A �nfase do governo em sustentar por todos os meios uma taxa de crescimento da economia de 4,5% a 5% em 2012, meta do ministro Guido Mantega que a presidente Dilma Rousseff avalizou na sexta-feira, ao receber os jornalistas lotados no Pal�cio do Planalto, sinaliza a continuidade da politica econ�mica que vem do governo Lula, focada mais na expans�o do consumo que do investimento.
Sem derrocada do euro ou um pouso abrupto da economia da China, tais progn�sticos devem se cumprir, embora, por ora, o consenso entre economistas e empres�rios leve a um cen�rio mais discreto para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), com o ritmo de crescimento vindo de algo como 3% este ano para 3,5% a 4%.
Nestas simula��es, a infla��o n�o volta � meta central de 4,5%, mas ficaria abaixo do teto do intervalo de varia��o, 6,5%, que � o resultado mais prov�vel para este ano. A deprecia��o cambial, portanto, estaria descartada, com o real forte voltando a apoiar o Banco Central contra a infla��o. A taxa mais ouvida � R$ 1,75.
Em contrapartida, a Selic pode continuar desinflando, estando ambos os movimentos, juros e c�mbio, sintonizados com a retomada do crescimento pelo consumo – fun��o de cr�dito f�cil e de renda dispon�vel e emprego, no m�nimo, mantidos nos patamares atuais.
O real depreciado, nestes termos, afronta a elevada avalia��o que a presidente continua a receber, conforme a �ltima pesquisa do Ibope, e nada indica que queira contradit�-la. Ao contr�rio.
O resultado final em 2012, baseado em tais pressupostos, dever� ser a volta do que os economistas do Morgan Stanley batizaram de “descompasso do crescimento” – a demanda dom�stica relativamente aquecida em contraponto �s dificuldades da ind�stria. A taxa de c�mbio apreciada em rela��o aos custos de produ��o (de impostos a sal�rios, dos servi�os de infraestrutura ineficientes e caros � burocracia regulat�ria) rasga uma avenida para as importa��es.
A economia com tal direcionamento leva a tr�s resultados. Para Dilma, o PT e os partidos da base aliada, permite contar com os votos da percep��o de bem-estar pelo eleitor, quest�o-chave nas elei��es municipais marcadas para outubro. Para os analistas do mercado financeiro, projeta a expectativa de repique da Selic no fim de 2012. Para economistas atentos aos ciclos do crescimento, ampliam-se o risco de que aumente a depend�ncia das commodities e do vi�s de enfraquecimento da ind�stria de manufaturados.
Qualidade do crescimento
O cen�rio de ind�stria para baixo e demanda para cima � como o v�cio: prazeroso em tempo real, mas deixa sequelas para o resto da vida. � por isso que o economista Arthur Carvalho, do Morgan Stanley, diz que “a qualidade do crescimento � mais importante que a manchete sobre o n�mero de 3,5% de crescimento do PIB”, a sua primeira proje��o para 2012. De linha desenvolvimentista, o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), J�lio Gomes de Almeida, reflete no mesmo tom.
“Mais importante do que o quantitativo do desempenho econ�mico � a estrutura desse crescimento”, diz Julinho, como � conhecido.
Colhe-se o que se planta
Almeida fez um exerc�cio interessante: comparou o crescimento do PIB no terceiro trimestre com seu equivalente em 2008. De l� para c�, o PIB cresceu 7,8%. Superou o per�odo mais cr�tico, ele avalia, mas cresceu menos que os emergentes, como China e �ndia.
E isso por qu�? Porque, ao contr�rio do padr�o asi�tico, aqui o consumo de fam�lias, que cresceu 14,2% nestes tr�s anos, puxou a expans�o do PIB, cabendo ao investimento, com aumento de 11,8%, papel subsidi�rio. Exporta��es, diz ele, apesar de “toda pujan�a do agroneg�cio e da minera��o”, cresceram 5,1%, “sucumbindo ao fraco aumento (+5,1%) das exporta��es de manufaturados”. J� as importa��es, “tamb�m manifestando a fr�gil competitividade da ind�stria”, tiveram acr�scimo “elevad�ssimo”, de 31,7%.
Pobre, com pinta de rico
O padr�o da economia movida a consumo n�o deve mudar, j� que o governo est� ansioso com o crescimento e fazendo assim pode ter resultado mais r�pido. “S� que uma economia que consome muito e tira da� o seu potencial de crescimento, al�m de investir apenas para o gasto”, como afirma Almeida, n�o est� se desenvolvendo. O que est� em curso, tamb�m devido � “din�mica exportadora modesta e restrita ao setor prim�rio, al�m de altamente importadora”, � a “desindustrializa��o precoce, com especializa��o em economia de servi�os”. Pa�ses ricos passam bem assim. N�o � o nosso caso.