outra marca do grupo. O Estado de Minas entrou em contato com a assessoria de imprensa da Diageo no Brasil, mas n�o teve retorno at� o fechamento da edi��o.

Sucesso al�m do previsto

Apesar de esfor�o quixotesco para produ��o e registro da marca, a primeira garrafa de Jo�o Andante s� foi armazenada h� tr�s anos. Como a inten��o nunca foi produzir a branquinha, os criadores foram para Presidente Bernardes, na Zona da Mata, selecionar um entre os mais de 40 alambiques da regi�o. E a escolha foi por um produtor que tinha um barril de carvalho do s�culo 19, o que garantia o tom mel do l�quido.
Mas, sem nunca ter tido dedica��o integral dos s�cios, provavelmente o sucesso da Jo�o Andante n�o era esperado pelos jovens. Seis meses depois do primeiro engarrafamento, para comprar era preciso fazer fila e encomendar com tr�s meses de anteced�ncia – ainda assim correndo o risco de ficar sem o pedido. E um problema: n�o tinha como encontrar outro barril semelhante para manter o padr�o e aumentar a produ��o. “Pensa s�: somos quatro s�cios. Se cada um vende 50 garrafas por m�s, a remessa esgota-se”, afirma Gabriel Lana.

Em agosto do ano passado, atendendo pedidos e vislumbrando sucesso, os amigos decidiram fazer Jo�o andar um pouco mais r�pido. Um segundo alambique foi selecionado, permitindo a produ��o de dois tipos de cacha�a. Dessa vez, em Passa Quatro, no Sul de Minas. Mantendo o padr�o artesanal, a diferen�a era que a estrutura do novo produtor permitia fabricar at� 4 mil garrafas/m�s, com certifica��o de org�nica. As novas unidades devem come�ar a ser vendidas no Natal, quando deve ser inaugurado o site www.joaoandante.com.br, por onde ser�o feitos os pedidos de compra.
Hoje, uma cacha�a da marca custa R$ 40. Mesmo com a expans�o da produ��o, suas vendas ainda ficar�o longe dos 150 milh�es de garrafas do u�sque que s�o vendidas em mais de 200 pa�ses. E vale lembrar que o sucesso da Jo�o Andante ainda depende de dois requisitos: a manuten��o do padr�o de qualidade com o novo alambique e o ganho de causa no processo de certifica��o. (PRF)

Conceito complexo

A inspira��o para a cria��o da marca Jo�o Andante n�o se restringe ao u�sque. Durante a conceitua��o, feita em parceria com a ag�ncia j�nior de comunica��o da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cria , foram listados alguns �cones para a concep��o. A ideia era associar a pinga a um personagem com caracter�sticas de um sertanejo e de um caxeiro-viajante. Assim, escolheram o Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, e o lend�rio andarilho Juquinha, que at� ganhou est�tua na Serra do Cip�. Al�m disso, foi usado o quadro Dom Quixote (1955), cria��o de Pablo Picasso. Do primeiro, foi usada a tipografia para compor o nome do produto; o segundo serviu como pano de fundo para a composi��o conceitual, enquanto, de Picasso, foi extra�da a cabe�a da imagem para compor o boneco da marca. Consta tamb�m no argumento dos mineiros que o nome da pinga n�o seria uma tradu��o literal do u�sque, como consta na peti��o. Walker � do sobrenome da fam�lia criadora do destilado no s�culo 19, enquanto Andante seria uma refer�ncia a um andarilho errante. E, claro, a tradu��o de Johnnie seria Jo�ozinho e n�o Jo�o, escolhido tamb�m por ser um dos nomes mais populares do Brasil.


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