De patrim�nio cultura imaterial ao risco de extin��o. S�mbolo da gastronomia mineira, o queijo artesanal produzido h� s�culos no interior do estado caminhava rumo ao desaparecimento, deixando para tr�s um “gostim danado de bom”. O problema era t�o s�rio que foi at� retratado pelas lentes do cineasta Helv�cio Ratton no filme O mineiro e o queijo. Mas eis que, numa reviravolta sonhada e batalhada pelos produtores de S�o Roque de Minas, o Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento (Mapa) publicou uma instru��o normativa no Di�rio Oficial da Uni�o (DOU) com crit�rios bem mais flex�veis para comercializa��o do queijo artesanal, possibilitando, inclusive, a venda do produto fresco para outros estados e at� mesmo para o exterior.
Al�m disso, comit�s t�cnico-cient�ficos designados pelo Mapa devem analisar os produtos. “Essa medida � como se tivesse sido assinada a Lei �urea do queijo canastra”, afirma o presidente da Cooperativa S�o Roque de Minas Cr�dito (Samrocredi), Jo�o Carlos Leite, em alus�o � lei assinada, em 1888, pela Princesa Isabel, para liberta��o dos escravos. Ele adverte que todas precau��es j� eram tomadas e que, por isso, n�o ser� dif�cil comprovar que o queijo frescal est� livre de doen�as, inclusive quando produzido com leite cru.
Diante da obrigatoriedade de atender aos duros requisitos definidos pelo governo federal, o produto chegou a correr o risco de desaparecer. Isso porque muitos fazendeiros estavam priorizando a produ��o de leite no lugar da de queijo artesanal, por ter se tornado, em alguns casos, at� duas vezes mais rent�vel. “O ideal � vend�-lo depois de tr�s ou quatro dias de fabrica��o para que ele ganhe forma definitiva, mas n�o h� problemas sanit�rios”, diz Jo�o Carlos.
Controle
De acordo com o artigo 3º da norma, o leite cru usado na produ��o do queijo ser� analisado mensalmente em laborat�rio da Rede Brasileira do Leite para composi��o centesimal, contagem de c�lulas som�ticas e contagem bacteriana para detec��o de mastite cl�nica e subcl�nica periodicamente. A propriedade rural tamb�m deve estar em dia com as normas do Programa de Boas Pr�ticas de Ordenha e de Fabrica��o, incluindo o controle dos operadores, controle de pragas e transporte adequado do produto at� o entreposto. Al�m disso, a instru��o normativa diz que a propriedade deve fazer clora��o e controle de potabilidade da �gua usada nas etapas do processo de produ��o.
Portas abertas
N�o bastasse a libera��o do com�rcio de queijo artesanal fresco para os outros estados brasileiros, a instru��o normativa prev� inclusive a exporta��o, ressaltando que “para efeito de com�rcio internacional dever�o ser atendidos os requisitos sanit�rios espec�ficos do pa�s importador”, diz a publica��o do DOU. Surpreso com o artigo da instru��o normativa, o presidente da Cooperativa S�o Roque de Minas Cr�dito (Samrocredi), Jo�o Carlos Leite, afirma que agora � preciso uni�o dos produtores para defini��o de uma pauta comum capaz de alavancar a produ��o artesanal de S�o Roque de Minas. “A regulamenta��o � o primeiro e mais importante passo. Mas agora � preciso evoluir para caminharmos com os pr�prios p�s. Temos que discutir quest�es intr�nsecas aos produtores. Entre outros, podemos demandar recursos p�blicos para pesquisa cient�fica aprofundada sobre o queijo”, afirma.
Obst�culos colocaram produ��o sob risco
A partir de meados da d�cada de 1990, produtores rurais de S�o Roque de Minas, cidade situada nas encostas da Serra da Canastra, iniciaram uma campanha de migra��o da produ��o do tradicional queijo minas para o leite e at� para o caf�. Em busca de maior rentabilidade, mais da metade dos produtores abandonaram suas queijarias e a previs�o era de que o processo cont�nuo acarretasse no risco de extin��o do queijo artesanal. Com as novas regras do Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento (Mapa), no entanto, a tend�ncia � que o sabor da Canastra, do Serro e de tradicionais regi�es queijeiras invada os quatro cantos do pa�s.
A mudan�a de segmento era reflexo do custo para fabrica��o e da margem de lucro de cada um dos produtos. Enquanto o queijo canastra precisa de 10 litros de leite – al�m de m�o de obra e insumos – para ser produzido, sendo vendido, em m�dia, a R$ 7,50, a mesma quantidade de leite pode ser faturada a R$ 9,50, garantindo retorno bem maior. Al�m disso, o tempo de preparo era tido como ponto contr�rio para a cadeia queijeira. “Muitos n�o tiveram op��o. � quest�o de sobreviv�ncia”, afirma o presidente da Cooperativa S�o Roque de Minas Cr�dito (Samrocredi), Jo�o Carlos Leite, reiterando que a maior parte dos produtores � de pequeno porte e tem o leite como principal fonte de sustento familiar.